D. ANTONIA DE ALBUQUERQUE (SÉCULO XVI – SÉCULO XVII) E SUA DESCENDÊNCIA NO SERTÃO DO CEARÁ
Por Washington Luiz Peixoto Vieira*
D. Antonia de Albuquerque foi uma das figuras centrais da nobreza colonial nordestina, filha de Jerônimo de Albuquerque, nascido por volta de 1510, em Olinda (ou possivelmente em Portugal, conhecido como o “Adão Pernambucano”, e de D. Maria do Espírito Santo Arcoverde (n. 1530 +-),nome cristão de Muyrã-Ubi, filha de Ubira Abi, que significa Arcoverde, Cacique dos Tabajaras, ambos pertencentes à principal estirpe da aristocracia de Pernambuco. Sua vida se insere no contexto do Brasil colonial, período em que as famílias fidalgas consolidavam suas posições políticas, econômicas e sociais por meio de alianças matrimoniais estratégicas.
Nos registros genealógicos mais antigos — como os de Pereira da Costa, Frei Jaboatão, Anselmo Braamcamp Freire e a Nobiliarquia Pernambucana —, D. Antonia de Albuquerque aparece entre as filhas mais velhas do casal, geralmente em terceiro ou quarto lugar na ordem tradicionalmente aceita dos filhos legítimos de Jerônimo.
Todos os filhos legítimos de Jerônimo e D. Maria nasceram em Pernambuco, entre 1540 e 1575, 9 em Olinda, 1 em Goiana e 1 em Igarassu.
A ordem mais comum nas fontes é a seguinte:
1. D. Isabel de Albuquerque – nascida por volta de 1540, em Olinda;
2. D. Maria de Albuquerque – cerca de 1542, em Olinda;
3. D. Antonia de Albuquerque – cerca de 1545 a 1550 (terceira filha), em Olinda;
4. D. Catarina de Albuquerque – cerca de 1552, em Olinda;
5. D. Brites de Albuquerque – cerca de 1555, em Olinda;
6. D. Filipa de Albuquerque – cerca de 1557, em Olinda;
7..D. Jerônima de Albuquerque – cerca de 1560, em Igarassu;
8..Jerônimo de Albuquerque (filho) – cerca de 1562, em Olinda;
9.Fernão de Albuquerque – cerca de 1565, em Olinda;
10..Afonso de Albuquerque – cerca de 1568, em Goiana;
11. Matias de Albuquerque (Governador de Pernambuco) – 1570 a 1575 (único com data relativamente segura), em Olinda.
Assim, D. Antonia de Albuquerque é tradicionalmente identificada como a terceira filha legítima de Jerônimo e D. Maria do Espírito Santo Arcoverde.
Ela se destaca por ter sido a que manteve, através de seu casamento com Gonçalo Mendes Leitão, uma das linhagens mais documentadas e duradouras dos descendentes de Jerônimo — sendo, portanto, um dos ramos centrais da descendência nobre e troncal dos Albuquerque no Brasil.
Ainda viva em 1592-1593, D. Antonia já era viúva quando os registros oficiais a mencionam, evidenciando sua presença ativa na administração de sesmarias e na preservação do patrimônio familiar.
Casou-se com Gonçalo Mendes Leitão, cavaleiro fidalgo da Casa Real e irmão de D. Pedro Leitão, segundo Bispo do Brasil. Desse casamento nasceu uma descendência que se espalhou pelo sertão pernambucano e pelo norte do atual Ceará, consolidando a presença da família Albuquerque entre as principais linhagens do Nordeste colonial.
A influência de D. Antonia de Albuquerque transcendeu sua própria geração, pois sua descendência se entrelaçou com famílias como Barbosa, Leitão, Correia, Melo Falcão, Marreiros e Teixeira Mendes — esta última através de seu bisneto, o Capitão Antônio de Melo Falcão, pai de Maria Catarina Sebastiana de Arendes, que casou com Manoel Alexandre Teixeira Mendes. Por esse enlace, o sangue dos Albuquerques permaneceu no centro das elites rurais e urbanas da região.
Por meio de sua sucessão, D. Antonia tornou-se uma ancestral-chave, cujos descendentes desempenharam papéis relevantes na administração, na milícia e na sociedade colonial, perpetuando o legado de uma das mais antigas e prestigiadas famílias do Nordeste brasileiro.
A DESCENDÊNCIA NO SERTÃO DO CEARÁ
Para compreender os vínculos de sua linhagem com o sertão cearense, especialmente com a vila de Icó, destaca-se a figura de:
Antônio de Melo Falcão, nascido em 1697, no Cabo de Santo Agostinho (PE), e falecido em 20 de setembro de 1780, na mesma localidade. Era filho do Capitão Luiz Marreiros de Sá e de Dona Juliana de Oliveira, senhores do Engenho Megaípe de Baixo, sob a invocação de São Felipe e São Tiago, em Jaboatão dos Guararapes (PE).
