Não escutes a minha voz:
Ela é apenas a amargura
Do coração de um guerreiro!
Não olhe para as minhas lágrimas:
Elas são apenas o resto do pranto
Pela partida do amigo!
Quisera ser Zeus e raptar-te antes da morte
Ó meu Ganímedes,
Talvez eternamente alimentásseis aos deuses
E aos homens com o néctar da imortalidade,
Mas sou apenas um guerreiro que sofre
A partida daquele que mais amava!
Meu amigo, meu amado.
Quis o destino, ó Babilônia
Que tombasse ali, seu corpo inerte
Que transformei em divino herói
Edifiquei templo, culto:
Ò minha idolatria em forma de carne.
Que me vale Grécia, Pérsia, os mares e os desertos?
Partiste, estou só.
Com quem partilhar os meus sentimentos
Os meus segredos a minha solidão?
Com quem brincar de guerra
Lutar com Ares
Filosofar, cair nos braços de Afrodite ou Baco
Prefiro ser um Narciso nos campos de Apolo
Sou sombras de mim mesmo
Ó Hermes, não me avisaste!
Prefiro a morte, andar pelo Vale de Hades
A ver-me só sem o meu amigo!
Sou Alexandre, o Grande, o Imperador da Macedônia
Mas não sou nada sem ti ó amado Heféstion.
Poesia de Washington Peixoto, inspirada em Alexandre da Macedônia e seu amigo Heféstion. Clássicos da cultura grega (publicada em julho de 2010, reeditada. Imagem: Internet)
sexta-feira, 5 de abril de 2019
ICÓ, 1861 - O ÚLTIMO BAILE
31 de Dezembro de 1861.
As festas de fim de ano do Ceará daquele ano foram animadas. Por conta da guerra de secessão nos Estados Unidos o algodão subira de preço, a carne seca também, o couro curtido atingira cifras astronômicas.
Icó ainda era a próspera princesa do sertão, plantada às margens do salgado. Rica e opulenta sociedade sertaneja.
Para aquele festivo ano foram marcadas muitas festividades. Os salões da elite comercial icoense eram muito concorridos. Tudo prometia ser a melhor festa dos últimos anos.
O principal baile, marcado para o 31 de dezembro, no corpo do Teatro ainda novo, foi organizado por dona Maria Elise e Dr. Pedro. Um grande baile. Vinhos, espumantes, demais bebidas espirituosas, doces, salgados, assados tudo se preparava de forma magnífica.
O baile foi inesquecível. Era só o que se falava, tinha endoidecido o Icó. Nas casas, nos lojas, nas calçadas, nas ruas, tudo era motivo de comentário: Os cavaleiros em seus trajes de festa, damas no mais fino veludo e seda à exemplo das modas do Rio de Janeiro, comprados a 60 ou 80 mil reis cada, que rivalizavam entre si as mais importantes senhoras, as moças que foram roubadas naquela noite, os namoros indecorosos, os flertes, os arranjos de casamento, os maus comportamentos de algumas donzelas. Foi a festa da tafularia sertaneja: Luxo só.
Seria o venturoso ano de 1862.
A procissão com Bonfim, com seus três andores e o pálio do Santo Lenho em relicário e lanternários em prata, não foi de penitência, mas de agradecimento pela prosperidade. Todavia a direção da fumaça dos fogos, agouro observado, parecia indicar que alguma coisa oculta haveria naquele ano de 1862 e que não era boa...
O tempo, dono de si, a todos surpreende. Ás vezes imensas alegrias de um momento são o anúncio de uma grande dor, por vezes, ao contrario grandes tempestades e provações são prenúncios de vitórias e alegrias.
E nisso nem se imaginaria que o ano de 1862 seria não o ano de boas venturas para o Ceará e para o Icó e que seria o marco inicial da decadência da próspera vila sertaneja.
E assim foi.
Por volta de abril daquele ano, eis que os ventos fatais do cólera morbo invadiram as terras quentes do sertão, em pleno inverno que se mostrava regular e desta moléstia morreram um terço da população. Horror sobre horror, dor sobre dor. Não havia mais lugar para o sepultamento dos mortos. O Icó tingiu-se de preto em luto fechado e por muito tempo não se via mais gente nas rodas das calçadas no alegre conversar diário, nem janelas abertas com belas moças entretidas a observar os passantes...
- Valei-me meu Senhor do Bonfim! Valei-nos São Sebastião! Pedia o povo em procissão, rogando ao céu a suspensão da praga. Penitentes disciplinavam-se com seus silícios à correr sangue à frente da igrejas ou nos lugares ermos.
Porém o céu não atendeu às súplicas. Famílias inteiras foram dizimadas, noivos e namorados, cheios de vida e esperança no belo futuro, separados pela morte prematura, órfãos e viúvas ao desamparo, viúvos a procurar novas esposas sem encontrar mulheres disponíveis ao casamento.
Casas e sobrados abandonados, com todos os seus pertences, famílias e mais famílias fugiram do Icó com medo da morte, em busca de terras mais saudáveis.
O Icó tornara-se terra mal-assombrada.
E assim o ano de 1862 e 1963 foi uma das eras mais tristes da história do Icó.
Mas há quem afirme que, nas passagem de cada ano, ainda se escutam alegres vozes, risos e tilintar de cristais vindo de dentro do velho teatro, sem que lá esteja uma viva alma...
Criação de Washington Luiz Peixoto Vieira, escrito em homenagem a José Ronald de Carvalho Fontenele, que gentilmente me ofertou a obra "Diário de Viagem de Francisco Freirte Alemão" de cujas preciosas informações fomos capazes de idealizar esse texto/conto.
Criação de Washington Luiz Peixoto Vieira, escrito em homenagem a José Ronald de Carvalho Fontenele, que gentilmente me ofertou a obra "Diário de Viagem de Francisco Freirte Alemão" de cujas preciosas informações fomos capazes de idealizar esse texto/conto.
Ficção bom base e alguns dados históricos.Imagem: Montagem a partir do interior do Teatro do Icó, com várias figuras clássicas
MALASSOMBRADOS: A PROCISSÃO DAS ALMAS PENADAS
Pelos idos anos de 1894, aconteceram fatos extraordinários na antiga Vila Viçosa Real. Naqueles tempos o Brasil, respirava os ares da República, e a Igreja e Estado haviam cortado os laços de unidade, e o povo nada entendia do que acontecia e o bispo do Ceará exortava o seu rebanho “a orarem pela Igreja e Pela Pátria e premunindo-se contra os vícios à Santa Religião” alertava contra os “perigos do positivismo, do republicanismo e do protestantismo” (Carta Pastoral de 25 de março de 1893).
Eram tempos de mística e de ceticismo. De acomodação e revolta. Eram tempos difíceis!O mundo europeu, ainda não entrara em guerra, mas estava prestes a envolver-se na terrível carnificina de cristãos contra cristãos e a Rússia não caíra nas mãos dos comunistas. Mais isso era coisa distante, Viçosa nem rádio tinha e o que interessava era que por ali já escasseava a farinha de trigo e já não havia pão e foi neste clima que houve uma verdadeira revolta das almas, contavam os mais antigos. Se aqueles não se reviraram no túmulo, diante de tanto horror, da mudança de era e costumes que adviriam, suas almas, pelo menos, manifestaram-se de forma paranormal pelas ruas da cidade.
Assim, pois, narram que houve uma procissão de almas pelas ruas, nas altas horas, que só hoje mortos também poderiam confirmar, uma vez que estes foram as testemunhas oculares.
O velho cemitério da Rua da Cruz, ainda existia por volta de 1930, embora abandonado. Os ossos das vítimas da “Tragédia da Tabatinga” ainda estavam lá, os do cólera-morbo de 1860, já eram esquecidos. Os tatus, conhecidos e vorazes freqüentadores de cemitérios, ainda tinham seus buracos por ali, gatas pariam nas gavetas abertas dos velhos túmulos de barro cru, bodes e vacas pastavam e aqui e ali alguma ossada misturava-se com o mato, somente o velho cruzeiro do século XVII, à porta do campo santo tinha vida, era local de peregrinação, rezas e acender de velas para as almas do purgatório. Por volta de 1957, foi construído sob os alicerces antigos, o Hospital e Maternidade Coronel Felizardo de Pinho Pessoa.Por volta de 1850, começaram as proibições do enterro nas igrejas, pois os desprendimentos de gases e de odores fétidos, oriundos das sepulturas, já haviam sido sentidos no interior da igreja matriz. Os sanitaristas acusavam essa prática de ser a causadora de várias moléstias e epidemias urbanas, inclusive pestes que devastaram mais de um terço das populações no século XIX.
