sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A RAPINA DOS BENS DO ALDEAMENTO DA IBIAPABA NO SÉCULO VIII, NO ALDEAMENTO DA IBIAPABA..

A expulsão dos Jesuítas do Brasil em 1759, foi caso pensado e repensado. Antes de tomada a decisão, ou melhor com a decisão já tomada o governador de Pernambuco, em maio de 1859, chamou a Recife o chefe de todos os índios da Ibiapaba, e já haviam combinado o desfecho final e o rateio do patrimônio acumulado.

Foi um fato escandaloso. Os inacianos foram caluniados pela coroa e seus emissários por todas as formas. Chamados abertamente de ladrões, corruptos, traidores do rei.

Por trás dessa expulsão tinham interesses os mais diversos, que se imbricavam uns sobre os outros que é impossível apresentá-los com exatidão.

De um lado os objetivos do Marques de Pombal, um déspota esclarecido que desejava tirar da sua frente todo e qualquer empecilho religioso que atrapalhasse seus planos de modernidade e desenvolvimento e os jesuítas, papista e frutos da contra-reforma católica eram o que – na visão de Sebastião de Carvalho e Melo tinha de mais atrasado.

Na visão de Pombal toda a obra dos padres, por mais nobre que fosse, era um desserviço à coroa portuguesa, pois o modelo de homem produzido pelos padres era tudo o que Pombal não desejava. Nesse ponto Pombal tinha razão o protótipo do ser humano produzido pelos inacianos era um ser amorfo e medieval, obediente e servil. Porém entre as “boas intenções” de Pombal e a realidade brasileira, nessas terras de mato e bicho havia um enorme abismo!

Cadeira que teria sido usada para transportar o padre Antonio Vieira nos lombos dos índios, pertencia à Matriz de Viçosa, desde 1952 encontra-se no Museu Dom José de Sobral

Cá no Brasil os interesses eram outros, menos ideológicos e mais econômicos. O grande patrimônio acumulado pelos jesuítas, fruto do trabalho dos índios, despertava grande cobiça dos brancos da terra. Vamos tomar tudo desses padres velhacos, pensavam certamente os homens de negócio que por aqui viviam.

Os padres eram um duplo obstáculo para os homens da terra.

Na mentalidade da época não havia “comunhão” entre as ordens e congregações religiosas. Cada organização religiosa agia de forma independente , eram na realidade “Companhias”: Companhia de Jesus, algo assim parecido com as muti nacionais e suas filiais. Assim o bispo de Olinda dom Frei Francisco Xavier Aranha (1757 - 1771), a quem os territórios ibiapabanos estariam jurisdicionados estava privado desses territórios e suas rendas. Os Jesuítas, portanto, longe de serem difusores do Evangelho de Cristo, eram uma pedra no sapato para os planos do ordinário diocesano pernambucano, pois privada da jurisdição dos grandes territórios administrados pelos jesuítas as rendas desses territórios não caiam nos cofres da diocese, com a expulsão dos jesuítas tudo se reverteria em favor de Olinda.

Para os colonizadores os jesuítas “acoitavam” em suas missões grandes quantidades de mão de obra, inclusive “índios preguiçosos” que fugiam de suas terras para viverem sob a proteção dos padres. Essa mão de obra nativa era cobiçada pelos coroa e pelos colonos, em suas mãos ela teria muita serventia, deste a utilização nos engenhos de cana de açúcar, na criação de gado - em expansão nesse momento histórico e ainda na construção de obras públicas e privadas.

Para o traficante de escravos índios "amansados" era uma mina.

Daí o grande “ódio” aos Jesuítas!

Os inimigos dos jesuítas bem sabiam que sem ajuda dos índios dificilmente os padres poderiam ser expulsos. Daí a medida imediata era inculcar nos chefes indígenas o desejo e a ambição pelos bens coletivos, dificilmente os jesuítas sairiam de forma pacífica como o fizeram, de forma que foram os chefes indígenas, homens de confiança dos jesuítas que operacionalizaram o desfecho final dos padres.