Detinha a patente de Capitão de Ordenanças, posto que designava o oficial responsável pelo comando das tropas locais nas vilas e freguesias do Brasil colonial entre os séculos XVI e XIX. Essa função o levou à Capitania do Ceará, onde se estabeleceu em Icó, vivendo com Dona Maria José de Brito Fiúza, com quem teve três filhos conhecidos:
Maria Catarina Sebastiana de Arendes (casada com Manoel Alexandre Teixeira Mendes);
Domingos Coelho Meireles Júnior (que conservou o nome paterno como aditivo);
Capitão Luís Marreiros de Melo, assassinado em Quixeramobim, em data não determinada;.
O quinto avô de Antônio de Melo Falcão foi Luiz de Marreiros (1675–1744), casado com Brites de Albuquerque de Merlis, filha de Marcos de Barros Correia e D. Margarida de Melo — tataraneta (5ª geração) de Jerônimo de Albuquerque e D. Maria do Espírito Santo Arcoverde.
Por este matrimônio, essas famílias — parentes desde os tempos de Duarte Coelho Pereira — criaram uma nova árvore genealógica, unindo os ramos Marreiros, Melo Falcão e Teixeira Mendes, cujos descendentes foram fundamentais na ocupação e formação social do sertão do Ceará.
REFERÊNCIAS:
1. Fontes primárias:
JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. *Novo Orbe Seráfico Brasílico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil.* Lisboa: Oficina de Francisco Luís Ameno, 1761.
LIVRO das Sesmarias da Capitania de Pernambuco (1550–1650). Recife: Arquivo Público Estadual de Pernambuco (APEJE).
TESTAMENTO de Jerônimo de Albuquerque. In: JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. *Novo Orbe Seráfico Brasílico.* Lisboa: Oficina de Francisco Luís Ameno, 1761.
CARTAS e documentos de Duarte Coelho Pereira. Lisboa: Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), séc. XVI.
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2..Genealogias e nobiliárquicas clássicas
COSTA, Francisco Augusto Pereira da. *Anais Pernambucanos.* 10 vols. Recife: Tipografia do Jornal do Recife, 1882–1895.
FREIRE, Anselmo Braamcamp. *Brasões da Sala de Sintra.* Lisboa: Imprensa Nacional, 1921.
OLIVEIRA, Bento José de. *Nobiliarquia Pernambucana.* Recife: Typographia Mercantil, 1856.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. *Gente da Nobreza de Pernambuco.* Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1981.
SILVA, Rodolfo Garcia da. *Genealogia Pernambucana: Famílias Coloniais.* Rio de Janeiro: Gráfica Lux, 1935.
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3..Estudos históricos e regionais
CASCUDO, Luís da Câmara. *Dicionário do Folclore Brasileiro.* Rio de Janeiro: Edições Itatiaia, 1983.
MELO, Evaldo Cabral de. *O Norte Agrário e o Império (1871–1889).* Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
GIRÃO, Raimundo. *O Ceará e os Cearenses.* Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959.
VIANA, Hélio. *História do Brasil Colonial.* São Paulo: Melhoramentos, 1970.
BARRETO, Gustavo. *Famílias Troncais do Sertão Nordestino.* Fortaleza: Edições UFC, 2004.
MEDEIROS, Clóvis de. *Famílias Tradicionais do Sertão.* Natal: EDUFRN, 1995.
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4..Fontes arquivísticas
ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL DE PERNAMBUCO (APEJE). *Coleção de Documentos Coloniais: Pernambuco (1550–1700).* Recife: APEJE, s.d.
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU). *Catálogo das Capitanias do Brasil – Pernambuco, 1530–1620.* Lisboa: AHU, s.d.
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6..Pesquisa contemporânea
VIEIRA, Washington Luiz Peixoto. *D. Antonia de Albuquerque e sua descendência no Sertão do Ceará.* Pesquisa inédita, 2025
https://www.geni.com/people/Jer%C3%B3nimo-de-Albuquerque-o-Torto/6000000013029581528
Imagem gerada por IA, inspirada em trajes e cenários da época.
* Washington Luiz Peixoto Vieira é pesquisador e escritor. dedica-se ao estudo da memória urbana e das transformações sociais e culturais do Nordeste. É descendente da biografada através de Maria Cataria Sebastiana de Arendes (Melo Falcão) Esse é um texto inédito do livro Gente do Ceará - IBSN: 978-65-01-28119-3.
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