A
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi criada e ereta na Igreja de São Frei
Pedro Gonçalves, onde já existiam na mesma freguesia a primitiva Confraria de São
Frei Pedro Gonçalves, composta por homens do mar, que remonta à pequena ermida
existente antes da ocupação holandesa, e as eretas em 1654, sejam, a Irmandade
do Santíssimo Sacramento, composta de homens “bons”, a Irmandade do Bom Jesus
dos Passos, fundada pelos restauradores pernambucanos e homens diversos
segmentos classes sociais, que lutaram na guerra de restauração, e da Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário[1], e
esta irmandade formada por homens negros e ou descendentes diretos de africanos.
Narra-nos
Domingos Couto (1904) que
“Os homens pretos e cativos se mostram tão afetuosos no amor e no
serviço da Mãe de Deus, a Senhora do Rosário, que eles mesmos, ainda que
pobres, resolveram fundar uma formosa igreja em que eles são os fundadores e
administradores. É este um templo de curiosa e suntuosa estrutura, e, o seu
frontispício, pomposa fábrica de pedra branca, é admirável desempenho da
arquitetura edificativa”. [2]
Domingos couto refere-se à Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, dizendo que esse sodalício passou a
construir para sua sede e culto logo após a sua fundação, na Vila de Santo
Antonio do Recife, em nova de expansão do
hoje bairro de Santo Antonio e seus aterros, no século XVIII, de forma que,
segundo Guerra (1978), em 1678, documentos de receita e despesa, registram a
confecção de um púlpito de jacarandá, e douração do altar-mor da nova igreja em
1699, em 1706 os irmãos
“estavam decididos a mandar buscar em Lisboa todos os materiais
necessários para forrar-se a capela-mor com frisos de ouro“.
O espírito que unia aqueles homens e
mulheres, segundo Guerra (1978), “transportados para terras longes e estranhas, como humilhantes
escravos, uniam-se então na dor e na miséria, constituindo-se muitas vezes em
novas nações, com costumes mesclados, a receber influências dos hábitos
isolados de cada uma, ritos ancestrais, adaptados e harmonizados com o novo meio
ambiente e sua condição de escravos”[3]
Desta primitiva irmandade surgiram várias
outras novas irmandades do Rosário ou de santos correlatos aos cativos negros e
seus descendentes, “dentre
as principais devoções, destacavam-se santos de origem africana, de
cor negra – dentre os quais figuravam Santa Efigênia (responsável por
disseminar o cristianismo na Etiópia), Santo Elesbão da Abissínia e
o monge franciscano São Benedito”,
mas cuja devoção central era à Nossa Senhora do Rosário.[4]
Eram famosas “as
coroações de reis e rainhas de Angola na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos de Santo Antônio do Recife, por sua vez, são documentadas a
partir de 1674. Das nações dos negros, era do Congo a que mais se
destacava dentro das irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e
de São Benedito, cuja função não era tão-somente cerimonial, como deixa
entender a descrição de alguns viajantes, mas um encargo administrativo, do
interesse do Governador da Capitania e do bem público, com a função de
“inspecionar e manter a ordem e subordinação entre os pretos que lhe forem
sujeitos”. [5]
Existem muitos registros sobre a correlação da Igreja
do Rosário e sua Irmandade com movimentos religiosos e culturais, tais como nos
narra Guerra (1978) que
por ocasião dos festejos “(...) celebravam em seu louvor
festas e danças no uso de seu país natal; essas danças eram batuques e
maracatus”, bem como coroações do reis negros do Congo”
Embora a Festa de Nossa Senhora do Rosário,
de forma católica tenha declinado ao longo do século XX, ao ponto de ser
desconhecida a data e horário ao grande público, a devoção à Santa expandiu-se
e desmembrou em outras irmandades com a mesma espiritualidade.
Essa Venerável Irmandade existe (e subsiste) desde o Século XVII, até os dias atuais, embora com um número reduzido de irmãos e irmãs, trazidos pelas vicissitudes dos tempos, tendo enfrentando todas as dificuldades, desde a época da escravidão, às interferências das autoridades eclesiásticas em todas as épocas, às quais tratarei, mais amiúde, em artigos posteriores, deixando aqui registrado, apenas os marcos iniciais deste importante Sodalício recifense.
[1]
O culto a Nossa Senhora do Rosário, vem desde
a Idade Média, quando a Virgem aparecera a São Domingos de
Gusmão em 1208 na igreja do mosteiro
de Prouille,
entregando-lhe o Saltério Angélico, qual seja o Santo Rosário, que seria uma arma poderosa de oração. Pela
facilidade de recitação e meditação de seus mistérios, o Rosário difundiu-se
facilmente pela piedade popular. O fato de maior relevância atribuído ao Santo
Rosário foi a Vitória de Lepanto, que é “lembrada como uma vitória da Igreja
sobre o avanço do Império Otomano ( os islâmicos) que pretendiam estender seus
domínios e assim acabar com o cristianismo na Europa. É uma vitória, que dependeu
da aliança de reis católicos, muitos deles em conflito uns com os outros. Mas
também é atribuída à intervenção da Virgem
Maria do Rosário. O Papa São Pio V havia confiado na oração
especialmente do rosário, jejum e penitência para alcançar essa vitória.”[1] , em 7 de
Outubro de 1571. O fato
de maior relevância atribuído ao Santo Rosário foi a Vitória de Lepanto, que é
“lembrada como uma vitória da Igreja sobre o avanço do Império Otomano ( os
islâmicos) que pretendiam estender seus domínios e assim acabar com o
cristianismo na Europa. É uma vitória, que dependeu da aliança de reis
católicos, muitos deles em conflito uns com os outros. Mas também é atribuída à
intervenção da Virgem
Maria do Rosário. O Papa São Pio V havia confiado na oração
especialmente do rosário, jejum e penitência para alcançar essa vitória.”[1] , em 7 de
Outubro de 1571. O fato
de maior relevância atribuído ao Santo Rosário foi a Vitória de Lepanto, que é
“lembrada como uma vitória da Igreja sobre o avanço do Império Otomano ( os
islâmicos) que pretendiam estender seus domínios e assim acabar com o
cristianismo na Europa. É uma vitória, que dependeu da aliança de reis
católicos, muitos deles em conflito uns com os outros. Mas também é atribuída à
intervenção da Virgem
Maria do Rosário. O Papa São Pio V havia confiado na oração
especialmente do rosário, jejum e penitência para alcançar essa vitória.”[1] , em 7 de
Outubro de 1571.
[2] Couto, Domingos Loreto,
Desagravos do Brasil e Glórias de Pernambuco, Anais da Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro, Vol XXIV, 1904
[3]
Guerra,
Flávio, Velhas igrejas e subúrbios históricos, Recife: Fundação Guararapes,
1970, p. 111
[4] Irmandades
Negras. Patrimônio Espiritual. Disponível em: < https://patrimonioespiritual.org/menu/irmandades-de-negros/>.
Acesso em 16 mar. 2017.
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