No caso específico da expulsão dos territórios ibiapabanos, onde os jesuítas estabeleceram-se a partir do século XVII, a tomada de poder foi elaborada com muita meticulosidade, inclusive pesquisas atuais nos dão conta que em 29 de maio de 1759, o principal dos índios na ibiapaba, seja, D. Felipe de Sousa e Castro, já com o título de mestre-de-campo da Serra da Ibiapaba, é recebido em Recife pelo Governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da Silva, conforme nos narra um ofício do dito governador ao secretário de estado de ultra mar, Tomé Joaquim da Costa Real, informando que os principais das aldeias reduzidas em vilas, estiveram em sua companhia para tomarem as instruções devidas, senão vejamos:

“Convidei a d. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo da Serra da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real pra jantar comigo, tanto por ser o principal chefe a quem sete ou oito mil almas domina, respeitam com inteira obediência, como por se achar condecorado com o hábito de S. Tiago (...)”

Podemos verificar a importância de D. Felipe de Sousa nesse interregno da expulsão dos jesuítas, e a conseqüentemente a presença do índio, na administração do Brasil Colonial, quando nos deparamos com a ata de eleição da Câmara de Villa Viçosa, onde o mesmo sendo o primeiro de uma lista de sete homens (índios também), já é designado de Juiz Ordinário, e sem nenhum escrúpulo e lealdade aos padres assume nova função e ainda faz parte do grupo da rapinagem – fato que nos faz lembrar os mesmos fatos que acontecem nos dias atuais, nos troca-troca de partidos políticos e nas infidelidades e falsidades tão comuns.

A expulsão dos jesuítas, mais do que um fato religioso foi um fato político e marcou a formação da elite viçosense do setecentos. Assim, no longínquo ano de 1759, sob o signo da apropriação dos bens coletivos as bases da sociedade elites que dominariam a Ibiapaba (e Viçosa) por séculos e derem origem as aristocracias que governaram a vila e o município e monopolizaram os bens, particularmente as terras.

A antiga elite promotora da rapinagem dos bens dos índios e dos jesuítas era formada por índios captados pela coroa, traidores de seus irmãos, como por exemplo dom Felipe de Sousa Castro, mestre de campo, que fora agraciado com a Ordem de Santiago, padres corruptos vinculados à Diocese de Olinda a qual pertenceria à futura freguesia e paróquia de Nossa Senhora da Assunção, militares mercenários e desalmados.

Os resquícios daquelas antigas práticas de rapinagem hoje ainda florescem na ideologia das novas gerações descomprometidas com o social e com o coletivo e que se sucedem no mundo dos vivos.

De forma detalhada, coisa rara na historia do Brasil, consta em vários documentos históricos a relação do patrimônio dos Jesuítas no Aldeamento da Ibiapaba, relacionando pormenorizadamente as terras e os víveres nelas contidos, vejamos: Fazenda Tiáia, com quatro léguas de terras em quadro, quatrocentos e cinqüenta cabeças de gado vacum, 27 cavalos, um escravo angolano chamado José e uma cadela rajada amestrada na captura de onças; Fazenda Umbuzeiro, com três léguas, adquiridas por compra pelo padre Francisco de Lira, Fazenda Missão, com três léguas, que foram doadas pelos irmãos Manuel e Miguel Machado Freire; Fazenda Pitinga, com duas léguas, aquisição do padre Francisco de Lira e outras doações e aquisições em operações de compra e venda junto ao reduto da Ibiapaba. Essas terras, somente na Fazenda Tiáia, totalizavam doze léguas em quadro, todas destinadas às atividades agropastoris e com muitos e densos carnaubais.

Em 1759, quando foi decretada pela Coroa Portuguesa a expulsão dos jesuítas, os bens arrolados consistiam de: 1) Na Fazenda Tiáia -720 vacas de cria, 290 bois, dezoito éguas, 44 cavalos. 2) - Na Fazenda Umbuzeiro - 1.240 vacas de cria, 321 bois, 15 éguas, 16 cavalos, 33 cabras, 40 chibatos (bodes) - 3) - Fazenda Missão - 1.435 vacas de cria, 445 bois, 134 éguas, 43 cavalos, 50 cabras e 37 . 4) - Fazenda Pitinga - 238 vacas de cria. Resumindo tudo a termos práticos, teremos: a) - 4.709 cabeças de gado vacum; b) - 270 cavalos e éguas; c) - 150 cabras e chibatos, o que daria em valores atualizados, só em cabeças de gado vacum, considerando o valor de R$ 1.500,00 por cabeça a bagatela de mais de R$ 7.000.000,00 (sete mihões de reais): Esse era o tesouro dos Jesuítas, e não ouro que teria sido enterrado no piso da matriz, como se fez divulgar posteriormente e que provocou uma corrida em torno de botijas! http://mfrural.com.br/produtos.asp?categoria3=518&nmop=Animais-Bovinos-de-Leite-Gir-Leiteiro

