segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CONTO: O SÁBIO E O CARROCEIRO



Doutor Holiformes, homem culto, astrólogo. Possuía a arte da quiromancia, da taromancia, da aeromancia, da salimancia, da psicocomancia, enfim de quantas “mancias” pudessem existir.

Passava todo o seu precioso tempo a estudar. Ora hermeticamente confinado em seu estúdio. Ora nas noites sem nuvens, passeava pelos arredores sempre a olhar para o céu, contando cada nova estrela que imaginava ter descoberto. Considerava-se o mais sábio homem da cidade, por isso não queria conversa com ninguém: Todos eram "burros", ignorantes, seres desprezíveis, sem saber, dizia.

Numa dessas noites, aéreo e despercebido, perseguindo com seus atentos olhos uma estrela cadente, caiu no fundo de um bueiro e de lá não pôde sair sozinho.

Era tarde, e não havia ninguém por perto. Gritou, gritou bem alto, mas nada, ninguém lhe ouvia nem vinha em seu socorro.

Enfim, passadas muitas horas, quando a madrugada já avançava em direção à aurora, viu que alguém colorara a cabeça no buraco.

- Tem alguém aí?

Era Chiquitus, pobre carroceiro, que procurava o seu burrico que havia desaparecido.

- Ah, é o doutor sabichão! Exclamou.

E retirou o sábio e orgulhoso Doutor Holiformes do buraco.


Ensinamentos para a vida:

1. Tenha a mente e a cabeça voltados para as coisas elevadas, mas não esqueça que você vive na terra.

2. Ninguém, é tão auto-suficiente que não precise do outro.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O VELHO MAGO E O FEIXE DE LENHAS


Era uma vez um grupo aprendizes de feiticeiros. Eles tinham sido escolhidos para serem os sucessores de um reino de magia. Tudo, aos seus olhos era belo, mágico, eles poderiam mais do que transformar qualquer matéria em ouro, eles materializavam os deuses. Seriam realmente grandes magos. Mas, ainda eram fracos e precisavam que os feiticeiros mais antigos lhes ensinassem grandes coisas e ensinamentos ocultos, antes que lhes fosse dado tão grande poder!

Por surpresa, o grupo dos jovens feiticeiros recebeu por mestre um antigo Mago que passara por todas as experiências da vida, e por muitas provas para chegar ao posto de Mestre-Feiticeiro. Era um homem bom, tão bom que parecia, às vezes ser ingênuo. Os jovens feiticeiros, também às vezes, o desprezavam, pois se achavam o máximo em sabedoria, haviam estudado em grandes universidades e adquirido graus de doutores, e o velho Mago havia estudado somente na escola da vida.
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O mais rebelde dos aprendizes, todavia, gostava muito do velho Mago, que era um homem muito paciente e compreensivo, e certo dia perguntou-lhe: - Mestre, como aprendeste a ter paciência?

O velho mago começou a contar.

- Filho, eu era um jovem impaciente e zangado. Morava numa aldeia, nas distantes terras do Sol. Éramos pobres, muito pobres. Eu, como sendo o mais velho, era o encarregado de percorrer as matas e juntar lenha para manter aceso o fogo de nosso fogão. Percorria a pequena mata e recolhia gravetos secos, paus maiores, madeiras diversas, enfim tudo o que podia, e sempre juntava grandes feixes de lenha, de forma a provir a maior quantidade e assim não voltar à mata tão rapidamente. Mas, ao contrario, com minha impaciência, chegava em casa, com metade do que havia juntado e tinha que voltar no outro dia para catar mais madeira.

