segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A LAPINHA DE ALMÉRIO

Almério Silva ainda era adolescente quando viveu seus tempos de noviço franciscano, como tantos jovens nascidos na década de 1930. Era Frei Almério, da Ordem Franciscana Maior, os Frades de São Francisco, o idealizador do presépio na Idade Média, cuja ordem preserva o gosto pelos presépios em tempos natalinos.

Imagino que foi dessa experiência religiosa nas terras de Pernambuco que ele idealizou e seu presépio com milhares de peças. As casinhas que formam o cenário da natividade lembram-me os morros e subúrbios das cidades pernambucanas trepadas nas barreiras.

Montada na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, aos fundos da Expectação, por muito tempo a Lapinha de Almério foi única da igreja do Icó. Só na década de 1980 foi adquirido pela prefeitura um presépio em tamanho natural – e por sua idealização – que compunha o arco em frente ao Palácio da Alforria e hoje pertence à paróquia.

São miniaturas de santos e outras figuras de todos os tamanhos, gostos e épocas. Dezenas de bonecas de plástico vestidas de anjos, outra quantidade de camelos, bibelôs, muitos reis magos, carneiros e tantos outros bichos e personagens que foram doados para tal intento.

Ali não há compromisso propriamente estético, há o compromisso com o nascimento de uma única criança.

Não são apenas três reis magos. Está correta esta releitura, pois foi a tradição dos padres da igreja, amparado em evangelhos apócrifos que delimitou a três reis magos, pois eram sábios do oriente para ver o Messias recém-nascido e que seguiram uma estrela em busca da uma criança.

O menino é desproporcional às figuras de seus pais, Maria e José, com o significado de sua dimensão sobre a humanidade.

A Lapinha de Almério, no meio da profusão de cores e imagens traz uma mensagem teológica muito profunda: O nascimento de Jesus meio ao mundo e as profecias dessa centralidade cristológica. 

Todavia, pelo cenário, que são réplicas em miniatura das casas antigas, o nascimento de Jesus se dá na periferia do Icó. E nisso há uma contextualização do nascimento de Jesus no meio dos pobres do aqui e do agora.

Mais do que um Patrimônio Imaterial do Icó - que deveria ser tombado - traduz uma bela mensagem para o nosso tempo tão comprometido com as aparências: Mesmo diferentes os homens e as mulheres de todo o mundo e de cada local, em particular, são iguais perante o Eterno.

Obs .Almério Silva nasceu em Icó em 1924. Foi funcionário do DNER. Formou-se em sua maturidade em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito de Sousa. Foi chefe de gabinete do Prefeito Aldo Monteiro.



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Um comentário:

ivc disse...

Poucos ,ou melhor,um só, (W.LUIZ), que tenho sempre acompanhado neste espaço, para trazer o Icó na raiz e no atual.Quantos lembrariam de Almério(poucos), e da lapinha?.
Almério eu conheci pessoalmente.
Como sempre,os seus ARTIGOS são de um escritor com conhecimentos, intelectualidade e sabedoria.

Meus parabens

José Ivan Cavalcante
jicaval@gmail.com.br