Esses bens foram rateados entre vários elementos que foram o braço operacional da expulsão dos jesuítas, Juízes, índios mestres-de campo, padres diocesanos. Ou seja o tesouro dos bens jesuíticos, que na verdade eram os bens dos índios reduzidos, foram confiscados de forma imoral por uns poucos, ou de forma mais precisa:

Para nossa Senhora da Assunção: 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos;
Para o vigário Padre Luís do Rego Barros - 52 vacas, 6 bois, 25 éguas, 3 cavalos e 10 chibatos;
Para dois padres coadjutores Pe José Machado Freire e Francisco Ferreira da Silva: 80 vacas, 12 dois, 40 éguas e 6 cavalos;
Ao Diretor dos índios Diogo Roiz Correia: 8 bois, 2 éguas, 2 cavalos;
Para o Mestre de Campo dom Felipe de Sousa Castro (que era um índio): 80 vacas, 10 éguas e 3 cavalos;
Para os três Capitães-Mores: 72 vacas, 15 éguas e 6 cavalos;
Para o Sargenro-Mor Antonio da Rocha Franco: 16 vacas, 4 éguas e 1 cavalo;
Para os 15 Capitães: 180 vacas, 30 éguas e 15 cavalos; Para 2 ajudantes e um tenente: 24 vacas, 3 éguas;
Para os dezoito Alferes: 108 vacas, 18 cavalos;
Para 18 Sargentos: 36 vacas.

Aos olhos de hoje isso pode parecer pouco, diante do desenvolvimento agropecuário da atualidade, mas naqueles idos tempos isso era um grande patrimônio. Note-se que até uma cadela vira-lata era elencada nos bens ao lado de um escravo.

Nessa rapinagem os donos do patrimônio coletivo – os índios - não herdaram absolutamente nada, somente a miséria, o desamparo e a escravidão para aquele senhores recém-criados. As terras igualmente foram divididas na mesma proporção somente a Fazenda Tiáia foi adjudicada à Coroa portuguesa.

Há indícios – a historiografia oficial não registra – que muitos índios moradores da redução foram escravizados ou vendidos, em forma de contrabando para outras localidades, mulheres e crianças foram seviciadas e muitos fugiram diante das arbitrariedades dos novos poderosos, sem terem a quem recorrer nessas terras da injustiça.

E nossa Senhora da Assunção, com suas 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos e algumas léguas de terra, permaneceu do alto de seu trono, por já 401 anos, impávida, calada... quando os seus filhos, lá em baixo, espoliados, cantam-lhe ainda: “Virgem Santa da Assunção, Nossa Mãe e Padroeira. Dá-nos vossa proteção, sede nossa vanguardeira”!

DONA VICTÓRIA RODRIGUES DA CÂMARA (Artigo genealógico)


‘‘Pedro da Rocha Franco foi casado com d. Vitória Rodrigues Câmara, que em 1787 ainda existia. Dizem que esta moça fora produto dos amores da filha de um principal da Ibiapaba (Dom Filipe), e fora criada no hospício dos padres jesuítas como enjeitada. Seu protetor, um dos padres, não querendo casá-la com os da terra (índios ou mestiços), foi a Portugal, donde trouxe-lhe Pedro da Rocha para esposo. O casamento de d. Vitória deve ter sido feito de 1715 a 1716. (....) Acreditável se torna o fato de Rocha Franco ter vindo de encomenda para casar com d. Vitória, pela crítica que inda hoje se faz aos antigos portugueses dali, dizendo-se que eles, no rol das mercadorias que pediam para Portugal, pediam igualmente noivos para casarem com as filhas.’’ ¹
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A história nos reserva surpresas. O silêncio dos séculos com seus véus nos encobre verdades, que estavam ali, bem ali, em baixo do nossos narizes, mas longe da nossa vista. É assim que surge Dona Victória Rodrigues da Câmara. que seria filha do padre Ascenço Gago, SJ (1665 - 1716) com uma filha de Dom Felipe de Sousa Castro. A matriarca de várias famílias que povoam a região norte do Ceará. Vários de nós deveríamos tomar a benção a essa mulher nascida no final do Século XVII, ela foi a nossa avó comum.
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Ascenço Gago. nasceu em São Paulo no ano de 1665. Ingressou na Companhia de Jesus, na Bahia, a 3 de julho de 1680, com 15 anos de idade, tendo morrido em 17 de maio de 1717, aos 51 anos, na Bahia, quando voltava da capitania do Ceará, já adoentado.
.Para cumprir a ordem régia expedida no sentido de por em prática a resolução de 1691, que relativa a administração dos “gentios”. Tal ordem retirava parte dos índios brasileiros reduzidos dos padres seculares e os punha sobre a autoridade de várias ordens e congregações, tais como Franciscanos, Capuchinhos, Carmelitas, Oratorianos e Jesuítas, dentre outros. Assim seguiram os missionários em direção às terras do Siará Grande, sendo designados para o Aldeamento da Ibiapaba, nas fronteiras da Província do Maranhão. Os jesuítas Ascenso Gago e Manoel Pedroso reiniciaram a Missão da Ibiapaba, abandonada em 1662. Além das questões “espirituais” Ascenço Gago viria a ser o implantador dos primeiros currais de gado no Piauí e norte do Ceará, na região do vale do lambedouro e quatiquaba. E recebera em Sesmaria as terras da Buhyra, próximo à ladeira do Rio Obary (Ubari), que mais tarde os seus descendentes habitariam.