E continuou:

- Certa vez juntei tanta lenha, que trazia amarrada sobre minha cabeça, mas aqui e ali caia algum graveto, que eu cuidava em juntar, mas a cada vez que juntava com raiva, todo o feixe despencava e eu tinha que junta-los, e sempre os juntava de forma tão apressada e desarrumada que logo adiante tudo se desmanchava de novo. E assim aconteceu por alguns anos. Certo dia todo o feixe se desmantelou e eu o joguei com força no chão. Nessa mesma hora me veio uma luz, como se alguém me dissesse: - "Apanha calmamente a tua lenha, junta pauzinho a pauzinho, com calma, amarra bem e não tenhas pressa, volta para casa bem devagar..." Assim o fiz, e procedi como a minha voz interior me havia dito. Juntei pauzinho a pauzinho, um a um, como se fossem jóias raras, amarrei bem o feixe de lenha e caminhei para casa sem pressa. Era tanta a lenha que passei vários dias sem voltar à mata. Foi assim, filho, que percebi que havia descoberto a virtude da paciência.


O aprendiz baixou a cabeça e pensativo refletiu que necessitava seguir os passos do mestre, e aprender que a paciência é uma virtude a ser cultivada, no dia a dia, no recolher de nossas lenhas para acender o fogo da vida. 

Conto de Washington Luiz P. Vieira
 

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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PARA PENSAR: O CARREIRISTA É SEMPRE UM BAJULADOR


Você conhece algum “carreirista”? Oh sim, claro que conhece! E como conhece... E em tempos de cata de votos muitos deles se revelam ao vivo em cores.

É uma figurinha fácil, está em toda parte. E não é um ser em extinção, muito ao contrário prolifera de forma vertiginosa, adubado pela ideologia do poder que permeia nossas culturas. 

Desde o jardim de infância ele estava presente. Era aquela menina ou menino que te dedurava para a professora – ou era você que fazia isso? Que puxava o saco da professora, que bajulava a diretora. Sempre o bonzinho/a obediente: Ou era o ‘sim’ ou era ‘o sim senhora’.  Pobre criança!

O carreirista não tem escrúpulos. Para ele a mentira, a dissimulação, a falcatrua são apenas ferramentas de ofício, e usa dessas ferramentas com uma simplicidade que parece estar colhendo flores num belo jardim. É o discurso político. Os olhos brilham quando conta uma estória mirando o seu objetivo de forma que o interlocutor fica convencido da verdade.

É incrível como o carreista mente. É o prostituto do sucesso. Anda antenado à cata dos talentos alheios para deles tirar proveito.

É um ser ‘sábio’. Tudo entende, tudo opina. É um gênio: Nasceu sabendo. É inteligente.

Todo o seu “vetor interno”, o seu motivo de vida, é a sua carreira. - E ele vai longe - Para ele sua carreira é o mais importante de tudo. O resto é detalhe, inclusive as pessoas que deveria amar que são apenas adorno  ou instrumentos a usar em seu redor.

Os grandes – e pequenos - tiranos do século XX poderiam estar perfeitamente visíveis nesta descrição.

Se tiver algum nas imediações, saia de perto, pode sobrar pra você. Ele/ela é perigoso/a. Corra, esconda-se, peça socorro, faça qualquer coisa. Mas saia de perto, insisto!

Ele é mais ou menos como um viciado em drogas, ou mais no crak – não pode viver sem ele - não adianta, está sempre ligado no seu vício que é subir na vida.

Nada mais lhe interessa, senão subir... Nem sabe exatamente para onde vai, nem no que vai dar, mas quer subir, assim como um balão que se infla e se autodestrói: Pobre carreirista!

Para o carreirista não tem ética nem estética: Tem carreira. Ele vai adequando-se a qualquer cenário, é uma espécie de camaleão corporativo. Muda de lado, de ideologia, de virtudes, de pensamento ao prazer de seus objetivos.

Você deve conhecer alguns, particularmente no mundo político, que mudaram de forma inimaginável sua forma de pensamento: Da esquerda para a direita, da direita para o centro... é um flutuante, ou seja uma “merda n’água”.

Suas opiniões possivelmente podem ser classificadas como kistch, feitas para agradar, não para questionar, por isso procura lições em literaturas de auto-ajuda ou livros de sucesso.

