Cada um de nós tem uma imagem de si próprio e nos olhamos com a imagem que construímos de nós mesmos, mesmo que ela seja irreal, fantasiosa, ou que a nossa imagem já tenha se desvanecido pela beleza efêmera da juventude que não mais nos resta. Mas a nossa imagem está lá no nosso inconsciente e por mais que o espelho nos revele tal e qual somos, sempre uma névoa está entre os nossos olhos e o espelho, numa espécie de “Retrato de Dorian Gray”: É a lente da Vaidade sobre os nossos olhos que nos impede de ver a verdade.
Geralmente essa imagem que temos de nós – quando fisicamente – é aquela imagem dos 20 anos, quando os hormônios da adolescência ainda explodiam em nós e exalavam-se por todos os poros, a cabeleira era vistosa, não precisava de tinta, a pele era razoável – apareciam as incômodas e juvenis espinhas, e víamos a vida como se os anos à frente de nós fossem infinitos – tínhamos todo o tempo do mundo, podíamos escolher o que nos fosse imediatamente prazeroso, o tempo e a irresponsabilidade nos fazia super-heróis, acima do bem e do mal.
Nossa mãe era uma espécie de “serpente” às avessas, sempre inconvenientemente nos policiando e nos privando do fruto proibido, que estava lá, ao nosso alcance no paraíso e não podíamos alcançar de imediato...
Na “Lira dos vinte anos”, sexo é passatempo. É impossível quando se tem 20 anos perceber a limitação e a efemeridade do tempo, “tudo é divino, tudo é maravilhoso”. Mas os anos passam e rápido, bem rápido. Mas é com a imagem dos 20 anos, impressa em nós, que chegamos aos 30, 40, 50... 80... embora nem de longe sejamos o jovem e vinte que ainda imaginamos ainda ser.
Pra compensação dessa perda, vem a sabedoria, que entra em nós, também, por bem ou por mal.... e temos que aprender a aprender a viver, a re-sonhar a re-planejar a vida.
Pra compensação dessa perda, vem a sabedoria, que entra em nós, também, por bem ou por mal.... e temos que aprender a aprender a viver, a re-sonhar a re-planejar a vida.
E é essa re-novação que nos jovializa – tomara que tenhas essa capacidade. Conseguir isso é uma luta necessária – e certamente tu, já que não tens mais a beleza dos vinte, te enxergarás no teu espelho da verdade. E certamente riras daquele “boy”, cheio de ilusão, e que passa jogando a vasta cabeleira - que não tens mais – e que ele não terá com a tua idade!.
É preciso encarar o tempo com serenidade – ele é imparcial. É necessário o passar dos anos e a decadência física como algo natural, encarar que a realidade nua e crua está na mensagem da quarta-feira de cinzas: “Pois tu és pó e ao pó hás de retornar” . (Gn. 3,19), todavia sem esquecer que em nossa essência está a fagulha do eterno incriado, e quem sabe não seremos incorporados em outro nível de existência?
Crônica de Washington Luiz Peixoto Vieira, elaborada em 06 de junho de 2008.
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Pieter Claesz (Dutch, 1596/97
Crônica de Washington Luiz Peixoto Vieira, elaborada em 06 de junho de 2008.
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