Á época os principais líderes na região eram os índios Dom José de Sousa Castro, Cavaleiro da Ordem de São Tiago, com título recebido pelo Rei D. João V (1689/1750). Nomeado que foi em face “ao ardor militar excede o pio e católico, que lhe inflama o coração, sendo ao mesmo tempo capitão e catequista, igualmente vigilante e aumentar o Estado para o seu príncipe, como para estender o Império para Cristo” e seu filho dom Felipe de Sousa Castro, igualmente agraciado com o título de “Dom”. Esses homens lideravam mais de dez mil guerreiros, diz-se.

Assim, pois os padres Jesuítas achegaram-se à Ibiapaba e foram acolhidos pelos dois nobres índios, que em parte já eram cristianizados. À seu modo, mas eram.

“ No curso dos anos, entre 1605 e início de 1700, permaneceu na Ibiapaba o padre Manuel Pedroso Júnior. Ascenço Gago, transferido da sede da Capitania para o reduto ibiapabano (1705), resolveu deixar o seu colega onde já se encontrava e desceu em busca das terras agropastoris do sertão, onde deveria prover os meios de sustentação próprios dos nativos e da Companhia. Seria desenvolver, através do trabalho remunerado indígena (diária de um tostão), a pecuária e a agricultura, contando para tanto com as doações territoriais e as liberalidades beneméritas dos fazendeiros já estabelecidos”.