Portanto, amigo, leitor tome muito cuidado se você convive com essa qualidade de gente, você pode ser apenas um desses instrumentos a ser usado e descartado e aos possíveis leitores carreiristas:

Lembre-se que você, pensando ser o esperto ou a esperta pode ser apenas uma ferramenta na mão de outro carreirista mais esperto que você!


terça-feira, 14 de agosto de 2012

SAUDADES: IVANOÉ PEREIRA DE BRITO (1925-2012)


Conheci seu Ivan (como o chamava) há uns 13 ou 14 anos, cá no Recife. E de lá pra cá ficamos tão amigos que a relação de amizade transformou-se em relação de família. Era um homem essencialmente generoso!

Sua casa virou um referencial da ‘casa do pai’ dada a sua sinceridade e sua capacidade de acolher as pessoas. Seus conselhos um norte para as decisões que a vida nos induz a tomar.

Á menor dificuldade seu Ivan não negava a sua ajuda e sua compreensão
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Durante sua vida aprendeu a arte da mecânica, mais do que “um doutor” como um dia me disse um dos seus aprendizes de oficina mecânica: “ ele sabe montar e desmontar um carro”. 

Ontem, depois de longa enfermidade O Eterno o chamou para sua morada. E ele está lá junto de Deus, que com certeza depois de alguns dias de descanso pedirá a Ivanoé para dar aula de paciência e generosidade a muita gente boa que está lá por cima.

Saudades, Seu Ivan!

obs: Nascido em 1925 e falecido em 2012.

http://www.grupovila.com.br/localizacao-de-jazigo/?stxt1=IVANOE%20PEREIRA%20DE%20BRITO&ssel1=MO_REC&offset=

segunda-feira, 28 de maio de 2012

TIA NENÉM (1924-2012)

Neném Vieira, ou melhor Francisca Amélia Vieira, é a filha mais velha de Francisco (1898 - 1975) e Luíza Vieira (1905 1978) . Nascida na Rua da Cruz, em Viçosa do Ceará, em 1924. No ano de 1939 toda a família mudou-se para a casa da rua Padre Beviláqua, onde vive até os dias atuais.

Foi ali, na rua da Cruz, que Neném e suas irmãs mais novas, Amelinha, Nitinha e Dolena, brincavam na infância. Na época a cidade ainda voltava-se para aquelas bandas, perto das "Bananeiras", estrada de Granja, onde havia o antigo cemitério em ruínas. Era ali que as irmãs e suas companheiras brincavam, subiam nas fruteiras, percorriam os sítios, tomavam banho na Remelosa, brincavam de roda, mexiam nos ninhos dos passarinhos, recolhiam os ovos da galinhas, aprendiam o catecismo, e escutavam estórias de Trancoso, contadas pelo pai, na hora de dormir. Eram uma família feliz.

Por volta de 1932 ou 1934, diferentemente do que se entendia sobre educação de meninas, seu pai, que era integralista, matriculou as meninas mais velhas na "Escolas Reunidas de Viçosa do Ceará", instituição escolar fundada por iniciativa do Governador Justiniano de Serpa, em ato governamental de 16 de dezembro de 1922, e que funcionava no prédio, que havia sido o Hospício da Ibiapaba, pertencente à Companhia de Jesus, no século XVIII, junto à casa paroquial. Teve como professores Raimunda Viana Bezerril (Dona Carucha), Maria Estelita Chaves Matos, Maria Neuza Queiroz, Marizita Bezerra, Silvia Coelho de Albuquerque e Salústio de Pinho Pessoa.  Este prédio, infelizmente foi paulatinamente transformando-se em ruínas, sendo na década de 1970, edificado sob os seus alicerces o "Salão Paroquial", com recursos do Adiviat.

As Escolas Reunidas era um projeto do movimento Escola Nova, que defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita, lideradas pelo Educador Lourenço Filho, implementadas no Ceará a partir de 1923, em consonância com outros educadores em nível nacional, tais Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas Gerais, 1927, Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.