Foi neste contexto, aliado às legislações sanitárias que já entravam em vigor, que se fundou o cemitério público-cristão na região nordeste da cidade, que ficou sob administração eclesiástica dos vigários paroquiais. Até então, os cemitérios, eram considerados campos-santos, locais sagrados, uma extensão da igreja.
Segundo relatos o cemitério ficava “ao nordeste da cidade, no fim de uma das ruas melhores, ocupando quatrocentos palmos em quadro de terreno, que foi doado por dona Inocência Maria da Conceição, já falecida. Foi edificado em 1863 pelo reverendo missionário de então, o padre José Tomás de Albuquerque, atual cura de Santana da Ibiapaba, com o auxílio e trabalho do povo viçosense; é bem construído, sendo de pedras suas grossas paredes; está mal colocado, visto ter ficado dentro da cidade e ficar a população sujeita a receber inalações”. Mas “não se encontrava em todo o cemitério uma catacumba, um túmulo em que se recomendasse o trabalho artístico. Não obstante o modo por que foi doado o terreno, e as declarações do missionário construtor da obra para que as sepulturas fossem sempre dadas aos pobres gratuitamente, assim só aconteceu durante três anos” ¹ (Siqueira p. 172)
Em face à fragilidade das edificações de túmulos e mausoléus, feitos de precários tijolos o padre José Beviláqua, quando por volta de 1894, mandou demolir todos os jazigos e proibiu novas construções e passou a cobrar taxas de enterro dos pobres, conforme determinara o Ordinário do Ceará “para que daí em diante serem pagas as sepulturas e o rendimento ser fábrica para a matriz”. A medida episcopal ia de encontro aos costumes locais e principalmente o que ditava o testamento de Maria da Conceição, que o doara de tão boa fé. A população revoltada resolveu peticionar a revogação da taxa paroquial ao bispo do Ceará D. Joaquim José Vieira (in BARROS, História de Viçosa do Ceará p. 37/39, citado em SIQUEIRA, p 172).
Se os vivos permaneceram calados e acataram a medida, como sempre o é, os mortos não, de forma que em altas horas de uma noite sem lua, os moradores da Rua Grande, já adormecidos, perceberam que alguma coisa estranha, muito estranha, acontecia. Medrosos, como é da cultura local, alguns tiveram a coragem de ir até as janelas da rua, que geralmente eram elaboradas de vários tabuados de madeira corrida, e pelas brechas, viram uma esquisita procissão:
Vinte ou trinta vultos caminhavam postando velas acesas ás mãos. Saíram do cemitério, pela Rua Grande, dobraram em frente à casa do Senhor Zeca Batista, descendo pela Rua das Bananeiras e voltaram silenciosamente para o cruzeiro do cemitério, na Rua da Cruz. Não se viam rostos, nem pés, apenas os passos lentos e silenciosos...
No outro dia, alguns curiosos foram até o antigo cruzeiro, qual susto não levaram! Encontraram, em vez de cera de velas, ossos humanos ressequidos dispostos em redor da cruz.
Eram as almas penadas, levando seus próprios ossos, como que iluminados em forma de velas... dizem, ainda, que essa procissão ainda acontece, vez por outra, diante de alguma indignação ou calamidade.
REFERÊNCIAS:
SIQUEIRA, João Otávio de, Viçosa do Ceará. Notícias Esparsas; Fortaleza, 2005 – PDF baixado da Inrernert em maio de 2009.
Eram tempos de mística e de ceticismo. De acomodação e revolta. Eram tempos difíceis!O mundo europeu, ainda não entrara em guerra, mas estava prestes a envolver-se na terrível carnificina de cristãos contra cristãos e a Rússia não caíra nas mãos dos comunistas. Mais isso era coisa distante, Viçosa nem rádio tinha e o que interessava era que por ali já escasseava a farinha de trigo e já não havia pão e foi neste clima que houve uma verdadeira revolta das almas, contavam os mais antigos. Se aqueles não se reviraram no túmulo, diante de tanto horror, da mudança de era e costumes que adviriam, suas almas, pelo menos, manifestaram-se de forma paranormal pelas ruas da cidade.
Assim, pois, narram que houve uma procissão de almas pelas ruas, nas altas horas, que só hoje mortos também poderiam confirmar, uma vez que estes foram as testemunhas oculares.
O velho cemitério da Rua da Cruz, ainda existia por volta de 1930, embora abandonado. Os ossos das vítimas da “Tragédia da Tabatinga” ainda estavam lá, os do cólera-morbo de 1860, já eram esquecidos. Os tatus, conhecidos e vorazes freqüentadores de cemitérios, ainda tinham seus buracos por ali, gatas pariam nas gavetas abertas dos velhos túmulos de barro cru, bodes e vacas pastavam e aqui e ali alguma ossada misturava-se com o mato, somente o velho cruzeiro do século XVII, à porta do campo santo tinha vida, era local de peregrinação, rezas e acender de velas para as almas do purgatório. Por volta de 1957, foi construído sob os alicerces antigos, o Hospital e Maternidade Coronel Felizardo de Pinho Pessoa.Por volta de 1850, começaram as proibições do enterro nas igrejas, pois os desprendimentos de gases e de odores fétidos, oriundos das sepulturas, já haviam sido sentidos no interior da igreja matriz. Os sanitaristas acusavam essa prática de ser a causadora de várias moléstias e epidemias urbanas, inclusive pestes que devastaram mais de um terço das populações no século XIX.
Foi neste contexto, aliado às legislações sanitárias que já entravam em vigor, que se fundou o cemitério público-cristão na região nordeste da cidade, que ficou sob administração eclesiástica dos vigários paroquiais. Até então, os cemitérios, eram considerados campos-santos, locais sagrados, uma extensão da igreja.
Segundo relatos o cemitério ficava “ao nordeste da cidade, no fim de uma das ruas melhores, ocupando quatrocentos palmos em quadro de terreno, que foi doado por dona Inocência Maria da Conceição, já falecida. Foi edificado em 1863 pelo reverendo missionário de então, o padre José Tomás de Albuquerque, atual cura de Santana da Ibiapaba, com o auxílio e trabalho do povo viçosense; é bem construído, sendo de pedras suas grossas paredes; está mal colocado, visto ter ficado dentro da cidade e ficar a população sujeita a receber inalações”. Mas “não se encontrava em todo o cemitério uma catacumba, um túmulo em que se recomendasse o trabalho artístico. Não obstante o modo por que foi doado o terreno, e as declarações do missionário construtor da obra para que as sepulturas fossem sempre dadas aos pobres gratuitamente, assim só aconteceu durante três anos” ¹ (Siqueira p. 172)
Em face à fragilidade das edificações de túmulos e mausoléus, feitos de precários tijolos o padre José Beviláqua, quando por volta de 1894, mandou demolir todos os jazigos e proibiu novas construções e passou a cobrar taxas de enterro dos pobres, conforme determinara o Ordinário do Ceará “para que daí em diante serem pagas as sepulturas e o rendimento ser fábrica para a matriz”. A medida episcopal ia de encontro aos costumes locais e principalmente o que ditava o testamento de Maria da Conceição, que o doara de tão boa fé. A população revoltada resolveu peticionar a revogação da taxa paroquial ao bispo do Ceará D. Joaquim José Vieira (in BARROS, História de Viçosa do Ceará p. 37/39, citado em SIQUEIRA, p 172).
Se os vivos permaneceram calados e acataram a medida, como sempre o é, os mortos não, de forma que em altas horas de uma noite sem lua, os moradores da Rua Grande, já adormecidos, perceberam que alguma coisa estranha, muito estranha, acontecia. Medrosos, como é da cultura local, alguns tiveram a coragem de ir até as janelas da rua, que geralmente eram elaboradas de vários tabuados de madeira corrida, e pelas brechas, viram uma esquisita procissão:
Vinte ou trinta vultos caminhavam postando velas acesas ás mãos. Saíram do cemitério, pela Rua Grande, dobraram em frente à casa do Senhor Zeca Batista, descendo pela Rua das Bananeiras e voltaram silenciosamente para o cruzeiro do cemitério, na Rua da Cruz. Não se viam rostos, nem pés, apenas os passos lentos e silenciosos...
No outro dia, alguns curiosos foram até o antigo cruzeiro, qual susto não levaram! Encontraram, em vez de cera de velas, ossos humanos ressequidos dispostos em redor da cruz.
Eram as almas penadas, levando seus próprios ossos, como que iluminados em forma de velas... dizem, ainda, que essa procissão ainda acontece, vez por outra, diante de alguma indignação ou calamidade.
REFERÊNCIAS:
SIQUEIRA, João Otávio de, Viçosa do Ceará. Notícias Esparsas; Fortaleza, 2005 – PDF baixado da Inrernert em maio de 2009.