A tradição nos fez chegar até os dias atuais que uma das filhas 2 de dom Felipe de Sousa Castro ² teve uma relação com o padre Ascenço Gago, Muito provavelmente essa relação surgiu da grande hospitalidade indígena de oferecer aos hóspedes e visitantes as suas próprias mulheres e filhas. Recusar à oferta era ofensa grave aos indígenas! Se assim o foi, e somente as brumas do tempo são capazes de testemunhar, nascera a menina Victória. Que a história conhecerá como Victória Rodrigues da Câmara.
Conta-nos ainda a tradição, todavia com pistas já confirmadas pelos genealogistas atuais que Victória Rodrigues da Câmara, foi criada pelo padre Ascenço, alegando ser a mesma sua “sobrinha”. As estórias mais pias narram que “Vitória foi deixada na residência dos missionários jesuítas, como enjeitada. Criada sob os cuidados do padre Ascenso Gago, a menina adquiriu esmerada educação, fazendo-se moça fina e prendada. Quando chegou à idade de casar, o padre Ascenso Gago arranjou-lhe um noivo português. O rapaz chamava-se Pedro da Rocha Franco, que se tornaria Capitão-Mor da Comarca de Granja.
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Sobre essa história noticia-nos Serafim Leite, in História da Companhia de Jesus que houveram acusações contra o Padre Ascenço Gago: " Que o padre Ascenso Gago chegou adotar com doze ou quinze mil cruzados uma filha que casou, cujo dinheiro se ajuntou por meio dos índios que em seu serviço o ganharam, carregando sal para o Piauí a troco de vacas com que povoou vários sítios. Sabendo como a Companhia afasta inexoravelmente do seu seio quem por infelicidade prevarica nesta matéria, procuramos seriamente se a acusação teria algum fundamento. Achamos que o padre tinha na capitania do Ceará quatro sobrinhas. Di-lo uma carta do próprio padre, pedindo isenção para elas dos dízimos em terras que possuíam de sesmaria (Carta do padre Ascenso Gago, de 5 de março de 1702. Concederam-na em Lisboa, em 1704, por uma vida"
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Em Notícia Histórico-Corográfica da Comarca de Granja, pelo padre Vicente Martins, (Rev. do Inst. do Ceará, XXVI, 1912, 174): "O capitão-mor Pedro da Rocha Franco casou-se com uma moça educada pelo padre Ascenso Gago, de cujo casamento teve muitos filhos, os quais se estabeleceram em diversos pontos, a saber: Pedras de Fogo, Ibuaçu, Viçosa e outros. Mais uma vez a calúnia transformava em filhas as sobrinhas ou educandas. Nesta data já não existia o padre Ascenso Gago para pessoalmente desmentir ou castigar a calúnia. Tinha falecido a 17 de maio de 1717, no caminho, indo da Ibiapaba para a Bahia.’’ (3) Padre SERAFIM LEITE, obra citada, tomo III, págs. 68/69. A defesa do padre Vicente é um tanto falaciosa, pois esquecera-se dos inúmeros eclesiásticos, tais como os padres José Beviláqua (1844-1905), Felipe Benício Mariz (1780-1850), que deixaram numerosa prole em Viçosa e descendentes em Granja, devidamente reconhecidos e registrados como filhos e filhas, naturais ou legítimos, cujas relações amorosas eram conhecidas e aceitas pela sociedade de então.
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Fato é que dª Victória existiu e da qual nasceram vários filhos e filhas, dentre esses Ana Maria Rodrigues da Câmara, que viria a se casar com o português Antônio Ferreira Alvarenga, de cujo casal nasceu Genoveva Rodrigues da Câmara e ainda Clara Maria Rodrigues, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Genoveva Rodrigues da Câmara, que foi a primeira esposa de João Álvares Passos, 5ª avó do autor desse texto e da qual o seu avô ainda guardava referências, e a matriarca de todos os Vieira e Passos de ascendência em Viçosa do Ceará.
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Clara Maria Rodrigues, neta de Dª Victória, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Deste último casal foram: Ana Joaquina do Rosário, que casou-se com Guilherme Fontenele e Maria Antonia dos Santos, que casou com Plácido Fontenele.
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O primogênito de dª Victória, Antonio da Rocha Franco, que casou com Caetana Josefa Maria de Jesus, de onde procede dª Felicidade da Rocha Franco que casou-se com o coronel Antonio de Caldas Ferreira, com grande descendência em Viçosa.

Outros filhos e filhas de Victória e Pedro foram casadas e se estabeleceram nos sertões do Piauí, da Granja e distribuíram-se em várias sesmarias, particularmente no vale do Lambedouro, onde se desenvolveu a agropecuária bovina, naqueles vales férteis.
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Dê-me a tua benção, Vovó Victória!
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FONTES:
Revista do Instituto do Ceará,Por Instituto do Ceará,Publicado 1955, Observações do item: vol. 69
SIQUEIRA, José Otávio
Miranda, Vicente, Três Séculos de Caminhada. Teresina, 2001 534
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus.
Antônio Batista Fontenele, A Marcha do Tempo (os Fontenele
ANTÔNIO BATISTA FONTENELE, A Marcha do Tempo (os Fontenele), Imprensa
Oficial do Ceará, 1981, pág. 66.
J. HENRIQUE, O Capitão-mor Pedro da Rocha Franco, in ‘‘Revista do Instituto do
Ceará’’, vol. 36, 1922, págs. 392/393.
ARAÚJO, F. Sadoc de, Cronologia sobralense , Fortaleza : Gráfica Editorial Cearense. 1974.
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1. João Otávio de Siqueira. in Viçosa do Ceará - Notícias Esparsas;
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2. A filha pode significar uma familiar do Cacique, que certamente eram muitas e inclusive uma de suas próprias mulheres, uma vez que a bigamia não era proibida entre os indígenas, e inclusive esse foi um dos principais problemas encontrados pelos padres, que pregavam a castidade e da monogamia, o que nunca conseguiram.
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3. Pela idade cronológica suponho que o índio de quem descendia a mãe de Victória fosse dom José de Sousa Castro, uma vez que o filho Felippe de Sousa Castro ainda estará vivo e ativo e relativamente jovem (?), inclusive participando do governo da Villa Viçosa Real, em 1759. Em 1706, quando possivelmente Victória estaria com uns 15 ou 20 anos de idade (idade casadoura na ótica lusitana) e dom Felipe teria também a mesma idade de Victória. Daí presupor que Victória era irmã de d. Felipe e filha de d. José, esse contemporâneo do padre Ascenço Gago (1668), que no seu "ardor juvenil" a teria concebido. Porém se o casamento oconteceu em 1715/16 há toda a possibilidade da mesma ser filha de Felipe, hipótese que pode ser a mais real haja visto que em 1787 a mesma ainda existia, como afirma".
4. Constam como doações em Sesmaria lotes em nome de Ascenço Gago -Ibuaçu, Victória Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706 e Úrsula Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706.
O padre Ascenço, como bom pai não deixou suas "afilhadas" desamparadas .http://www.secrel.com.br/usuarios/aragao/granja.htm.
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Imagem meramente ilustrativa: Mulher Mameluca. Albert Eckhout, 1653.
TEXTO E PESQUISA DE WASHINGTON LUIZ PEIXOTO VIEIRA, COM DIREITOS AUTORAIS NA FORMA DA LEI Nº 9.610/98- SE COPIAR CITE A FONTE