Nas Escolas Reunidas de Viçosa do Ceará, aprendeu as primeiras letras e o que hoje se pode considerar as primeiras séries do ensino fundamental. Posteriormente seus estudos foram complementados no Externato Clóvis Beviláqua, que funcionava no prédio do Catete,(4) instituição privada idealizada e dirigida pelo Drs. Armando Lousada, então juiz de Direito da Comarca, João Magalhães e Salústio de Pinho Pessoa, cujos colegas de turma foram Maria Rocha, Wanda e Domitila de Castro, Edson Urano de Carvalho, dentro outros.¹

Era o máximo que a educação em Viçosa conseguira avançar, mas o suficiente para a formação de professoras leigas, de forma que em 1948, ela passaria a ensinar, juntamente com Amelinha, na Escola particular pertencente ao Dr. Salustio de Pinho Pessoa e posteriormente na Escola Rural.

A "Escola Rural" foi um projeto piloto de erradicação do analfabetismo, "subscrita pelos deputados João Cleofas (UDN-PE), Alde Sampaio (UDN-PE), Gilberto Freire (UDN-PE), João Ursulo Ribeiro Coutinho (UDN-PB), Dolor de Andrade (UDN-MT) e Lima Cavalcanti (UDN-PE), em 8 de junho de 1946, a Emenda n º. 559 propunha que a União mantivesse as “escolas modelo, de tipo rural” com o objetivo de erradicar o analfabetismo e difundir o ensino técnico-profissional no “interior”, ³ em contraponto às ideias do Movimento de Educação de Base (MEB), e fundamentados na ideia de uma espécie de "Escola Nova Católica".

Esse projeto estava fundamentado na Carta Constitucional de 1946, promulgada em 18 de setembro de 1946 (Estado Novo), atribuindo à União a tarefa de fixar diretrizes e bases da educação nacional, mas ao mesmo tempo transformara , neste período pós-guerra,(6) a educação em um aparelho a serviço dos interesses e necessidades do Estado e do “culto à personalidade” de Vargas. A visão de uma educação disciplinadora e construtora de uma sociedade corporativista, pensada pelos setores conservadores desde a década de 20, assumira forma concreta no período 1937-45.²

No Estado do Ceará, este projeto passou a ser de responsabilidade dos municípios, cujos primeiros prefeitos eleitos pelo voto direto ocorreram em 1947, sendo eleito prefeito de Viçosa do Ceará em 1947, José Crispiniano Figueira (UDN – União Democrática Nacional), tendo a frente do projeto de educação dona Zilda Rosa Barros. Este projeto viria a ser encerrado por volta de 1950, quando assumiu a gestão municipal o grupo do PSD (PSD – Partido Social Democrata). Eram os tempos da políticas que mudavam da água para o vinho, conforme o sabor das eleições.

Assim, dona Neném foi nomeada para uma cadeira da "Escola Rural", porém nunca recebeu um centavo pelos serviços prestados ao Estado através de seu “projeto”. Sem receber o dinheiro suado com seu trabalho de mestra, por mais ou menos dois anos, passou com a o apoio de meu avô a dar aulas em casa, como professora particular, ora de reforço escolar, ora de alfabetização, ler, escrever, tabuada e noções de aritmética (como se dizia naqueles tempos).

Nesta nova empreitada, decepcionada com as "coisas de políticos", toda a casa era utilizada como escola. Como sala de aula, a sala de jantar e como banca de estudos a mesa de cedro de mais ou menos dois metros e meio de comprimento, que era a mesa de almoço. Essa mesa fora vendida em 1939 por dona Nenzinha Beviláqua (Martiniana), em conjunto com a casa, e que a tradição da família conta que a era onde o padre José Beviláqua utilizava para tudo, inclusive para realizar partos e cirurgias. A mesa ainda hoje está em nossa casa, uma relíquia de família, cheia de lembranças e muitas histórias...

Integrante da Pia União das Filhas de Maria, a mais importante associação católica de moças de meados do século passado, que agregava dezenas de jovens da paróquia de Viçosa, surgiu-lhe a vocação religiosa, cujo projeto seria o ingresso na Congregação das Irmãs Josefinas, que aquela época conquistara muitas moças, porém Amelinha, já se tornara Irmã Lúcia e Maria Helena (Dolena) Irmã Catatina, ambas filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, cautelosa, sendo a mais velha das irmãs, abdicou do projeto pessoal, dedicando-se à família. Com o pouco dinheiro que ganhava nas aulas particulares, ajudava no que podia nas despesas domésticas.