“POIS TU ÉS PÓ E AO PÓ HÁS DE RETORNAR”
Cada um de nós tem uma imagem de si próprio e nos olhamos com a imagem que construímos de nós mesmos, mesmo que ela seja irreal, fantasiosa, ou que a nossa imagem já tenha se desvanecido pela beleza efêmera da juventude que não mais nos resta. Mas a nossa imagem está lá no nosso inconsciente e por mais que o espelho nos revele tal e qual somos, sempre uma névoa está entre os nossos olhos e o espelho, numa espécie de “Retrato de Dorian Gray”: É a lente da Vaidade sobre os nossos olhos que nos impede de ver a verdade.
Geralmente essa imagem que temos de nós – quando fisicamente – é aquela imagem dos 20 anos, quando os hormônios da adolescência ainda explodiam em nós e exalavam-se por todos os poros, a cabeleira era vistosa, não precisava de tinta, a pele era razoável – apareciam as incômodas e juvenis espinhas, e víamos a vida como se os anos à frente de nós fossem infinitos – tínhamos todo o tempo do mundo, podíamos escolher o que nos fosse imediatamente prazeroso, o tempo e a irresponsabilidade nos fazia super-heróis, acima do bem e do mal.
Nossa mãe era uma espécie de “serpente” às avessas, sempre inconvenientemente nos policiando e nos privando do fruto proibido, que estava lá, ao nosso alcance no paraíso e não podíamos alcançar de imediato...
Na “Lira dos vinte anos”, sexo é passatempo. É impossível quando se tem 20 anos perceber a limitação e a efemeridade do tempo, “tudo é divino, tudo é maravilhoso”. Mas os anos passam e rápido, bem rápido. Mas é com a imagem dos 20 anos, impressa em nós, que chegamos aos 30, 40, 50... 80... embora nem de longe sejamos o jovem e vinte que ainda imaginamos ainda ser.
Pra compensação dessa perda, vem a sabedoria, que entra em nós, também, por bem ou por mal.... e temos que aprender a aprender a viver, a re-sonhar a re-planejar a vida.
Pra compensação dessa perda, vem a sabedoria, que entra em nós, também, por bem ou por mal.... e temos que aprender a aprender a viver, a re-sonhar a re-planejar a vida.
E é essa re-novação que nos jovializa – tomara que tenhas essa capacidade. Conseguir isso é uma luta necessária – e certamente tu, já que não tens mais a beleza dos vinte, te enxergarás no teu espelho da verdade. E certamente riras daquele “boy”, cheio de ilusão, e que passa jogando a vasta cabeleira - que não tens mais – e que ele não terá com a tua idade!.
É preciso encarar o tempo com serenidade – ele é imparcial. É necessário o passar dos anos e a decadência física como algo natural, encarar que a realidade nua e crua está na mensagem da quarta-feira de cinzas: “Pois tu és pó e ao pó hás de retornar” . (Gn. 3,19), todavia sem esquecer que em nossa essência está a fagulha do eterno incriado, e quem sabe não seremos incorporados em outro nível de existência?
Crônica de Washington Luiz Peixoto Vieira, elaborada em 06 de junho de 2008.
Imagem:
Pieter Claesz (Dutch, 1596/97
Crônica de Washington Luiz Peixoto Vieira, elaborada em 06 de junho de 2008.
Imagem:
sexta-feira, 11 de janeiro de 2019
A RAPINA DOS BENS DO ALDEAMENTO DA IBIAPABA NO SÉCULO VIII, NO ALDEAMENTO DA IBIAPABA..
A expulsão dos Jesuítas do Brasil em 1759, foi caso pensado e repensado. Antes de tomada a decisão, ou melhor com a decisão já tomada o governador de Pernambuco, em maio de 1859, chamou a Recife o chefe de todos os índios da Ibiapaba, e já haviam combinado o desfecho final e o rateio do patrimônio acumulado.
Foi um fato escandaloso. Os inacianos foram caluniados pela coroa e seus emissários por todas as formas. Chamados abertamente de ladrões, corruptos, traidores do rei.
Por trás dessa expulsão tinham interesses os mais diversos, que se imbricavam uns sobre os outros que é impossível apresentá-los com exatidão.
De um lado os objetivos do Marques de Pombal, um déspota esclarecido que desejava tirar da sua frente todo e qualquer empecilho religioso que atrapalhasse seus planos de modernidade e desenvolvimento e os jesuítas, papista e frutos da contra-reforma católica eram o que – na visão de Sebastião de Carvalho e Melo tinha de mais atrasado.
Na visão de Pombal toda a obra dos padres, por mais nobre que fosse, era um desserviço à coroa portuguesa, pois o modelo de homem produzido pelos padres era tudo o que Pombal não desejava. Nesse ponto Pombal tinha razão o protótipo do ser humano produzido pelos inacianos era um ser amorfo e medieval, obediente e servil. Porém entre as “boas intenções” de Pombal e a realidade brasileira, nessas terras de mato e bicho havia um enorme abismo!
Foi um fato escandaloso. Os inacianos foram caluniados pela coroa e seus emissários por todas as formas. Chamados abertamente de ladrões, corruptos, traidores do rei.
Por trás dessa expulsão tinham interesses os mais diversos, que se imbricavam uns sobre os outros que é impossível apresentá-los com exatidão.
De um lado os objetivos do Marques de Pombal, um déspota esclarecido que desejava tirar da sua frente todo e qualquer empecilho religioso que atrapalhasse seus planos de modernidade e desenvolvimento e os jesuítas, papista e frutos da contra-reforma católica eram o que – na visão de Sebastião de Carvalho e Melo tinha de mais atrasado.
Na visão de Pombal toda a obra dos padres, por mais nobre que fosse, era um desserviço à coroa portuguesa, pois o modelo de homem produzido pelos padres era tudo o que Pombal não desejava. Nesse ponto Pombal tinha razão o protótipo do ser humano produzido pelos inacianos era um ser amorfo e medieval, obediente e servil. Porém entre as “boas intenções” de Pombal e a realidade brasileira, nessas terras de mato e bicho havia um enorme abismo!
Cadeira que teria sido usada para transportar o padre Antonio Vieira nos lombos dos índios, pertencia à Matriz de Viçosa, desde 1952 encontra-se no Museu Dom José de Sobral
Cá no Brasil os interesses eram outros, menos ideológicos e mais econômicos. O grande patrimônio acumulado pelos jesuítas, fruto do trabalho dos índios, despertava grande cobiça dos brancos da terra. Vamos tomar tudo desses padres velhacos, pensavam certamente os homens de negócio que por aqui viviam.
Os padres eram um duplo obstáculo para os homens da terra.
Na mentalidade da época não havia “comunhão” entre as ordens e congregações religiosas. Cada organização religiosa agia de forma independente , eram na realidade “Companhias”: Companhia de Jesus, algo assim parecido com as muti nacionais e suas filiais. Assim o bispo de Olinda dom Frei Francisco Xavier Aranha (1757 - 1771), a quem os territórios ibiapabanos estariam jurisdicionados estava privado desses territórios e suas rendas. Os Jesuítas, portanto, longe de serem difusores do Evangelho de Cristo, eram uma pedra no sapato para os planos do ordinário diocesano pernambucano, pois privada da jurisdição dos grandes territórios administrados pelos jesuítas as rendas desses territórios não caiam nos cofres da diocese, com a expulsão dos jesuítas tudo se reverteria em favor de Olinda.
Para os colonizadores os jesuítas “acoitavam” em suas missões grandes quantidades de mão de obra, inclusive “índios preguiçosos” que fugiam de suas terras para viverem sob a proteção dos padres. Essa mão de obra nativa era cobiçada pelos coroa e pelos colonos, em suas mãos ela teria muita serventia, deste a utilização nos engenhos de cana de açúcar, na criação de gado - em expansão nesse momento histórico e ainda na construção de obras públicas e privadas.
Para o traficante de escravos índios "amansados" era uma mina.
Daí o grande “ódio” aos Jesuítas!
Os inimigos dos jesuítas bem sabiam que sem ajuda dos índios dificilmente os padres poderiam ser expulsos. Daí a medida imediata era inculcar nos chefes indígenas o desejo e a ambição pelos bens coletivos, dificilmente os jesuítas sairiam de forma pacífica como o fizeram, de forma que foram os chefes indígenas, homens de confiança dos jesuítas que operacionalizaram o desfecho final dos padres.