VIÇOSA DO CEARÁ - 250 ANOS DA EXPULSÃO DOS JEÚÍTAS E CRIAÇÃO DA VILA VIÇOSA REAL, O ALDEAMENTO DA IBIAPABA,


Em 07 de Julho de 1959 a Companhia de Jesus foi expulsa do Aldeamento da Ibiapaba e nesse mesmo dia foi ereta a Villa Viçosa Real da Améria, com a construção do Pelourinho, de onde foi anunciado a nova forma de poder.

A expulsão dos Jesuítas do Brasil, foi caso pensado e repensado. Antes de tomada a decisão, ou melhor com a decisão já tomada o governador de Pernambuco, em maio de 1859, chamou a Recife o chefe de todos os índios da Ibiapaba, e já haviam combinado o desfecho final e o rateio do patrimônio acumulado.Foi um fato escandaloso. Os inacianos foram caluniados pela coroa e seus emissários por todas as formas.

Chamados abertamente de ladrões, corruptos, traidores do rei.Por trás dessa expulsão tinham interesses os mais diversos, que se imbricavam uns sobre os outros que é impossível apresentá-los com exatidão.De um lado os objetivos do Marques de Pombal, um déspota esclarecido que desejava tirar da sua frente todo e qualquer empecilho religioso que atrapalhasse seus planos de modernidade e desenvolvimento e os jesuítas, papista e frutos da contra-reforma católica eram o que – na visão de Sebastião de Carvalho e Melo tinha de mais atrasado.

Na visão de Pombal toda a obra dos padres, por mais nobre que fosse, era um desserviço à coroa portuguesa, pois o modelo de homem produzido pelos padres era tudo o que Pombal não desejava. Nesse ponto Pombal tinha razão o protótipo do ser humano produzido pelos inaciamos era um ser amorfo e medieval, obediente e servil.

Porém entre as “boas intenções” de Pombal e a realidade brasileira, nessas terras de mato e bicho havia um enorme abismo!

Cá no Brasil os interesses eram outros, menos ideológicos e mais econômicos. O grande patrimônio acumulado pelos jesuítas, fruto do trabalho dos índios, despertava grande cobiça dos brancos da terra.

"Vamos tomar tudo desses padres velhacos", pensavam certamente os homens de negócio que por aqui viviam.Os padres eram um duplo obstáculo para os homens da terra. Na mentalidade da época não havia “comunhão” entre as ordens e congregações religiosas. Cada organização religiosa agia de forma independente , eram na realidade “Companhias”: Companhia de Jesus, algo assim parecido com as muti nacionais e suas filiais, chamavam umas às outras de "outra Religião".

Assim o bispo de Olinda dom Frei Francisco Xavier Aranha (1757 - 1771), a quem os territórios ibiapabanos estariam jurisdicionados estava privado desses territórios e suas rendas.