E daí por diante, até a década de 1970, seria uma das professoras particulares mais requisitadas da cidade, e por ela passaram várias gerações a alunos e alunas, de vários níveis sociais. Era na mesa da sala de jantar e espalhada pela casa toda que os alunos se assentavam.

Utilizando “modelos pedagógicos” hoje em desuso, muitos meninos levaram bons puxavancos de orelha e aprenderam a ler, escrever e a contar. Pouco, mas coisas essenciais para a vida simples da Viçosa daquelas anos.

Nos anos de 1970 ela ainda aventurou-se na formação de turmas do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), mas dona Neném já estava “cansada de guerra”, os tempos eram outros, as ideologias educacionais também e seus conhecimentos, outrora tão úteis, já não correspondiam ao que a legislação exigia! Era a vez das professoras formadas em Escolas Normais e ainda de algumas que tinham conseguido “cadeiras” do Estado.


Hoje Dona Neném, uma heroína da educação, já com os esquecimentos dos seus 88 anos, doentinha, lembra de pouca coisa, mas bem mais esquecida está a nossa Viçosa, que nunca prestou-lhe uma homenagem sequer, nem um preito de gratidão a essa antiga educadora, hoje, talvez a única remanescente daquela geração de pioneiros na educação viçosense.











CONCLUSÃO:

Dona Neném faleceu piedosamente às 20h15 do dia 3 de Junho de 2012 (domingo), tendo recebido o Sacramento da Unção dos Enfermos e  a Eucaristia, os últimos sacramentos cristãos.

Foi internada no Hospital Municipal de Viçosa no dia 21/05, como todos os homens e mulheres deste país, internada que foi na rede SUS (aquela mesma rede de saúde pública que foi motivo da Campanha da Fraternidade da CNBB) como seu último Calvário.

Durante seus últimos momentos esteve assistida por suas irmãs Carmélia e Irmã Lúcia (Amelinha), pela atenciosa jovem Priscila, familiares e  amigos,  foi velada em sua casa e sepultada no Cemitério São João Batista de Viçosa do Ceará.

Uma vida santa, sem mácula. Solteira e Virgem. Com toda a certeza posso afirmar, como testemunha de sua vida,  que ela encontra-se na Morada dos Justos, onde contempla a Sagrada Face de Deus!


REFERÊNCIA:

1. Informações da biografada, naquilo que ela conseguiu se lembrar. Aos passos que a mesma for lembrando-se reeditaremos o texto.
2. Os liberais e a educação: a UDN e a vinculação de recursos para a educação na Constituinte de 1946. Wellington Ferreira de Jesus – UFG
3. Idem Ferreira de Jesus.
4. O Prédio do Catete, localiza-se na atual Rua Professor João Viana, nº 520 , onde hoje funciona o Cartório do Segundo Ofício.



GENELALOGIA DE DONA NENÉM VIEIRA:
http://iconacional.blogspot.com/2009/03/blog-post_18.html

http://iconacional.blogspot.com/2009/05/familias-vicosenses-marques-viana.html
Foto modificada em 28/04/2010

Texto atualizado em 07/05/2010, com a inclusão de professores anteriormente não informados, após informações complementares de dona Nonón Bizerril, de Viçosa do Ceará

Texto atualizado em 07/06/2012, em razão de sua morte.




sábado, 12 de maio de 2012

APARIÇÕES DE FÁTIMA




Cercadas de grande mistério em uma Europa amedrontada em 1917 por sucessivas crises, novos movimentos que abalavam as estruturas do velho mundo e à porta da primeira grande guerra, as aparições de Maria, em Fátima, Portugal, foram as mais contundentes manifestações místicas católicas do século XX. Paradoxalmente Fátima é uma das filhas de Muhammad, profeta do Islão, e da sua primeira esposa Cadijalem, portanto, lembrança dos árabes que invadiram e ocuparam a Península Ibérica pela terceira vez entre 1341 a 1492.


