segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O VELHO MAGO E O FEIXE DE LENHAS


Era uma vez um grupo aprendizes de feiticeiros. Eles tinham sido escolhidos para serem os sucessores de um reino de magia. Tudo, aos seus olhos era belo, mágico, eles poderiam mais do que transformar qualquer matéria em ouro, eles materializavam os deuses. Seriam realmente grandes magos. Mas, ainda eram fracos e precisavam que os feiticeiros mais antigos lhes ensinassem grandes coisas e ensinamentos ocultos, antes que lhes fosse dado tão grande poder!

Por surpresa, o grupo dos jovens feiticeiros recebeu por mestre um antigo Mago que passara por todas as experiências da vida, e por muitas provas para chegar ao posto de Mestre-Feiticeiro. Era um homem bom, tão bom que parecia, às vezes ser ingênuo. Os jovens feiticeiros, também às vezes, o desprezavam, pois se achavam o máximo em sabedoria, haviam estudado em grandes universidades e adquirido graus de doutores, e o velho Mago havia estudado somente na escola da vida.
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O mais rebelde dos aprendizes, todavia, gostava muito do velho Mago, que era um homem muito paciente e compreensivo, e certo dia perguntou-lhe: - Mestre, como aprendeste a ter paciência?

O velho mago começou a contar.

- Filho, eu era um jovem impaciente e zangado. Morava numa aldeia, nas distantes terras do Sol. Éramos pobres, muito pobres. Eu, como sendo o mais velho, era o encarregado de percorrer as matas e juntar lenha para manter aceso o fogo de nosso fogão. Percorria a pequena mata e recolhia gravetos secos, paus maiores, madeiras diversas, enfim tudo o que podia, e sempre juntava grandes feixes de lenha, de forma a provir a maior quantidade e assim não voltar à mata tão rapidamente. Mas, ao contrario, com minha impaciência, chegava em casa, com metade do que havia juntado e tinha que voltar no outro dia para catar mais madeira.

E continuou:

- Certa vez juntei tanta lenha, que trazia amarrada sobre minha cabeça, mas aqui e ali caia algum graveto, que eu cuidava em juntar, mas a cada vez que juntava com raiva, todo o feixe despencava e eu tinha que junta-los, e sempre os juntava de forma tão apressada e desarrumada que logo adiante tudo se desmanchava de novo. E assim aconteceu por alguns anos. Certo dia todo o feixe se desmantelou e eu o joguei com força no chão. Nessa mesma hora me veio uma luz, como se alguém me dissesse: - "Apanha calmamente a tua lenha, junta pauzinho a pauzinho, com calma, amarra bem e não tenhas pressa, volta para casa bem devagar..." Assim o fiz, e procedi como a minha voz interior me havia dito. Juntei pauzinho a pauzinho, um a um, como se fossem jóias raras, amarrei bem o feixe de lenha e caminhei para casa sem pressa. Era tanta a lenha que passei vários dias sem voltar à mata. Foi assim, filho, que percebi que havia descoberto a virtude da paciência.


O aprendiz baixou a cabeça e pensativo refletiu que necessitava seguir os passos do mestre, e aprender que a paciência é uma virtude a ser cultivada, no dia a dia, no recolher de nossas lenhas para acender o fogo da vida. 

Conto de Washington Luiz P. Vieira
 

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