No caso específico da expulsão dos territórios ibiapabanos, onde os jesuítas estabeleceram-se a partir do século XVII, a tomada de poder foi elaborada com muita meticulosidade, inclusive pesquisas atuais nos dão conta que em 29 de maio de 1759, o principal dos índios na ibiapaba, seja, D. Felipe de Sousa e Castro, já com o título de mestre-de-campo da Serra da Ibiapaba, é recebido em Recife pelo Governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da Silva, conforme nos narra um ofício do dito governador ao secretário de estado de ultra mar, Tomé Joaquim da Costa Real, informando que os principais das aldeias reduzidas em vilas, estiveram em sua companhia para tomarem as instruções devidas, senão vejamos:
“Convidei a d. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo da Serra da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real pra jantar comigo, tanto por ser o principal chefe a quem sete ou oito mil almas domina, respeitam com inteira obediência, como por se achar condecorado com o hábito de S. Tiago (...)”
Podemos verificar a importância de D. Felipe de Sousa nesse interregno da expulsão dos jesuítas, e a conseqüentemente a presença do índio, na administração do Brasil Colonial, quando nos deparamos com a ata de eleição da Câmara de Villa Viçosa, onde o mesmo sendo o primeiro de uma lista de sete homens (índios também), já é designado de Juiz Ordinário, e sem nenhum escrúpulo e lealdade aos padres assume nova função e ainda faz parte do grupo da rapinagem – fato que nos faz lembrar os mesmos fatos que acontecem nos dias atuais, nos troca-troca de partidos políticos e nas infidelidades e falsidades tão comuns.
A expulsão dos jesuítas, mais do que um fato religioso foi um fato político e marcou a formação da elite viçosense do setecentos. Assim, no longínquo ano de 1759, sob o signo da apropriação dos bens coletivos as bases da sociedade elites que dominariam a Ibiapaba (e Viçosa) por séculos e derem origem as aristocracias que governaram a vila e o município e monopolizaram os bens, particularmente as terras.
A antiga elite promotora da rapinagem dos bens dos índios e dos jesuítas era formada por índios captados pela coroa, traidores de seus irmãos, como por exemplo dom Felipe de Sousa Castro, mestre de campo, que fora agraciado com a Ordem de Santiago, padres corruptos vinculados à Diocese de Olinda a qual pertenceria à futura freguesia e paróquia de Nossa Senhora da Assunção, militares mercenários e desalmados.
Os resquícios daquelas antigas práticas de rapinagem hoje ainda florescem na ideologia das novas gerações descomprometidas com o social e com o coletivo e que se sucedem no mundo dos vivos.
De forma detalhada, coisa rara na historia do Brasil, consta em vários documentos históricos a relação do patrimônio dos Jesuítas no Aldeamento da Ibiapaba, relacionando pormenorizadamente as terras e os víveres nelas contidos, vejamos: Fazenda Tiáia, com quatro léguas de terras em quadro, quatrocentos e cinqüenta cabeças de gado vacum, 27 cavalos, um escravo angolano chamado José e uma cadela rajada amestrada na captura de onças; Fazenda Umbuzeiro, com três léguas, adquiridas por compra pelo padre Francisco de Lira, Fazenda Missão, com três léguas, que foram doadas pelos irmãos Manuel e Miguel Machado Freire; Fazenda Pitinga, com duas léguas, aquisição do padre Francisco de Lira e outras doações e aquisições em operações de compra e venda junto ao reduto da Ibiapaba. Essas terras, somente na Fazenda Tiáia, totalizavam doze léguas em quadro, todas destinadas às atividades agropastoris e com muitos e densos carnaubais.
Em 1759, quando foi decretada pela Coroa Portuguesa a expulsão dos jesuítas, os bens arrolados consistiam de: 1) Na Fazenda Tiáia -720 vacas de cria, 290 bois, dezoito éguas, 44 cavalos. 2) - Na Fazenda Umbuzeiro - 1.240 vacas de cria, 321 bois, 15 éguas, 16 cavalos, 33 cabras, 40 chibatos (bodes) - 3) - Fazenda Missão - 1.435 vacas de cria, 445 bois, 134 éguas, 43 cavalos, 50 cabras e 37 . 4) - Fazenda Pitinga - 238 vacas de cria. Resumindo tudo a termos práticos, teremos: a) - 4.709 cabeças de gado vacum; b) - 270 cavalos e éguas; c) - 150 cabras e chibatos, o que daria em valores atualizados, só em cabeças de gado vacum, considerando o valor de R$ 1.500,00 por cabeça a bagatela de mais de R$ 7.000.000,00 (sete mihões de reais): Esse era o tesouro dos Jesuítas, e não ouro que teria sido enterrado no piso da matriz, como se fez divulgar posteriormente e que provocou uma corrida em torno de botijas! http://mfrural.com.br/produtos.asp?categoria3=518&nmop=Animais-Bovinos-de-Leite-Gir-Leiteiro
Esses bens foram rateados entre vários elementos que foram o braço operacional da expulsão dos jesuítas, Juízes, índios mestres-de campo, padres diocesanos. Ou seja o tesouro dos bens jesuíticos, que na verdade eram os bens dos índios reduzidos, foram confiscados de forma imoral por uns poucos, ou de forma mais precisa:
Para nossa Senhora da Assunção: 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos;
Para o vigário Padre Luís do Rego Barros - 52 vacas, 6 bois, 25 éguas, 3 cavalos e 10 chibatos;
Para dois padres coadjutores Pe José Machado Freire e Francisco Ferreira da Silva: 80 vacas, 12 dois, 40 éguas e 6 cavalos;
Ao Diretor dos índios Diogo Roiz Correia: 8 bois, 2 éguas, 2 cavalos;
Para o Mestre de Campo dom Felipe de Sousa Castro (que era um índio): 80 vacas, 10 éguas e 3 cavalos;
Para os três Capitães-Mores: 72 vacas, 15 éguas e 6 cavalos;
Para o Sargenro-Mor Antonio da Rocha Franco: 16 vacas, 4 éguas e 1 cavalo;
Para os 15 Capitães: 180 vacas, 30 éguas e 15 cavalos; Para 2 ajudantes e um tenente: 24 vacas, 3 éguas;
Para os dezoito Alferes: 108 vacas, 18 cavalos;
Para 18 Sargentos: 36 vacas.
Aos olhos de hoje isso pode parecer pouco, diante do desenvolvimento agropecuário da atualidade, mas naqueles idos tempos isso era um grande patrimônio. Note-se que até uma cadela vira-lata era elencada nos bens ao lado de um escravo.
Nessa rapinagem os donos do patrimônio coletivo – os índios - não herdaram absolutamente nada, somente a miséria, o desamparo e a escravidão para aquele senhores recém-criados. As terras igualmente foram divididas na mesma proporção somente a Fazenda Tiáia foi adjudicada à Coroa portuguesa.
Há indícios – a historiografia oficial não registra – que muitos índios moradores da redução foram escravizados ou vendidos, em forma de contrabando para outras localidades, mulheres e crianças foram seviciadas e muitos fugiram diante das arbitrariedades dos novos poderosos, sem terem a quem recorrer nessas terras da injustiça.
E nossa Senhora da Assunção, com suas 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos e algumas léguas de terra, permaneceu do alto de seu trono, por já 401 anos, impávida, calada... quando os seus filhos, lá em baixo, espoliados, cantam-lhe ainda: “Virgem Santa da Assunção, Nossa Mãe e Padroeira. Dá-nos vossa proteção, sede nossa vanguardeira”!
Os padres eram um duplo obstáculo para os homens da terra.
Na mentalidade da época não havia “comunhão” entre as ordens e congregações religiosas. Cada organização religiosa agia de forma independente , eram na realidade “Companhias”: Companhia de Jesus, algo assim parecido com as muti nacionais e suas filiais. Assim o bispo de Olinda dom Frei Francisco Xavier Aranha (1757 - 1771), a quem os territórios ibiapabanos estariam jurisdicionados estava privado desses territórios e suas rendas. Os Jesuítas, portanto, longe de serem difusores do Evangelho de Cristo, eram uma pedra no sapato para os planos do ordinário diocesano pernambucano, pois privada da jurisdição dos grandes territórios administrados pelos jesuítas as rendas desses territórios não caiam nos cofres da diocese, com a expulsão dos jesuítas tudo se reverteria em favor de Olinda.
Para os colonizadores os jesuítas “acoitavam” em suas missões grandes quantidades de mão de obra, inclusive “índios preguiçosos” que fugiam de suas terras para viverem sob a proteção dos padres. Essa mão de obra nativa era cobiçada pelos coroa e pelos colonos, em suas mãos ela teria muita serventia, deste a utilização nos engenhos de cana de açúcar, na criação de gado - em expansão nesse momento histórico e ainda na construção de obras públicas e privadas.
Para o traficante de escravos índios "amansados" era uma mina.
Daí o grande “ódio” aos Jesuítas!