Eram tempos em que o positivismo e o materialismo impunham suas ideologias ao mundo da política e das relações sociais. O século XIX que acabara de chegar ao fim, foi pródigo em levantes, insurreições, guerras civis contra a ordem estabelecida em favor da liberdade e da democracia e juntos com esses movimentos, muitas mudanças de costumes considerados imorais pela ótica cristã. O cenário bucólico de Fátima remete saudosamente a épocas perdidas e ao controle medieval da Igreja sobre as populações da Europa.

A Igreja Católica, monárquica e apoiadora das monarquias, embora enfraquecida pela tomada dos antigos territórios pontifícios, via mais uma vez a sua solidez doutrinária abalada, o papa Pio IX já se declarava prisioneiro do Vaticano desde 20 de setembro de 1870, embora que Leão XIII, sensível a questões sociais, já tivesse aberto a igreja para as coisas novas e verificado que o capitalismo e a industrialização eram irreversíveis. Mas o capitalismo era (e é) conservador por isso não foi assim tão difícil à Igreja aceitá-lo e inserir-se neste mesmo modelo econômico, inclusive com seus bens espalhados por toda a terra.

Após relativa paz entre as nações européias no século XIX as rivalidades entre essas nações explodem violentamente em 1914, com o que se designou de Primeira Guerra Mundial. “De um lado estavam Alemanha, Áustria-Hungria, o Império Otomano e a Bulgária (Poderes Centrais/Tríplice Aliança), enquanto que no outro lado estavam a Sérvia e a Tríplice Entente – a elástica coalizão entre França, Reino Unido e Rússia, que ganhou a participação do Reino de Itália em 1915 e dos Estados Unidos em 1917. Embora o Império Russo tenha sido derrotado em 1917 (a guerra foi uma das maiores causas da Revolução Russa, levando à formação da comunista União Soviética), a Entente finalmente prevaleceu no outono de 1918.”4

Foi nesse contexto de grandes incertezas que três crianças pobres de Fátima, em Leiria, Portugal, que cuidavam de rebanhos teriam tido visões, que arrebaratam multidões de portugueses a cada dia 13, que foram inicialmente desacreditadas pelas autoridades eclesiásticas portuguesas, mas posteriormente aceitas inclusive pela Santa Sé, como aparições de Maria, a Mãe de Jesus, conhecida neste episódio místico-religioso como Nossa Senhora de Fátima.

As mensagens das aparições consistiam em várias revelações e profecias apocalípticas sobre o futuro, duas das quais, referentes à 1º e 2º Guerras Mundiais, à conversão política da Rússia e a terceira que foi interpretada pelo Vaticano como sendo o atentado ao Papa João Paulo II na tarde de 13 de maio de 1981.

Segundo Reis, com o olhar histórico-sociológico, “Fátima surgiu-nos, assim, como uma imagem em construção no contexto da enorme tensão existente na sociedade portuguesa entre 1917 e 1930 em torno da questão religiosa. Uma representação elaborada, no caso da nossa análise, por um grupo bem definido e necessariamente atento a fenômenos do tipo de Fátima: os católicos. Ou, mais precisamente, a elite militante dos católicos, aqueles que escreviam nos jornais católicos, os liam e protestavam contra artigos que lhes desagradavam, produzindo, assim, os textos que agora nos servem de fonte. Um objeto cultural produzido no contexto de uma sociedade dominada pela ansiedade relativamente à decadência nacional e por esperanças messiânicas, seculares ou religiosas”.¹

As aparições foram divulgadas pelo mundo afora e a devoção a Nossa Senhora de Fátima. “porém, só em 1930 é que a Igreja (...) reconhece Fátima. Um reconhecimento oficial a que não terá sido alheio (...) o golpe militar de 28 de Maio de 1926. O novo regime, obscurantista católico, saído deste golpe militar e presidido pela dupla Salazar-cardeal Cerejeira, A Senhora de Fátima, com a mensagem retrógrada, moralista e subserviente que lhe é atribuída e que, ainda hoje, vai tão ao encontro da generalidade dos nossos funcionários eclesiásticos católicos e do paganismo religioso-cristão das nossas populações”³

