quinta-feira, 30 de outubro de 2025

 OS TEIXEIRA DO CAPIM PUBO: A LINHAGEM DE JOSÉ TEIXEIRA MENDES E MARIA TEIXEIRA DE MELO

Por Washington Luiz Peixoto Vieira

I. O Capim Pubo e o sertão icoense no limiar do século XX

No final do século XIX, o Icó vivia um tempo de lenta recuperação após as grandes secas de 1877 a 1879, que despovoaram o sertão e transformaram profundamente sua economia e paisagem. As fazendas tradicionais, fundadas ainda no período colonial, resistiam à aridez e à dispersão populacional, sustentadas por laços de parentesco, religiosidade e trabalho rural.
Entre essas propriedades, destacava-se o Capim Pubo, uma das glebas históricas do município, pertencente a diversas famílias, que se estendiam até a Fazenda Pilar, mais tarde adquiridas pelos Costa, de quem eram parentes. Foi ali que os Teixeira e os Pequeno se instalaram e criaram suas famílias desde o início do Oitocentos. Suas terras férteis, próximas ao Riacho Jorge Mendes e às vazantes do Salgado, garantiam criação de gado, lavouras de subsistência e pequenas plantações de algodão — principal produto comercial da região⁽¹⁾.
O Capim Pubo era adjacente ao sítio conhecido como Carro Quebrado, e ali mesmo existia uma capela dedicada a Santo Antônio, edificada em 1870, por ocasião da ordenação sacerdotal do padre Reinaldo da Costa Moreira. Em anexo havia o cemitério da família. Os Teixeira e Costa, já eram famílias unidas por diversos matrimônios. A pequena ermida servia de centro espiritual e social para os moradores das redondezas, acolhendo novenas, batizados e celebrações em torno do santo protetor das casas sertanejas, por lá até o padre Cícero Romão se hospedou, colega que era do padre Reinaldo.
O Capim Pubo não era apenas uma fazenda: era um núcleo de convivência familiar, um pequeno mundo sertanejo onde as famílias se organizavam em torno de casas grandes, capela e currais. Ali se reuniam filhos, genros, afilhados e trabalhadores, reproduzindo um modo de vida patriarcal, profundamente ligado à fé católica e às irmandades religiosas do Icó, especialmente as da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ⁽²⁾., mais próxima da localidade.
Foi nesse ambiente, entre as tradições herdadas do tempo colonial e os desafios de uma sociedade rural em transformação, que se formou a linhagem dos Teixeira Mendes do Capim Pubo.


José Teixeira Mendes




Dona Maria Teixeira de Mello (Inez)

II. Origens familiares:
José Teixeira Mendes nasceu em Icó, Ceará, a 19 de março de 1877, e faleceu em 12 de janeiro de 1935⁽³⁾. Era filho de Francisco Teixeira Mendes (Júnior) e Maria Felícia Pequeno, pertencente a uma das mais antigas famílias do sertão icoense.

José Teixeira Mendes faleceu em 1935, e Maria Teixeira de Melo em 23 de junho de 1936. Ambos estão sepultados em Icó, onde suas lápides permanecem preservadas e foram recentemente fotografadas¹¹.
Era neto de Francisco Teixeira Mendes e Córdula Nobre da Silva, e bisneto de João André Teixeira Mendes, nascido em 17 de março de 1771 e falecido por volta de 1864. João André foi Tenente-Coronel, e é dele que provém o apelido familiar “Canela-Preta”, herdado por seus descendentes e perpetuado na tradição oral local⁽⁴⁾.
Casou-se o Tenente-Coronel João André, com sua prima Maria Demétria do Coração de Jesus, filha de Francisco Teixeira Mendes, seu tio e Maria José dos Milagres (Alves Pequeno), unindo dois ramos da mesma linhagem. O pai de João André, Sargento-Mor Manoel Alexandre Teixeira Mendes, nascera na Paraíba e casara-se em 16 de abril de 1776, em Icó, com Maria Catarina Sebastiana de Arendes⁽⁵⁾.
O Sargento-Mor faleceu em 29 de setembro de 1827, sendo provavelmente sepultado na Igreja do Rosário ou da Expectação, templos tradicionais das famílias brancas e mestiças locais, cujas irmandades reuniam os principais proprietários do sertão⁽⁶⁾.