Os Jesuítas, portanto, longe de serem difusores do Evangelho de Cristo, eram uma pedra no sapato para os planos do ordinário diocesano pernambucano, pois privada da jurisdição dos grandes territórios administrados pelos jesuítas as rendas desses territórios não caiam nos cofres da diocese, com a expulsão dos jesuítas tudo se reverteria em favor de Olinda.

Para os colonizadores os jesuítas “acoitavam” em suas missões grandes quantidades de mão de obra, inclusive “índios preguiçosos” que fugiam de suas terras para viverem sob a proteção dos padres. Essa mão de obra nativa era cobiçada pelos coroa e pelos colonos, em suas mãos ela teria muita serventia, deste a utilização nos engenhos de cana de açúcar, na criação de gado - em expanção nesse momento histórico e ainda na construção de obras públicas e privadas.

Para o traficante de escravos indios "amansados" era uma mina. Daí o grande “ódio” aos Jesuítas! Os inimigos dos jesuítas bem sabiam que sem ajuda dos índios dificilmente os padres poderiam ser expulsos. Daí a medida imediata era inculcar nos chefes indígenas o desejo e a ambição pelos bens coletivos, dificilmente os jesuítas sairiam de forma pacífica como o fizeram, de forma que foram os chefes indígenas, homens de confiança dos jesuítas que operacionalizaram o desfecho final dos padres.

No caso específico da expulsão dos territórios ibiapabanos, onde os jesuítas estabeleceram-se a partir do século XVII, a tomada de poder foi elaborada com muita meticulosidade, inclusive pesquisas atuais nos dão conta que em 29 de maio de 1759, o principal dos índios na ibiapaba, seja, D. Felipe de Sousa e Castro, já com o título de mestre-de-campo da Serra da Ibiapaba, é recebido em Recife pelo Governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da Silva, conforme nos narra um ofício do dito governador ao secretário de estado de ultra mar, Tomé Joaquim da Costa Real, informando que os principais das aldeias reduzidas em vilas, estiveram em sua companhia para tomarem as instruções devidas, senão vejamos:“Convidei a d. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo da Serra da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real pra jantar comigo, tanto por ser o principal chefe a quem sete ou oito mil almas domina, respeitam com inteira obdiência, como por se achar condecorado com o hábito de S. Tiago (...)”Podemos verificar a importância de D. Felipe de Sousa nesse interregno da expulsão dos jesuítas, e a conseqüentemente a presença do índio, na administração do Brasil Colonial, quando nos deparamos com a ata de eleição da Câmara de Villa Viçosa, onde o mesmo sendo o primeiro de uma lista de sete homens (índios também), já é designado de Juiz Ordinário, e sem nenhum escrúpulo e lealdade aos padres assume nova função e ainda faz parte do grupo da rapinagem – fato que nos faz lembrar os mesmos fatos que acontecem nos dias atuais, nos troca-troca de partidos políticos e nas infidelidades e falsidades tão comuns.A expulsão dos jesuítas, mais do que um fato religioso foi um fato político e marcou a formação da elite viçosense do setecentos.

Assim, no longínquo ano de 1759, sob o signo da apropriação dos bens coletivos as bases da sociedade elites que dominariam a Ibiapaba (e Viçosa) por séculos e derem origem as aristocracias que governaram a vila e o município e monopolizaram os bens, particularmente as terras.A antiga elite promotora da rapinagem dos bens dos índios e dos jesuítas era formada por índios captados pela coroa, traidores de seus irmãos, como por exemplo dom Felipe de Sousa Castro, mestre de campo, que fora agraciado com a Ordem de Santiago, padres corruptos vinculados à Diocese de Olinda a qual pertenceria à futura freguesia e paróquia de Nossa Senhora da Assunção, militares mercenários e desalmados.Os resquícios daquelas antigas práticas de rapinagem hoje ainda florescem na ideologia das novas gerações descomprometidas com o social e com o coletivo e que se sucedem no mundo dos vivos.

De forma detalhada, coisa rara na historia do Brasil, consta em vários documentos históricos a relação do patrimônio dos Jesuítas no Aldeamento da Ibiapaba, relacionando pormenorizadamente as terras e os víveres nelas contidos, vejamos: Fazenda Tiáia, com quatro léguas de terras em quadro, quatrocentos e cinqüenta cabeças de gado vacum, 27 cavalos, um escravo angolano chamado José e uma cadela rajada amestrada na captura de onças; Fazenda Umbuzeiro, com três léguas, adquiridas por compra pelo padre Francisco de Lira, Fazenda Missão, com três léguas, que foram doadas pelos irmãos Manuel e Miguel Machado Freire; Fazenda Pitinga, com duas léguas, aquisição do padre Francisco de Lira e outras doações e aquisições em operações de compra e venda junto ao reduto da Ibiapaba.

