quinta-feira, 2 de maio de 2013

DEVES É MUDAR DE ALMA, NÃO DE LUGAR


Geralmente diante de adversidades, as mais diversas, pensamos em mudar de endereço, de trabalho, de cidade, de bairro, enfim de ir embora, e se possível for, partir para o mais longe possível, cruzar os mares, esquecer e ser esquecido.

Por outras vezes vem o desejo de retornar para o ninho de onde outrora partimos, buscar o aconchego das pessoas queridas e amadas e que em muitos casos, nem o ninho nem as aves estão mais por lá.

Imaginamos que a simples mudança de endereço nos transformará, nos transfigurará em outras pessoas. Convictos que ao deixarmos nossos antigos endereços os pesados fardos que acumulamos ao longo da vida serão retirados de nossa existência, como que por encanto. Que os nossos velhos fantasmas interiores se dissiparão em "novos castelos".

Pensamos que em novos ambientes tudo será maravilhoso, lindo, calmo, lugar inigualável.  Seremos somente nós e a paz: Oh, ali estarão pessoas perfeitas, amáveis, compreensíveis, diferentes das que convivemos!

Tolamente nos iludimos pensando que além do horizonte acharemos nossa tão almejada paz, é lá que está a vértice do arco-íris e o nosso tesouro pessoal: O horizonte é sempre azul! Quanta ilusão!

Infelizmente somos como as tartarugas, levamos o nossos cascos atrelados às costas para onde quer que tenhamos que ir e dele não podemos nos livrar, faz parte de nós e o que temos de melhor a fazer é aprender a conviver com ele.

"Ainda que atravesses a vastidão do mar, ainda que, como diz o nosso Vergílio, as costas, as cidades desapareçam no horizonte, os teus vícios seguir-te-ão onde quer que tu vás. (...) Quando te tiveres convencido desta verdade, deixará de espantar-te a inutilidade de andares de terra em terra, levando para cada uma o tédio que tinhas à partida. Se te persuadires de que toda a terra te pertence, o primeiro ponto em que parares agradar-te-á de imediato. O que tu fazes agora não é viajar, mas sim andar à deriva, a saltar de um lado para o outro, quando na realidade o que tu pretendes - viver segundo a virtude - podes consegui-lo em qualquer sítio”¹.

É justo que precisamos mudar. A natureza muda a cada momento, a vida é dinâmica, é a lei do devir, o ontem é diferente do hoje, “o mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje"², porém imaginar que a simples mudança de lugar, ou de profissão, ou de trabalho, etc., fará mudar o nosso interior é uma ilusão, é necessário fazermos uma conversão interior, como disse com muita sabedoria o filósofo: Deves é mudar de alma, não de lugar³.




Texto de Washington Luiz Peixoto Vieira

Imagem:http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/jaboti.htm

1 e 3 - Lúcio Aneu Séneca em latim: Lucius Annaeus Seneca; Corduba, 4 a.C. — Roma, 65 d.C.) foi um dos mais célebres advogados escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Séneca (ou Sêneca), o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia renascentista.

2. Heraclito de Éfeso (Grego: Ἡράκλειτος ὁ Ἐφέσιος—Hērákleitos ho Ephésios, Éfeso, aprox. 535 a.C. - 475 a.C.)