III. A linhagem materna: os Pequeno do Icó e do Crato
A mãe de José, Maria Felícia Pequeno (1840–c.1900), era uma das dezesseis filhas do Coronel Antônio Luís Alves Pequeno, natural da Paraíba, patriarca dos Pequeno do Icó e do Crato⁽⁷⁾.
Antônio Luís nascera por volta de 1805, e foi casado com Quitéria Moreira Pequeno, conhecida como Soledade, filha de Manoel Moreira Maia e Ana Felícia de Jesus.
O Coronel Antônio Luís foi proprietário da Fazenda Campo Verde, em Icó, e morador do Capim Pubo, terras que permaneceram sob domínio da família até 1975, quando foram desapropriadas pelo Governo Federal para a implantação do Projeto de Irrigação do Icó–Lima Campos⁽⁸⁾.
IV. O casamento e a descendência de José Teixeira Mendes:
José Teixeira Mendes casou-se com Maria Teixeira de Melo, conhecida como Dona Ignez Teixeira de Melo, nascida em 1882, filha de Joaquim Marinho de Melo e Ignez Nobre Teixeira⁽⁹⁾.
O casal viveu entre o Icó e as terras do Capim Pubo, consolidando uma importante família sertaneja. Tiveram nove filhos:

Inês Teixeira Mendes

1. Inês Teixeira Mendes (1882–1956), casada com Sinfrônio da Costa Moreira;

Ana Teixeira Mendes


2. Anna Teixeira Mendes, conhecida como Santana (1892–1942), casada com Alcides da Costa Moreira — dois irmãos que se uniram a duas irmãs;
4. Maria Teixeira Mendes, falecida solteira;

Dulcinèia Teixeira Mendes

5. Dulcinéia Teixeira Mendes (Tiéia), casada com Odon Tavares, sem descendência;
5. Joaquim Teixeira Mendes (Quinco, 1897–1955), casado com Maria Costa Teixeira (1906);

Eliza Teixeira Mendes

6. Eliza Teixeira Mendes (1899–1975), casada com Urbano Peixoto de Medeiros (1896–1989)¹⁰;
7. José Teixeira Mendes, casado com Cecí Sampaio;
8. Francisco Teixeira Mendes (falecido em 1923), casado com Florentina Peixoto da Silva (1892–1981), irmã de Urbano Peixoto;

Ambrosina Teixeira Mendes

9.Ambrosina Teixeira Mendes (Tibó), falecida solteira por volta de 1987.

V. O ramo de Manoel Teixeira de Mello:
Manoel Teixeira de Mello, irmão de Dona Ignezinha, casou-se em 14 de julho de 1902 com Ana da Costa Teixeira, filha de Raimundo da Costa Moreira e Alexandrina da Costa Moreira. Dessa união nasceram:
1. Joaquim Teixeira de Mello (Quinquinho, n.1904) — casado com Rita Nogueira Monteiro;
2. Antônio Teixeira de Mello (n.1905) — faleceu solteiro;
3. Maria Teixeira de Mello / Maria Costa Teixeira (n.1906) — casou-se com seu primo Joaquim Teixeira Mendes (Quinco); tiveram um filho, Carlos Eugênio Teixeira;
4. Francisca Teixeira de Mello (Fransquinha, n.1908) — casada com Heitor Viana, pais de Ana Lúcia Teixeira Viana;
5. Pedro Teixeira de Mello (1908–1982) — faleceu solteiro;
6. José Teixeira de Mello (1914–1934) — faleceu solteiro;
7. Alexandrina Teixeira de Mello (Aldina, 1914–1970) — casada com José de Sousa Rolim.

VI. Considerações finais
O ramo dos Teixeira Mendes do Capim Pubo representa uma das famílias de maior expressão histórica do sertão icoense, entrelaçando-se com as linhagens Pequeno, Melo, Moreira e Peixoto.
Suas raízes remontam ao período colonial, quando o Sargento-Mor Manoel Alexandre Teixeira Mendes estabeleceu residência no Icó, e seus descendentes se tornaram proprietários rurais, políticos locais e membros ativos das irmandades religiosas.
O Capim Pubo, hoje lembrado apenas como nome histórico, é uma extensa área que vai deste áreas suburbanas do Icó e se estende pelas várzea do Rio Salgado até perto da fazenda Pilar. Nada mais resta do que foi do passado. Se o povo esquece suas memórias, o governo federal fez questão de enterrá-las em 1973.
Notas
Inventário de Manoel Alexandre Teixeira Mendes.
Registros da Irmandade do Rosário do Icó.
Lápide e registros orais, fotografia de 2024
Tradição oral dos Teixeira Mendes e registros de batismo, Freguesia de Icó.
Livro de Casamentos, Icó, 1776.
Arquivo da Diocese do Crato, séries de óbitos e assentos de irmandades.
Depoimentos familiares e registros de batismo no Crato, 1830–1860.
Decreto de desapropriação do Capim Pubo, 1975, Ministério da Integração.
Família Melo–Nobre, Arquivo da Diocese do Crato, 1890–1905.
Registro civil, Icó, 1918.
Cemitério de Icó, fotos 2024.

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