quarta-feira, 7 de março de 2018

PROCISSÕES DO BOM JESUS DOS PASSOS PELO MUNDO LUSITANO


Nosso Senhor dos Passos, ou Senhor Bom Jesus dos Passos, é uma invocação de Jesus Cristo e uma devoçãoespecial na Igreja Católica a ele dirigida, que faz memória ao trajeto percorrido por Jesus Cristo desde sua condenação à morte no pretório até o seu sepultamento, após ter sido crucificado no Calvário. (1)
A história desta devoção remonta à Idade Média, quando os cruzados visitavam os locais sagrados de Jerusalém por onde andou Jesus a caminho do martírio, e quiseram depois reproduzir espiritualmente este caminho quando voltaram à Europa sob forma de dramas sacros e procissões, ciclos de meditação, ou estabelecendo capelas especiais nos templos.
No século XVI se fixaram 14 momentos principais deste trajeto, embora o número tenha variado na história do catolicismode 7 a 39. Estes pontos principais são chamados de as estações ou os passos da Paixão de Cristo ao longo da Via Sacra ou Via Crucis. (2)
Na atualidade as procissões penitenciais, que faz memória do percurso de Cristo, desde o Horto das Oliveiras até seu sepultamento, que podem variar de 7, 14 ou 15 estações (ou passos), e o no último caso (15) a Ressurreição, cujo modelo foi adotado pelo papa João Paulo II  na noite da Sexta-feira Santa de 1991, no Coliseu, em Roma, quando o Pontífice resolveu estabelecer um maior vínculo entre as Estações da Via Sacra e os Evangelhos, cujas informações sobre a paixão de Cristo encontra-se dispersa pelos mesmos evangelhos.
Esta invocação se tornou muito popular em alguns países como Portugal e Brasil, dando origem a rica iconografia e onde existem inúmeras igrejas fundadas sob sua proteção, e na Quaresma são realizadas procissões especiais chamadas de Procissão dos Passos e Procissão do Encontro. (3)
Tais celebrações em muitos lugares são realizadas durante a chamada festa de Passos, geralmente organizadas pela Irmandade dos Passos, como por exemplo a procissão do Senhor Jesus dos Passos, organizada pela Real Irmandade do Senhor dos Passos da Graça, com sede na Igreja de Graça, em Lisboa, teve origem no ano de 1586, fundada pelo pintor Luís Alvares de Andrade..(4)

(Procissão do Bom Jesus dos Passos da Graça, Lisboa, Portugal)

Outras muitas outras cidades portuguesas, ou sob sua influência,igualmente realizam essa solenidade quaresmal, tais comoem o Porto, Braga, Volongo, Vila de Azambuja,Arroches, ou o distante Macau, na China.
(Procissão do Passos, em Macau, China)

No Brasil essa devoção se espalha de norte a sul. Umas datadas do século XVII, como é o caso da Procissão dos Passos do Recife (1654), ou de Olinda (1673),outras dos séculos que se seguem, até versões mais modernas.
                                        (Procissão do Passos, em Recife, Pernambuco, Brasil) 
                           (Procissão dos dos Passos, em Goiana, Pernambuco, Brasil)
(Procissão do Passos, em Olinda, Pernambuco, Brasil)

obs, 1,2,3 e 4 - Citações da Wikipédia.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A QUARESMA, A SEMANA SANTA E A ARTE BARROCA

Que seria da Semana Santa no Brasil sem a arte Barroca? Cristos, manietados, feridos, sofridos. Nossas Senhoras das Dores, da Soledade, da Piedade, chorosas, mães angustiadas. Senhores Mortos, e seus enterros, cobertos, em seus esquifes de pálio roxo, lanternas, tocheiros acompanhados por sua mãe dolorosa, ao som das matracas, meio às grandes e pomposas procissões e cortejos religiosos.


São essas obras de arte, belas e lúgubres, que penetram no imaginário popular católico e não católico no Brasil afora: Manuel Inácio da Costa (1763-1857), o maior santeiro da Bahia do século XVII, e que deixou escola e ainda Félix Pereira Guimarães, (Salvador 1736-1809), Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) em Minas Gerais, Manoel da Silva Amorim (1870-1873) em Pernambuco, e tantos outros artistas conhecidos e anônimos cujas obras enfeitam e embelezam as nossas seculares igrejas e arruam na Semana Santa.