Os inimigos dos jesuítas bem sabiam que sem ajuda dos índios dificilmente os padres poderiam ser expulsos. Daí a medida imediata era inculcar nos chefes indígenas o desejo e a ambição pelos bens coletivos, dificilmente os jesuítas sairiam de forma pacífica como o fizeram, de forma que foram os chefes indígenas, homens de confiança dos jesuítas que operacionalizaram o desfecho final dos padres.
No caso específico da expulsão dos territórios ibiapabanos, onde os jesuítas estabeleceram-se a partir do século XVII, a tomada de poder foi elaborada com muita meticulosidade, inclusive pesquisas atuais nos dão conta que em 29 de maio de 1759, o principal dos índios na ibiapaba, seja, D. Felipe de Sousa e Castro, já com o título de mestre-de-campo da Serra da Ibiapaba, é recebido em Recife pelo Governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da Silva, conforme nos narra um ofício do dito governador ao secretário de estado de ultra mar, Tomé Joaquim da Costa Real, informando que os principais das aldeias reduzidas em vilas, estiveram em sua companhia para tomarem as instruções devidas, senão vejamos:
“Convidei a d. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo da Serra da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real pra jantar comigo, tanto por ser o principal chefe a quem sete ou oito mil almas domina, respeitam com inteira obediência, como por se achar condecorado com o hábito de S. Tiago (...)”
Podemos verificar a importância de D. Felipe de Sousa nesse interregno da expulsão dos jesuítas, e a conseqüentemente a presença do índio, na administração do Brasil Colonial, quando nos deparamos com a ata de eleição da Câmara de Villa Viçosa, onde o mesmo sendo o primeiro de uma lista de sete homens (índios também), já é designado de Juiz Ordinário, e sem nenhum escrúpulo e lealdade aos padres assume nova função e ainda faz parte do grupo da rapinagem – fato que nos faz lembrar os mesmos fatos que acontecem nos dias atuais, nos troca-troca de partidos políticos e nas infidelidades e falsidades tão comuns.
A expulsão dos jesuítas, mais do que um fato religioso foi um fato político e marcou a formação da elite viçosense do setecentos. Assim, no longínquo ano de 1759, sob o signo da apropriação dos bens coletivos as bases da sociedade elites que dominariam a Ibiapaba (e Viçosa) por séculos e derem origem as aristocracias que governaram a vila e o município e monopolizaram os bens, particularmente as terras.
A antiga elite promotora da rapinagem dos bens dos índios e dos jesuítas era formada por índios captados pela coroa, traidores de seus irmãos, como por exemplo dom Felipe de Sousa Castro, mestre de campo, que fora agraciado com a Ordem de Santiago, padres corruptos vinculados à Diocese de Olinda a qual pertenceria à futura freguesia e paróquia de Nossa Senhora da Assunção, militares mercenários e desalmados.
Os resquícios daquelas antigas práticas de rapinagem hoje ainda florescem na ideologia das novas gerações descomprometidas com o social e com o coletivo e que se sucedem no mundo dos vivos.
De forma detalhada, coisa rara na historia do Brasil, consta em vários documentos históricos a relação do patrimônio dos Jesuítas no Aldeamento da Ibiapaba, relacionando pormenorizadamente as terras e os víveres nelas contidos, vejamos: Fazenda Tiáia, com quatro léguas de terras em quadro, quatrocentos e cinqüenta cabeças de gado vacum, 27 cavalos, um escravo angolano chamado José e uma cadela rajada amestrada na captura de onças; Fazenda Umbuzeiro, com três léguas, adquiridas por compra pelo padre Francisco de Lira, Fazenda Missão, com três léguas, que foram doadas pelos irmãos Manuel e Miguel Machado Freire; Fazenda Pitinga, com duas léguas, aquisição do padre Francisco de Lira e outras doações e aquisições em operações de compra e venda junto ao reduto da Ibiapaba. Essas terras, somente na Fazenda Tiáia, totalizavam doze léguas em quadro, todas destinadas às atividades agropastoris e com muitos e densos carnaubais.
Em 1759, quando foi decretada pela Coroa Portuguesa a expulsão dos jesuítas, os bens arrolados consistiam de: 1) Na Fazenda Tiáia -720 vacas de cria, 290 bois, dezoito éguas, 44 cavalos. 2) - Na Fazenda Umbuzeiro - 1.240 vacas de cria, 321 bois, 15 éguas, 16 cavalos, 33 cabras, 40 chibatos (bodes) - 3) - Fazenda Missão - 1.435 vacas de cria, 445 bois, 134 éguas, 43 cavalos, 50 cabras e 37 . 4) - Fazenda Pitinga - 238 vacas de cria. Resumindo tudo a termos práticos, teremos: a) - 4.709 cabeças de gado vacum; b) - 270 cavalos e éguas; c) - 150 cabras e chibatos, o que daria em valores atualizados, só em cabeças de gado vacum, considerando o valor de R$ 1.500,00 por cabeça a bagatela de mais de R$ 7.000.000,00 (sete mihões de reais): Esse era o tesouro dos Jesuítas, e não ouro que teria sido enterrado no piso da matriz, como se fez divulgar posteriormente e que provocou uma corrida em torno de botijas! http://mfrural.com.br/produtos.asp?categoria3=518&nmop=Animais-Bovinos-de-Leite-Gir-Leiteiro
Esses bens foram rateados entre vários elementos que foram o braço operacional da expulsão dos jesuítas, Juízes, índios mestres-de campo, padres diocesanos. Ou seja o tesouro dos bens jesuíticos, que na verdade eram os bens dos índios reduzidos, foram confiscados de forma imoral por uns poucos, ou de forma mais precisa:
Para nossa Senhora da Assunção: 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos;
Para o vigário Padre Luís do Rego Barros - 52 vacas, 6 bois, 25 éguas, 3 cavalos e 10 chibatos;
Para dois padres coadjutores Pe José Machado Freire e Francisco Ferreira da Silva: 80 vacas, 12 dois, 40 éguas e 6 cavalos;
Ao Diretor dos índios Diogo Roiz Correia: 8 bois, 2 éguas, 2 cavalos;
Para o Mestre de Campo dom Felipe de Sousa Castro (que era um índio): 80 vacas, 10 éguas e 3 cavalos;
Para os três Capitães-Mores: 72 vacas, 15 éguas e 6 cavalos;
Para o Sargenro-Mor Antonio da Rocha Franco: 16 vacas, 4 éguas e 1 cavalo;
Para os 15 Capitães: 180 vacas, 30 éguas e 15 cavalos; Para 2 ajudantes e um tenente: 24 vacas, 3 éguas;
Para os dezoito Alferes: 108 vacas, 18 cavalos;
Para 18 Sargentos: 36 vacas.
Aos olhos de hoje isso pode parecer pouco, diante do desenvolvimento agropecuário da atualidade, mas naqueles idos tempos isso era um grande patrimônio. Note-se que até uma cadela vira-lata era elencada nos bens ao lado de um escravo.
Nessa rapinagem os donos do patrimônio coletivo – os índios - não herdaram absolutamente nada, somente a miséria, o desamparo e a escravidão para aquele senhores recém-criados. As terras igualmente foram divididas na mesma proporção somente a Fazenda Tiáia foi adjudicada à Coroa portuguesa.
Há indícios – a historiografia oficial não registra – que muitos índios moradores da redução foram escravizados ou vendidos, em forma de contrabando para outras localidades, mulheres e crianças foram seviciadas e muitos fugiram diante das arbitrariedades dos novos poderosos, sem terem a quem recorrer nessas terras da injustiça.
E nossa Senhora da Assunção, com suas 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos e algumas léguas de terra, permaneceu do alto de seu trono, por já 401 anos, impávida, calada... quando os seus filhos, lá em baixo, espoliados, cantam-lhe ainda: “Virgem Santa da Assunção, Nossa Mãe e Padroeira. Dá-nos vossa proteção, sede nossa vanguardeira”!
DONA VICTÓRIA RODRIGUES DA CÂMARA (Artigo genealógico)
‘‘Pedro da Rocha Franco foi casado com d. Vitória Rodrigues Câmara, que em 1787 ainda existia. Dizem que esta moça fora produto dos amores da filha de um principal da Ibiapaba (Dom Filipe), e fora criada no hospício dos padres jesuítas como enjeitada. Seu protetor, um dos padres, não querendo casá-la com os da terra (índios ou mestiços), foi a Portugal, donde trouxe-lhe Pedro da Rocha para esposo. O casamento de d. Vitória deve ter sido feito de 1715 a 1716. (....) Acreditável se torna o fato de Rocha Franco ter vindo de encomenda para casar com d. Vitória, pela crítica que inda hoje se faz aos antigos portugueses dali, dizendo-se que eles, no rol das mercadorias que pediam para Portugal, pediam igualmente noivos para casarem com as filhas.’’ ¹
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A história nos reserva surpresas. O silêncio dos séculos com seus véus nos encobre verdades, que estavam ali, bem ali, em baixo do nossos narizes, mas longe da nossa vista. É assim que surge Dona Victória Rodrigues da Câmara. que seria filha do padre Ascenço Gago, SJ (1665 - 1716) com uma filha de Dom Felipe de Sousa Castro. A matriarca de várias famílias que povoam a região norte do Ceará. Vários de nós deveríamos tomar a benção a essa mulher nascida no final do Século XVII, ela foi a nossa avó comum.