Mesmo quando aceitas pela oficialidade da Igreja, “que, ao contrário do que pensa a maior parte das pessoas, mesmo não católicas, as aparições de Fátima não fazem parte do núcleo da Fé cristã católica, o que quer dizer que se pode não acreditar em Fátima e continuar a ser cristão católico romano”³

Fato foi que por todo o século XX as 'Aparições de Fátima' foi algo muito comentado, principalmente em torno da divulgação de um Terceiro Segredo que era guardado a sete chaves no Vaticano. Havia mil e uma especulações sobre o seu conteúdo. Aberto e divulgado em 26 de julho de 2000, por ordem do papa João Paulo, e interpretada pelo então Cardeal Ratzinger. Divulgado o tal segredo, que não continha algo tão assustador assim, o sensacionalismo midiático sobre Fátima esmoreceu, mas a devoção continua firme principalmente nos meios mais conservadores dos fies católicos.

Até os dias atuais é uma das maiores expressões de devoções marianas conhecidas no mundo. Em Portugal seu santuário é visitado por miliares de turistas, o que significa milhares de euros, inslusive considerado âncora do turismo religioso em Portugal. Segundo o blog Bordado de Murmuriossom, de esmolas são nada menos do que vinte milhões de euros anuais que Fátima arrecada e que o Vaticano pretende administrar.6 Assim, mais do que fé, Fátima significa também dinheiro, empregos permanentes a milhares de trabalhadores portugueses e à indústria do turismo internaciona. Numa Europa em crise o turismo religioso é uma de suas salvações!

Não obstante acalorados debates sobre o fato das "aparições", que vão desde a sua aceitação incondicional, à manipulação da Igreja, a embuste de forças satânicas² (como postulam algumas seitas protestantes), a fenômeno parapsicológico, loucura coletiva ou até de presença de alienígena.

O que me chama atenção nas "aparições" de Nossa Senhora, principalmente aquelas que foram divulgadas no século XIX, tais como Medalha Milagrosa (Paris em 1830), La Salete (Alpes franceses em 1832), Lourdes (França em 1846) todas na Europa e para europeus e voltam-se exclusivamente para o mundo europeu e em seus interesses, naquilo que causa transtorno à Europa, embora a mensagem de Fátima fale ao mundo, ao materialismo, à destruição planetária pelas armas, à crise de fé, à Igreja Católica e suas instituiçoes. Porém não se tem notícia de '"aparições", por exemplo, a nenhuma negra escrava brasileira, ou em denúncia à escravidão, ou apontando o holocausto dos judeus (Maria era judia), ou apontando à exploração de crianças e mulheres, ou de sofridos trabalhadores nas minas, nem tampouco denunciando o colonialismo do século XV ou o neocolonialismo do século XIX que explorou da Ásia à África. Nunca há uma censura mínima ao Capitalismo, mas uma condenação permanente do Socialismo- Comunismo. Terão os céus preferências étnicas, políticas e territoriais? 

Diante de um mundo que teve todo o seu riscado geo-político e moral desfeito por todo o terrível e breve século XX, Fátima, certamente, foi e ainda é uma das maiores revelações marianas e alerta constante ao perigo da guerra, a final 70 milhões de mortos, inúmeráveis destruições e tantas misérias causadas pelas terríveis guerras do século XX é algo a se pensar!

NOTAS/REFERÊNCIAS
1- REIS, Bruno Cardoso. Fátima: a recepção nos diários católicos (1917-1930), in Análise Social, vol. XXXVI (158-159), 2001, 249-299. http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218726389B6wUN4av8Kk06UC7.pdf
2. http://www.adventistas.com/novembro/art06119903.htm
IVEIRA, Mário. Fátima Nunca Mais, 6ª ed., Porto, Campo das Letras, Editores S.A., 1999
3. http://embusteiros.blogspot.com.br/2009/05/fatima-um-embuste-da-igreja-catolica.
4. Wikpedia
5. http://bordadodemurmurios.blogspot.com.br/2006/02/ftima-so-vinte-milhes-de-euros-anuais.html

Texto de Washington Luiz Peixoto Vieira. Imagem:  Montagem do autor.

Atualizado em 13 de maio de 2017.