ICÓ E SUAS REVOLUÇÕES LIBERTÁRIAS
Da chama republicana à abolição precoce: três momentos de coragem e ruptura no Sertão cearense
Por Washington Luiz Peixoto Vieira
A SOMBRA DE 1817: O PLANO QUE NÃO SE CUMPRIU
Em março de 1817, Pernambuco ergueu-se contra o domínio português e proclamou uma efêmera república. O ideal de liberdade contagiou as capitanias vizinhas — e Icó não ficou fora do mapa dos conspiradores.
Pesquisas recentes revelam que os líderes da Revolução Pernambucana pretendiam expandir o movimento pelo interior do Ceará, tendo a vila de Icó como um dos pontos estratégicos para a resistência. O historiador Sérgio Roberto da Silva (UEG) menciona a elaboração de um plano de ataque à vila, visando incorporá-la ao território libertário do Nordeste.
O plano, porém, nunca se concretizou. As tropas imperiais sufocaram a revolta antes que ela cruzasse os sertões cearenses. Ainda assim, o nome de Icó ficou registrado como parte do horizonte político do republicanismo nascente, prenúncio de um papel maior que viria poucos anos depois.
1824: QUANDO ICÓ FOI CAPITAL DO CEARÁ REVOLUCIONÁRIO
Sete anos depois, o estopim reacendeu. Em 1824, o Brasil recém-independente vivia sob a Constituição imposta por D. Pedro I — um texto centralizador, que desagradava aos ideais liberais do Nordeste. Assim nasceu a Confederação do Equador, movimento republicano e separatista que uniu Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
No dia 11 de julho de 1824, a Câmara Municipal de Icó reuniu-se em sessão solene e declarou desobediência ao governo imperial, proclamando um Governo Provisório confederado. Por alguns dias, Icó tornou-se a capital política do Ceará revolucionário.
As notícias corriam pelas estradas poeirentas: os ícoenses haviam aderido à causa da liberdade, erguendo-se contra o poder do Rio de Janeiro. Contudo, a vitória seria breve. Tropas fiéis ao Império marcharam sobre o sertão, reprimindo o levante com violência. Muitos foram presos, outros fugiram, mas o gesto ficou gravado na memória coletiva — Icó havia se insurgido.
1883: O BERÇO DA LIBERDADE NEGRA
O ato foi simbólico e revolucionário: uma cidade do interior, movida por um sentimento humanitário, rompeu com o regime escravocrata cinco anos antes da Lei Áurea. Documentos municipais registram que senhores locais, influenciados por padres, professores e jornalistas, contribuíram com dinheiro para comprar as cartas de liberdade.
A data é celebrada até hoje como um marco da luta abolicionista cearense, consolidando o Icó como berço de liberdade no sertão do Império.
HERANÇA DE REBELDIA
Fontes consultadas:
- Revista História UEG (artigo
     sobre a Revolução de 1817 e o plano de Icó).
- Portal oficial da Prefeitura
     Municipal de Icó.
- Fundação Sintaf e Bahia.ws (bicentenário da Confederação do Equador).
- Educapes/CAPES
     (projeto As Muitas Vozes de Icó – CE: Ensino de História Local e
     Memória).Arquivo Nacional (página temática Confederação do Equador) —
     para processos, ofícios e correspondência. Serviços e Informações do
     Brasil
- Hemeroteca Digital da
     Biblioteca Nacional — jornais do período (proclamações,
     manifestos, listas). Hemeroteca PDF
- Repositórios universitários
     (URCA, UFC, UNILAB, UF C, UCS) — para teses e dissertações
     mencionadas. eduCAPES+2Repositório UCS+2
- Periódicos acadêmicos
     (SciELO, Revista do Instituto do Ceará, anais locais) — artigos sobre
     indígenas, participação local e memórias. scielo.br+1
 
 
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