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Ascenço Gago. nasceu em São Paulo no ano de 1665. Ingressou na Companhia de Jesus, na Bahia, a 3 de julho de 1680, com 15 anos de idade, tendo morrido em 17 de maio de 1717, aos 51 anos, na Bahia, quando voltava da capitania do Ceará, já adoentado.
.Para cumprir a ordem régia expedida no sentido de por em prática a resolução de 1691, que relativa a administração dos “gentios”. Tal ordem retirava parte dos índios brasileiros reduzidos dos padres seculares e os punha sobre a autoridade de várias ordens e congregações, tais como Franciscanos, Capuchinhos, Carmelitas, Oratorianos e Jesuítas, dentre outros. Assim seguiram os missionários em direção às terras do Siará Grande, sendo designados para o Aldeamento da Ibiapaba, nas fronteiras da Província do Maranhão. Os jesuítas Ascenso Gago e Manoel Pedroso reiniciaram a Missão da Ibiapaba, abandonada em 1662. Além das questões “espirituais” Ascenço Gago viria a ser o implantador dos primeiros currais de gado no Piauí e norte do Ceará, na região do vale do lambedouro e quatiquaba. E recebera em Sesmaria as terras da Buhyra, próximo à ladeira do Rio Obary (Ubari), que mais tarde os seus descendentes habitariam.
Á época os principais líderes na região eram os índios Dom José de Sousa Castro, Cavaleiro da Ordem de São Tiago, com título recebido pelo Rei D. João V (1689/1750). Nomeado que foi em face “ao ardor militar excede o pio e católico, que lhe inflama o coração, sendo ao mesmo tempo capitão e catequista, igualmente vigilante e aumentar o Estado para o seu príncipe, como para estender o Império para Cristo” e seu filho dom Felipe de Sousa Castro, igualmente agraciado com o título de “Dom”. Esses homens lideravam mais de dez mil guerreiros, diz-se.
Assim, pois os padres Jesuítas achegaram-se à Ibiapaba e foram acolhidos pelos dois nobres índios, que em parte já eram cristianizados. À seu modo, mas eram.
“ No curso dos anos, entre 1605 e início de 1700, permaneceu na Ibiapaba o padre Manuel Pedroso Júnior. Ascenço Gago, transferido da sede da Capitania para o reduto ibiapabano (1705), resolveu deixar o seu colega onde já se encontrava e desceu em busca das terras agropastoris do sertão, onde deveria prover os meios de sustentação próprios dos nativos e da Companhia. Seria desenvolver, através do trabalho remunerado indígena (diária de um tostão), a pecuária e a agricultura, contando para tanto com as doações territoriais e as liberalidades beneméritas dos fazendeiros já estabelecidos”.
A tradição nos fez chegar até os dias atuais que uma das filhas 2 de dom Felipe de Sousa Castro ² teve uma relação com o padre Ascenço Gago, Muito provavelmente essa relação surgiu da grande hospitalidade indígena de oferecer aos hóspedes e visitantes as suas próprias mulheres e filhas. Recusar à oferta era ofensa grave aos indígenas! Se assim o foi, e somente as brumas do tempo são capazes de testemunhar, nascera a menina Victória. Que a história conhecerá como Victória Rodrigues da Câmara.
Conta-nos ainda a tradição, todavia com pistas já confirmadas pelos genealogistas atuais que Victória Rodrigues da Câmara, foi criada pelo padre Ascenço, alegando ser a mesma sua “sobrinha”. As estórias mais pias narram que “Vitória foi deixada na residência dos missionários jesuítas, como enjeitada. Criada sob os cuidados do padre Ascenso Gago, a menina adquiriu esmerada educação, fazendo-se moça fina e prendada. Quando chegou à idade de casar, o padre Ascenso Gago arranjou-lhe um noivo português. O rapaz chamava-se Pedro da Rocha Franco, que se tornaria Capitão-Mor da Comarca de Granja.
.Para cumprir a ordem régia expedida no sentido de por em prática a resolução de 1691, que relativa a administração dos “gentios”. Tal ordem retirava parte dos índios brasileiros reduzidos dos padres seculares e os punha sobre a autoridade de várias ordens e congregações, tais como Franciscanos, Capuchinhos, Carmelitas, Oratorianos e Jesuítas, dentre outros. Assim seguiram os missionários em direção às terras do Siará Grande, sendo designados para o Aldeamento da Ibiapaba, nas fronteiras da Província do Maranhão. Os jesuítas Ascenso Gago e Manoel Pedroso reiniciaram a Missão da Ibiapaba, abandonada em 1662. Além das questões “espirituais” Ascenço Gago viria a ser o implantador dos primeiros currais de gado no Piauí e norte do Ceará, na região do vale do lambedouro e quatiquaba. E recebera em Sesmaria as terras da Buhyra, próximo à ladeira do Rio Obary (Ubari), que mais tarde os seus descendentes habitariam.
Á época os principais líderes na região eram os índios Dom José de Sousa Castro, Cavaleiro da Ordem de São Tiago, com título recebido pelo Rei D. João V (1689/1750). Nomeado que foi em face “ao ardor militar excede o pio e católico, que lhe inflama o coração, sendo ao mesmo tempo capitão e catequista, igualmente vigilante e aumentar o Estado para o seu príncipe, como para estender o Império para Cristo” e seu filho dom Felipe de Sousa Castro, igualmente agraciado com o título de “Dom”. Esses homens lideravam mais de dez mil guerreiros, diz-se.
Assim, pois os padres Jesuítas achegaram-se à Ibiapaba e foram acolhidos pelos dois nobres índios, que em parte já eram cristianizados. À seu modo, mas eram.
“ No curso dos anos, entre 1605 e início de 1700, permaneceu na Ibiapaba o padre Manuel Pedroso Júnior. Ascenço Gago, transferido da sede da Capitania para o reduto ibiapabano (1705), resolveu deixar o seu colega onde já se encontrava e desceu em busca das terras agropastoris do sertão, onde deveria prover os meios de sustentação próprios dos nativos e da Companhia. Seria desenvolver, através do trabalho remunerado indígena (diária de um tostão), a pecuária e a agricultura, contando para tanto com as doações territoriais e as liberalidades beneméritas dos fazendeiros já estabelecidos”.
A tradição nos fez chegar até os dias atuais que uma das filhas 2 de dom Felipe de Sousa Castro ² teve uma relação com o padre Ascenço Gago, Muito provavelmente essa relação surgiu da grande hospitalidade indígena de oferecer aos hóspedes e visitantes as suas próprias mulheres e filhas. Recusar à oferta era ofensa grave aos indígenas! Se assim o foi, e somente as brumas do tempo são capazes de testemunhar, nascera a menina Victória. Que a história conhecerá como Victória Rodrigues da Câmara.
Conta-nos ainda a tradição, todavia com pistas já confirmadas pelos genealogistas atuais que Victória Rodrigues da Câmara, foi criada pelo padre Ascenço, alegando ser a mesma sua “sobrinha”. As estórias mais pias narram que “Vitória foi deixada na residência dos missionários jesuítas, como enjeitada. Criada sob os cuidados do padre Ascenso Gago, a menina adquiriu esmerada educação, fazendo-se moça fina e prendada. Quando chegou à idade de casar, o padre Ascenso Gago arranjou-lhe um noivo português. O rapaz chamava-se Pedro da Rocha Franco, que se tornaria Capitão-Mor da Comarca de Granja.
