terça-feira, 24 de abril de 2012

CONTO: O MENINO E A BORBOLETA

Muito, muito distante daqui havia uma aldeia. A aldeia ficava no meio das montanhas, rodeada de florestas, riachos, pássaros e borboletas. Ali o sol demorava a chegar pelas manhãs e ia embora logo cedo.

Naquela aldeia havia um menino sonhador.

Ele falava com as matas, com os riachos, com as borboletas.Sempre que o menino queria sonhar ou estava pensativo, ou triste ele saia de sua cabana e ia sentar-se à beira do pequeno riacho.

O menino sonhava em sair da aldeia, visitar, morar em países, em aldeias distantes. Naquela aldeia, pensava, não lhe cabia mais. Estava cansado do dia a dia, das pessoas que só “pensam em nascer, em morrer”. Queria conhecer novas pessoas, brincar com novos amiguinhos, queria saber de novas histórias. Parecia que tudo ali era pequeno!

Certo dia, sentado na beira do riacho, estava calado, pensativo, quase taciturno. Parecia que não ouvia mais o som das florestas, o canto dos pássaros, era como que todo o encanto de sua inocência tivesse se perdido. Estava triste.

De repente, surgiu a sua frente uma bela borboleta, daquelas que somente a magia pode criar.

- O que tens, meu menino, porque estás triste? O que te incomoda?

Perguntou-lhe a borboleta.

- Ah, borboletinha, estou triste porque não posso voar. Não posso ser como você que voa para onde quer, podes conhecer o mundo. Eu nada posso, fico apenas nesta minha aldeia, vendo as mesmas coisas. Queria conhecer o mundo!

A borboletinha, pensou, pensou e lhe respondeu:

- Não fique triste, você também pode ter asas. Sabia? Venha comigo que eu lhe mostrarei uma coisa.

Assim, a borboleta ia voando, voando e o menino atrás dela. Até que chegaram a um campo, na clareira da floresta. Então ela baixando-se, mostrou-lhe uma folhinha verde onde havia botados os seus ovinhos. Não havia mais ovinhos, somente lagartinhas, que se mexiam por sobre as folhagens.

- Veja, são meus filhotes! Não são belos?

Qual susto o menino não tomou, ao ver aquelas lagartinhas. Imaginava que veria uma infinidade de borboletinhas amarelas...

- Isso não são borboletas – disse-lhe, são lagartas!

Ao que ela retrucou.

- São borboletas em fase de crescimento, elas já foram ovos, larvas, crisálidas e em breve criarão belas asas e voarão pelo mundo! Assim são as borboletas, elas passam permanentemente por fases de transformação, até que dia, quando adultas, poderão seguir o seu caminho, voar por outros campos, outras matas, ir para longe, fecundando as flores, ou ficar em sua mata nativa, dando vida à natureza, encontrando sua própria lenda.

O menino encantou-se, com as palavras de sua amiguinha, e assim compreendeu que precisava deixar de ser um casulo resmungão, deixar que as asas de sua imaginação crescessem, assim ele poderia, como as lindas borboletas, voar para onde bem quisesse, livre, e buscar o seu próprio sonho, sua lenda pessoal, mesmo que fossem nas flores de seu próprio quintal, de sua própria aldeia.

Assim, ele voltou alegre para casa, imaginando que a magia do tempo lhe daria asas para voar!.



CONTO CRIADO POR WASHINGTON LUIZ PEIXOTO VIEIRA, COM DIREITOS AUTORAIS NA FORMA DA LEI Nº 9.610, POSTADO INICIALMENTE EM 2011


terça-feira, 3 de abril de 2012

MEMÓRIA: A RUA LARGA DO ICÓ (ENSAIO)

A Rua Larga do Icó, para as gerações atuais, nitidamente da última década, tem se transformado ou se transfigurado na “Praça do Forricó”. 

Um sacrilégio a um dos mais antigos logradouros históricos do Ceará. E embora com novas utilidades na cotidianidade perde a sua memória como a estrada geral do Jaguaribe ou a estrada nova das boiadas, como era conhecida no século XVII ao XIX, quando aos poucos vai sendo apropriada pelas habitações e novas utilidades, tais como o mercado público, depois transferido para o local onde encontra no centro comercial e hoje tomada pela grande Igreja de São José e de todas as festividades de grande monta.