Senhor Morto. Altar Mor da Igreja da Madre de Deus, Séc. XVIII, Recife/PE


Os êstases dos Santos e Santas Medievais, em comunhão com o eterno, tais como Santa Tereza D'Avila ou São João da Cruz, tão venerados nos séculos iniciais da colonização dos territórios brasileiros, por certo, influenciaram aos artifices daqueles tempos.


Santo Cristo. Altar lateral da Igreja do Espírito Santo de Deus. Século XIX. Recife/PE



São obras que expressam, também, a intimidade mística do artista, que em uitos casos eram membros das confrarias e irmandades daqueles distantes séculos XVII a XIX.

Obras de arte feitas em um período de afirmação nacional e também de auto-afirmação da Igreja Católica, em contraponto ao protestantismo - que abjurava este tipo de expressão artística - mundo afora, tanto na Europa, dividida pelas guerras de religião, quando no Brasil, em formação a partir do século XVII, quando a arte escultórica e pictórica começa a tomar corpo. Era necessário cactequizar o nativo e o africano com expressões fortes do sofrimento inexpugnável de Jesus., que "tanto sofreu, inocentemente, pela humandiade pecadora".

Bom Jesus da Cana Verde ou da Pedra Fria. Autor: Manoel da Silva Amorim. Sec. XIX. Recife, Permanbuco

Bahia, Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e o Pará, sem contar as obras pontuais em outras antigas províncias brasileiras, guardam essas obras seculares. Ora utilizadas ainda nas ações litúrgicas e para-litúrgica, ora compondo os museus de arte sacra.


Calvário - Altar lateral da Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antonio, Recife, Pernambuco

Talvez o observador de hoje, de geração mais recente, acostumado a imagens mais "clean", americanizadas, na era do hi-tech, sociedade esta secularizada e mesmo altamente protestanizada, que não acompanhou os rigores quaresmais anteriores ao Concílio do Vaticano II (1962-1965), que expurgou excessos medievais e tridentinos, não seja capaz de entender o que isso possa ou pôde significar.

Bom Jesus da Coluna, Século XIX. Manoel da Silva Amorim. Passos da Paixão

Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos do Recife (original) século XVII,

Talvez o observador não iniciado neste tipo de arte sacra as abomine. Certamente não entenda que o artista barroco fazia expressar no martírio de Jesus e em suas demais obras os horrores de seu tempo, tanto as torturas praticadas contra o preso comum, quanto àquelas infringidas ao escravo, seja negro ou índio.

Mas, são sobre essas obras de arte que paira a piedade popular católica e certamente a Quaresma e a Semana Santa não teriam seu brilho litúrgico, desnudadas – mesmo que sendo pouco – dos Cristos Crucificados, das Nossas Senhoras Dolorosas e das velhas canções penitenciais, aliadas à "magia" e o silêncio desses dias maiores, dos repicares de sinos e ao cheiro de insenso, exalados pelos turíbulos balançantes.


Todavia, a ênfase maior da piedade Católico- Colonial, refletia-se mais na prisão, sofrimento e morte de Jesus. O Cristo Ressuscitado, embora presente, aqui e ali, é mais raro, na escultura, aparecendo mais na arte pictórica, o que demonstra por certo uma certa descrença neste fato central da fé cristã, mas talvez expresse o medo da morte e do fogo eterno, que aliás era a ênfase maior da Igreja do Concílio de Trento (1545 a 1563).


Imagens: As obras acima são: 1) Senhor Crucificado: Mosteiro de São Bento, São Paulo/SP: 2) Senhor Morto, século XVIII, Matriz da Madre de Deus, Recife/PE: 3) Santo Cristo - Século XVIII - Igreja do Espírito Santo de Deus, Recife. 4) Passos da Paixão: Congonhas do Campo, obra de Aleijadinho; ,3) Manoel da Silva Amorim - Senhora da Pedra Fria (ou da Cana Verde) e Senhor da Coluna; 5) Altar do Calvário Matriz de Santo Antonio do Recife, que o autor deste texto desconhece, até o momento seus autores; 6) Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos do Recife (original) século XVII,

Texto/Pesquisa: Washington Luiz Peixoto Vieira.
Palavras-Chave: Arte Sacra, Barroco, Imaginário, Imagens Barrocas, Arte Barroca Recife/Olinda?Pernambuco/ Artistas Sacros.