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Sobre essa história noticia-nos Serafim Leite, in História da Companhia de Jesus que houveram acusações contra o Padre Ascenço Gago: " Que o padre Ascenso Gago chegou adotar com doze ou quinze mil cruzados uma filha que casou, cujo dinheiro se ajuntou por meio dos índios que em seu serviço o ganharam, carregando sal para o Piauí a troco de vacas com que povoou vários sítios. Sabendo como a Companhia afasta inexoravelmente do seu seio quem por infelicidade prevarica nesta matéria, procuramos seriamente se a acusação teria algum fundamento. Achamos que o padre tinha na capitania do Ceará quatro sobrinhas. Di-lo uma carta do próprio padre, pedindo isenção para elas dos dízimos em terras que possuíam de sesmaria (Carta do padre Ascenso Gago, de 5 de março de 1702. Concederam-na em Lisboa, em 1704, por uma vida"
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Em Notícia Histórico-Corográfica da Comarca de Granja, pelo padre Vicente Martins, (Rev. do Inst. do Ceará, XXVI, 1912, 174): "O capitão-mor Pedro da Rocha Franco casou-se com uma moça educada pelo padre Ascenso Gago, de cujo casamento teve muitos filhos, os quais se estabeleceram em diversos pontos, a saber: Pedras de Fogo, Ibuaçu, Viçosa e outros. Mais uma vez a calúnia transformava em filhas as sobrinhas ou educandas. Nesta data já não existia o padre Ascenso Gago para pessoalmente desmentir ou castigar a calúnia. Tinha falecido a 17 de maio de 1717, no caminho, indo da Ibiapaba para a Bahia.’’ (3) Padre SERAFIM LEITE, obra citada, tomo III, págs. 68/69. A defesa do padre Vicente é um tanto falaciosa, pois esquecera-se dos inúmeros eclesiásticos, tais como os padres José Beviláqua (1844-1905), Felipe Benício Mariz (1780-1850), que deixaram numerosa prole em Viçosa e descendentes em Granja, devidamente reconhecidos e registrados como filhos e filhas, naturais ou legítimos, cujas relações amorosas eram conhecidas e aceitas pela sociedade de então.
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Fato é que dª Victória existiu e da qual nasceram vários filhos e filhas, dentre esses Ana Maria Rodrigues da Câmara, que viria a se casar com o português Antônio Ferreira Alvarenga, de cujo casal nasceu Genoveva Rodrigues da Câmara e ainda Clara Maria Rodrigues, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Dª Genoveva Rodrigues da Câmara, que foi a primeira esposa de João Álvares Passos, 5ª avó do autor desse texto e da qual o seu avô ainda guardava referências, e a matriarca de todos os Vieira e Passos de ascendência em Viçosa do Ceará.
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Dª Clara Maria Rodrigues, neta de Dª Victória, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Deste último casal foram: Ana Joaquina do Rosário, que casou-se com Guilherme Fontenele e Maria Antonia dos Santos, que casou com Plácido Fontenele.
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O primogênito de dª Victória, Antonio da Rocha Franco, que casou com Caetana Josefa Maria de Jesus, de onde procede dª Felicidade da Rocha Franco que casou-se com o coronel Antonio de Caldas Ferreira, com grande descendência em Viçosa.
Outros filhos e filhas de Victória e Pedro foram casadas e se estabeleceram nos sertões do Piauí, da Granja e distribuíram-se em várias sesmarias, particularmente no vale do Lambedouro, onde se desenvolveu a agropecuária bovina, naqueles vales férteis.
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Dê-me a tua benção, Vovó Victória!
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FONTES:
Revista do Instituto do Ceará,Por Instituto do Ceará,Publicado 1955, Observações do item: vol. 69
SIQUEIRA, José Otávio
SIQUEIRA, José Otávio
Miranda, Vicente, Três Séculos de Caminhada. Teresina, 2001 534
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus.
Antônio Batista Fontenele, A Marcha do Tempo (os Fontenele
ANTÔNIO BATISTA FONTENELE, A Marcha do Tempo (os Fontenele), Imprensa
Oficial do Ceará, 1981, pág. 66.
J. HENRIQUE, O Capitão-mor Pedro da Rocha Franco, in ‘‘Revista do Instituto do
Ceará’’, vol. 36, 1922, págs. 392/393.
Oficial do Ceará, 1981, pág. 66.
J. HENRIQUE, O Capitão-mor Pedro da Rocha Franco, in ‘‘Revista do Instituto do
Ceará’’, vol. 36, 1922, págs. 392/393.
ARAÚJO, F. Sadoc de, Cronologia sobralense , Fortaleza : Gráfica Editorial Cearense. 1974.
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1. João Otávio de Siqueira. in Viçosa do Ceará - Notícias Esparsas;
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2. A filha pode significar uma familiar do Cacique, que certamente eram muitas e inclusive uma de suas próprias mulheres, uma vez que a bigamia não era proibida entre os indígenas, e inclusive esse foi um dos principais problemas encontrados pelos padres, que pregavam a castidade e da monogamia, o que nunca conseguiram.
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3. Pela idade cronológica suponho que o índio de quem descendia a mãe de Victória fosse dom José de Sousa Castro, uma vez que o filho Felippe de Sousa Castro ainda estará vivo e ativo e relativamente jovem (?), inclusive participando do governo da Villa Viçosa Real, em 1759. Em 1706, quando possivelmente Victória estaria com uns 15 ou 20 anos de idade (idade casadoura na ótica lusitana) e dom Felipe teria também a mesma idade de Victória. Daí presupor que Victória era irmã de d. Felipe e filha de d. José, esse contemporâneo do padre Ascenço Gago (1668), que no seu "ardor juvenil" a teria concebido. Porém se o casamento oconteceu em 1715/16 há toda a possibilidade da mesma ser filha de Felipe, hipótese que pode ser a mais real haja visto que em 1787 a mesma ainda existia, como afirma".
4. Constam como doações em Sesmaria lotes em nome de Ascenço Gago -Ibuaçu, Victória Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706 e Úrsula Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706.
O padre Ascenço, como bom pai não deixou suas "afilhadas" desamparadas .http://www.secrel.com.br/usuarios/aragao/granja.htm.
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Imagem meramente ilustrativa: Mulher Mameluca. Albert Eckhout, 1653.
TEXTO E PESQUISA DE WASHINGTON LUIZ PEIXOTO VIEIRA, COM DIREITOS AUTORAIS NA FORMA DA LEI Nº 9.610/98- SE COPIAR CITE A FONTE
VIÇOSA DO CEARÁ - 250 ANOS DA EXPULSÃO DOS JEÚÍTAS E CRIAÇÃO DA VILA VIÇOSA REAL, O ALDEAMENTO DA IBIAPABA,
Em 07 de Julho de 1959 a Companhia de Jesus foi expulsa do Aldeamento da Ibiapaba e nesse mesmo dia foi ereta a Villa Viçosa Real da Améria, com a construção do Pelourinho, de onde foi anunciado a nova forma de poder.
A expulsão dos Jesuítas do Brasil, foi caso pensado e repensado. Antes de tomada a decisão, ou melhor com a decisão já tomada o governador de Pernambuco, em maio de 1859, chamou a Recife o chefe de todos os índios da Ibiapaba, e já haviam combinado o desfecho final e o rateio do patrimônio acumulado.Foi um fato escandaloso. Os inacianos foram caluniados pela coroa e seus emissários por todas as formas.
Chamados abertamente de ladrões, corruptos, traidores do rei.Por trás dessa expulsão tinham interesses os mais diversos, que se imbricavam uns sobre os outros que é impossível apresentá-los com exatidão.De um lado os objetivos do Marques de Pombal, um déspota esclarecido que desejava tirar da sua frente todo e qualquer empecilho religioso que atrapalhasse seus planos de modernidade e desenvolvimento e os jesuítas, papista e frutos da contra-reforma católica eram o que – na visão de Sebastião de Carvalho e Melo tinha de mais atrasado.
Na visão de Pombal toda a obra dos padres, por mais nobre que fosse, era um desserviço à coroa portuguesa, pois o modelo de homem produzido pelos padres era tudo o que Pombal não desejava. Nesse ponto Pombal tinha razão o protótipo do ser humano produzido pelos inaciamos era um ser amorfo e medieval, obediente e servil.
Porém entre as “boas intenções” de Pombal e a realidade brasileira, nessas terras de mato e bicho havia um enorme abismo!
Cá no Brasil os interesses eram outros, menos ideológicos e mais econômicos. O grande patrimônio acumulado pelos jesuítas, fruto do trabalho dos índios, despertava grande cobiça dos brancos da terra.
"Vamos tomar tudo desses padres velhacos", pensavam certamente os homens de negócio que por aqui viviam.Os padres eram um duplo obstáculo para os homens da terra. Na mentalidade da época não havia “comunhão” entre as ordens e congregações religiosas. Cada organização religiosa agia de forma independente , eram na realidade “Companhias”: Companhia de Jesus, algo assim parecido com as muti nacionais e suas filiais, chamavam umas às outras de "outra Religião".
Assim o bispo de Olinda dom Frei Francisco Xavier Aranha (1757 - 1771), a quem os territórios ibiapabanos estariam jurisdicionados estava privado desses territórios e suas rendas.
Os Jesuítas, portanto, longe de serem difusores do Evangelho de Cristo, eram uma pedra no sapato para os planos do ordinário diocesano pernambucano, pois privada da jurisdição dos grandes territórios administrados pelos jesuítas as rendas desses territórios não caiam nos cofres da diocese, com a expulsão dos jesuítas tudo se reverteria em favor de Olinda.