Ela também não pode ser designada de "Largo do Théberge ". Ora, quando o famoso médico Pedro Théberge em Icó viveu no século XIX, aquele espaço já existia há duzentos anos, embora Théberge tenha mandado erguer o Teatro e administrado os melhoramentos da Casa de Câmara e Cadeia.



É certo que os tempos são outros e dos velhos tempos do Gado Bovino, quando era por aquele corredor que havia pouso para os vaqueiros, tropeiros e viajantes, com seus comboios. “Das antigas estradas do Ceará colonial, três são de fundamental importância para a compreensão do papel da pecuária na efetiva ocupação do território cearense: a estrada geral do Jaguaribe, a estrada nova das boiadas e a estrada das boiadas. A primeira seguia todo o rio Jaguaribe, do Icó à Aracati. A segunda partia do Rio Grande do Norte, alcançava o rio Jaguaribe e seguia o Anabuiú”. “Chegando em Quixeramobim. Daí partia em duas direções, uma para o lado de Crateús e a outra para o lado Sobral. A terceira alcançava o médio Parnaíba cruzando o sertão cearense. Partia de Icó, passava por Iguatu, Saboeiro, Tauá até o Piauí”. ²



Foi ao longo dessas estradas que de forma geral seguem as margens dos rios (Jaguaribe, Salgado, Acaraú, etc.) foram se estabelecendo as famílias dos colonizadores primitivos do Ceará (à exemplo do Rio São Francisco) e ao longo dos séculos fixaram a sua moradia, vindos de todos os cantos no Nordeste, de Pernambuco ou da Bahia e mesmo de Portugal. Gente que corajosamente embrenhou-se território adentro diante de todas as intempéries das caatingas e de quantas dificuldades advieram. "Aqueles que se aventuraram na empresa do Ceará eram ao mesmo tempo conquistadores, povoadores e colonizadores. Alguns, aventureiros apenas, mas, a maior parte, indivíduos com uma meta, uma vontade de engrandecer a pátria portuguesa e reviver os heroísmos dos primeiros penetradores do solo brasileiro. Carregavam no sangue a herança dos velhos troncos avoengos, a par de uma fé ardente, tanto no fervor da prática religiosa como na crença de que estavam dando um testemunho de tenacidade e firmeza". ³


Nesses territórios desenvolveu-se a cultura do gado e posteriormente a do algodão, que deram bases econômicas ao Ceará, e forneceram à Europa e Estados Unidos da América algumas matérias primas para a sustentação da revolução industrial.

Nesse contexto foi “a cidade do Icó, elevada à condição de vila em 1738, nasceu onde situava-se o arraial da família Monte com uma função eminentemente ligada ao comércio, pois ocupava uma posição estratégica na trama da atividade criatória. Situa-se a meio caminho entre as pastagens do Piauí, no vale do Parnaíba e o porto do Recife, no cruzamento das duas principais estradas das boiadas do Ceará colonial - a estrada geral do Jaguaribe e a estrada das boiadas – o que acentuou a sua importância na rede urbana em formação. Icó segue a lógica das cidades medievais que surgiram com o incremento do comércio e encontravam-se estrategicamente localizadas no cruzamento de dois caminhos. 

A função comercial de Icó, relacionada em sua origem à atividade criatória, persistiu até à sua estagnação econômica no século XIX. Mesmo com o declínio da economia pastoril em decorrência do surgimento das novas pastagens no sudeste brasileiro, em decorrência das secas de 1777-1778, 1790-1793 e posteriormente, no século XIX, com o aumento da produção algodoeira no vale do Jaguaribe; Icó manteve esta importância”. ²

Desta forma entendo que a Rua Larga merece um resgate de sua memória original talvez se criando ali um memorial ao Vaqueiro, ao gado e ao colonizador primitivo e não se eternizando como a "Praça do Forricó".



REFERÊNCIAS:



1. STUDART FILHO, Carlos. Vias de communicação do Ceará colonial IN : Revista do Instituto do Ceará. TOMO
LI / ANNO LI. Ramos & Pouchain. Fortaleza . Ceará. 1937, citado na obra de Jucá Neto
2. JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. No Rumo do Boi - As vilas do Ceará colonial ligadas à pecuária.
3. http://www.angelfire.com/linux/genealogiacearense/index_povoadores.html


Imagem: Montagem de Washington Luiz Peixoto Vieria