Essas terras, somente na Fazenda Tiáia, totalizavam doze léguas em quadro, todas destinadas às atividades agropastoris e com muitos e densos carnaubais.Em 1759, quando foi decretada pela Coroa Portuguesa a expulsão dos jesuítas, os bens arrolados consistiam de: 1) Na Fazenda Tiáia -720 vacas de cria, 290 bois, dezoito éguas, 44 cavalos. 2) - Na Fazenda Umbuzeiro - 1.240 vacas de cria, 321 bois, 15 éguas, 16 cavalos, 33 cabras, 40 chibatos (bodes) - 3) - Fazenda Missão - 1.435 vacas de cria, 445 bois, 134 éguas, 43 cavalos, 50 cabras e 37 chibatos. 4) - Fazenda Pitinga - 238 vacas de cria. Resumindo tudo a termos práticos, teremos: a) - 4.709 cabeças de gado vacum; b) - 270 cavalos e éguas; c) - 150 cabras e chibatos, o que daria em valores atualizados, só em cabeças de gado vacum, considerando o valor de R$ 1.500,00 por cabeça a bagatela de mais de R$ 7.000.000,00 (sete mihões de reais): Esse era o tesouro dos Jesuítas, e não ouro que teria sido enterrado no piso da matriz, como se fez divulgar posteriormente e que provocou uma corrida em torno de botijas! http://mfrural.com.br/produtos.asp?categoria3=518&nmop=Animais-Bovinos-de-Leite-Gir-Leiteiro

Esses bens foram rateados entre vários elementos que foram o braço operacional da expulsão dos jesuítas, Juízes, índios mestres-de campo, padres diocesanos. Ou seja o tesouro dos bens jesuíticos, que na verdade eram os bens dos índios reduzidos, foram confiscados de forma imoral por uns poucos, ou de forma mais precisa:Para nossa Senhora da Assunção: 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos;Para o vigário Padre Luís do Rego Barros - 52 vacas, 6 bois, 25 éguas, 3 cavalos e 10 chibatos;Para dois padres coadjutores Pe José Machado Freire e Francisco Ferreira da Silva: 80 vacas, 12 dois, 40 éguas e 6 cavalos;Ao Diretor dos índios Diogo Roiz Correia: 8 bois, 2 éguas, 2 cavalos;Para o Mestre de Campo dom Felipe de Sousa Castro (que era um índio): 80 vacas, 10 éguas e 3 cavalos;Para os três Capitães-Mores: 72 vacas, 15 éguas e 6 cavalos;Para o Sargenro-Mor Antonio da Rocha Franco: 16 vacas, 4 éguas e 1 cavalo;Para os 15 Capitães: 180 vacas, 30 éguas e 15 cavalos; Para 2 ajudantes e um tenente: 24 vacas, 3 éguas;Para os dezoito Alferes: 108 vacas, 18 cavalos;Para 18 Sargentos: 36 vacas.Aos olhos de hoje isso pode parecer pouco, diante do desenvolvimento agropecuário da atualidade, mas naqueles idos tempos isso era um grande patrimônio. Note-se que até uma cadela vira-lata era elencada nos bens ao lado de um escravo.Nessa rapinagem os donos do patrimônio coletivo – os índios - não herdaram absolutamente nada, somente a miséria, o desamparo e a escravidão para aquele senhores recém-criados. As terras igualmente foram divididas na mesma proporção somente a Fazenda Tiáia foi adjudicada à Coroa portuguesa.

Há indícios – a historiografia oficial não registra – que muitos índios moradores da redução foram escravizados ou vendidos, em forma de contrabando para outras localidades, mulheres e crianças foram seviciadas e muitos fugiram diante das arbitrariedades dos novos poderosos, sem terem a quem recorrer nessas terras da injustiça.E nossa Senhora da Assunção, com suas 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos e algumas léguas de terra, permaneceu do alto de seu trono, por já 401 anos, impávida, calada... quando os seus filhos, lá em baixo, espoliados, cantam-lhe ainda: “Virgem Santa da Assunção, Nossa Mãe e Padroeira. Dá-nos vossa proteção, sede nossa vanguardeira”!