Para os colonizadores os jesuítas “acoitavam” em suas missões grandes quantidades de mão de obra, inclusive “índios preguiçosos” que fugiam de suas terras para viverem sob a proteção dos padres. Essa mão de obra nativa era cobiçada pelos coroa e pelos colonos, em suas mãos ela teria muita serventia, deste a utilização nos engenhos de cana de açúcar, na criação de gado - em expanção nesse momento histórico e ainda na construção de obras públicas e privadas.
Para o traficante de escravos indios "amansados" era uma mina. Daí o grande “ódio” aos Jesuítas! Os inimigos dos jesuítas bem sabiam que sem ajuda dos índios dificilmente os padres poderiam ser expulsos. Daí a medida imediata era inculcar nos chefes indígenas o desejo e a ambição pelos bens coletivos, dificilmente os jesuítas sairiam de forma pacífica como o fizeram, de forma que foram os chefes indígenas, homens de confiança dos jesuítas que operacionalizaram o desfecho final dos padres.
No caso específico da expulsão dos territórios ibiapabanos, onde os jesuítas estabeleceram-se a partir do século XVII, a tomada de poder foi elaborada com muita meticulosidade, inclusive pesquisas atuais nos dão conta que em 29 de maio de 1759, o principal dos índios na ibiapaba, seja, D. Felipe de Sousa e Castro, já com o título de mestre-de-campo da Serra da Ibiapaba, é recebido em Recife pelo Governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da Silva, conforme nos narra um ofício do dito governador ao secretário de estado de ultra mar, Tomé Joaquim da Costa Real, informando que os principais das aldeias reduzidas em vilas, estiveram em sua companhia para tomarem as instruções devidas, senão vejamos:“Convidei a d. Felipe de Sousa e Castro, mestre de campo da Serra da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real pra jantar comigo, tanto por ser o principal chefe a quem sete ou oito mil almas domina, respeitam com inteira obdiência, como por se achar condecorado com o hábito de S. Tiago (...)”Podemos verificar a importância de D. Felipe de Sousa nesse interregno da expulsão dos jesuítas, e a conseqüentemente a presença do índio, na administração do Brasil Colonial, quando nos deparamos com a ata de eleição da Câmara de Villa Viçosa, onde o mesmo sendo o primeiro de uma lista de sete homens (índios também), já é designado de Juiz Ordinário, e sem nenhum escrúpulo e lealdade aos padres assume nova função e ainda faz parte do grupo da rapinagem – fato que nos faz lembrar os mesmos fatos que acontecem nos dias atuais, nos troca-troca de partidos políticos e nas infidelidades e falsidades tão comuns.A expulsão dos jesuítas, mais do que um fato religioso foi um fato político e marcou a formação da elite viçosense do setecentos.
Assim, no longínquo ano de 1759, sob o signo da apropriação dos bens coletivos as bases da sociedade elites que dominariam a Ibiapaba (e Viçosa) por séculos e derem origem as aristocracias que governaram a vila e o município e monopolizaram os bens, particularmente as terras.A antiga elite promotora da rapinagem dos bens dos índios e dos jesuítas era formada por índios captados pela coroa, traidores de seus irmãos, como por exemplo dom Felipe de Sousa Castro, mestre de campo, que fora agraciado com a Ordem de Santiago, padres corruptos vinculados à Diocese de Olinda a qual pertenceria à futura freguesia e paróquia de Nossa Senhora da Assunção, militares mercenários e desalmados.Os resquícios daquelas antigas práticas de rapinagem hoje ainda florescem na ideologia das novas gerações descomprometidas com o social e com o coletivo e que se sucedem no mundo dos vivos.
De forma detalhada, coisa rara na historia do Brasil, consta em vários documentos históricos a relação do patrimônio dos Jesuítas no Aldeamento da Ibiapaba, relacionando pormenorizadamente as terras e os víveres nelas contidos, vejamos: Fazenda Tiáia, com quatro léguas de terras em quadro, quatrocentos e cinqüenta cabeças de gado vacum, 27 cavalos, um escravo angolano chamado José e uma cadela rajada amestrada na captura de onças; Fazenda Umbuzeiro, com três léguas, adquiridas por compra pelo padre Francisco de Lira, Fazenda Missão, com três léguas, que foram doadas pelos irmãos Manuel e Miguel Machado Freire; Fazenda Pitinga, com duas léguas, aquisição do padre Francisco de Lira e outras doações e aquisições em operações de compra e venda junto ao reduto da Ibiapaba.
Essas terras, somente na Fazenda Tiáia, totalizavam doze léguas em quadro, todas destinadas às atividades agropastoris e com muitos e densos carnaubais.Em 1759, quando foi decretada pela Coroa Portuguesa a expulsão dos jesuítas, os bens arrolados consistiam de: 1) Na Fazenda Tiáia -720 vacas de cria, 290 bois, dezoito éguas, 44 cavalos. 2) - Na Fazenda Umbuzeiro - 1.240 vacas de cria, 321 bois, 15 éguas, 16 cavalos, 33 cabras, 40 chibatos (bodes) - 3) - Fazenda Missão - 1.435 vacas de cria, 445 bois, 134 éguas, 43 cavalos, 50 cabras e 37 chibatos. 4) - Fazenda Pitinga - 238 vacas de cria. Resumindo tudo a termos práticos, teremos: a) - 4.709 cabeças de gado vacum; b) - 270 cavalos e éguas; c) - 150 cabras e chibatos, o que daria em valores atualizados, só em cabeças de gado vacum, considerando o valor de R$ 1.500,00 por cabeça a bagatela de mais de R$ 7.000.000,00 (sete mihões de reais): Esse era o tesouro dos Jesuítas, e não ouro que teria sido enterrado no piso da matriz, como se fez divulgar posteriormente e que provocou uma corrida em torno de botijas! http://mfrural.com.br/produtos.asp?categoria3=518&nmop=Animais-Bovinos-de-Leite-Gir-Leiteiro
Esses bens foram rateados entre vários elementos que foram o braço operacional da expulsão dos jesuítas, Juízes, índios mestres-de campo, padres diocesanos. Ou seja o tesouro dos bens jesuíticos, que na verdade eram os bens dos índios reduzidos, foram confiscados de forma imoral por uns poucos, ou de forma mais precisa:Para nossa Senhora da Assunção: 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos;Para o vigário Padre Luís do Rego Barros - 52 vacas, 6 bois, 25 éguas, 3 cavalos e 10 chibatos;Para dois padres coadjutores Pe José Machado Freire e Francisco Ferreira da Silva: 80 vacas, 12 dois, 40 éguas e 6 cavalos;Ao Diretor dos índios Diogo Roiz Correia: 8 bois, 2 éguas, 2 cavalos;Para o Mestre de Campo dom Felipe de Sousa Castro (que era um índio): 80 vacas, 10 éguas e 3 cavalos;Para os três Capitães-Mores: 72 vacas, 15 éguas e 6 cavalos;Para o Sargenro-Mor Antonio da Rocha Franco: 16 vacas, 4 éguas e 1 cavalo;Para os 15 Capitães: 180 vacas, 30 éguas e 15 cavalos; Para 2 ajudantes e um tenente: 24 vacas, 3 éguas;Para os dezoito Alferes: 108 vacas, 18 cavalos;Para 18 Sargentos: 36 vacas.Aos olhos de hoje isso pode parecer pouco, diante do desenvolvimento agropecuário da atualidade, mas naqueles idos tempos isso era um grande patrimônio. Note-se que até uma cadela vira-lata era elencada nos bens ao lado de um escravo.Nessa rapinagem os donos do patrimônio coletivo – os índios - não herdaram absolutamente nada, somente a miséria, o desamparo e a escravidão para aquele senhores recém-criados. As terras igualmente foram divididas na mesma proporção somente a Fazenda Tiáia foi adjudicada à Coroa portuguesa.
Há indícios – a historiografia oficial não registra – que muitos índios moradores da redução foram escravizados ou vendidos, em forma de contrabando para outras localidades, mulheres e crianças foram seviciadas e muitos fugiram diante das arbitrariedades dos novos poderosos, sem terem a quem recorrer nessas terras da injustiça.E nossa Senhora da Assunção, com suas 600 vacas, 70 éguas, 13 cavalos e algumas léguas de terra, permaneceu do alto de seu trono, por já 401 anos, impávida, calada... quando os seus filhos, lá em baixo, espoliados, cantam-lhe ainda: “Virgem Santa da Assunção, Nossa Mãe e Padroeira. Dá-nos vossa proteção, sede nossa vanguardeira”!
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