quarta-feira, 15 de outubro de 2025

 DONA ANTONIA DE ALBUQUERQUE (SÉCULO XVI – SÉCULO XVII) E SUA DESCENDÊNCIA NO SERTÃO DO CEARÁ



Por Washington Luiz Peixoto Vieira*

D. Antonia de Albuquerque foi uma das figuras centrais da nobreza colonial nordestina, filha de Jerônimo de Albuquerque, nascido em Lisboa, Portugal, em 1510 e falecido em Olinda, Pernambuco, Brasil, em 25 de dezembro de 1574,  conhecido como o “Adão Pernambucano”, e de Maria do Espírito Santo Arcoverde,  nome cristão de  Muyrã-Ubi, nascida em Pernambuco por volta de 1510, e falecida em Olinda, em 1558,  filha de Ubira Abi, que significa Arcoverde, Cacique dos Tabajaras,  ambos pertencentes à principal estirpe da aristocracia de Pernambuco. Sua vida se insere no contexto do Brasil colonial, período em que as famílias fidalgas consolidavam suas posições políticas, econômicas e sociais por meio de alianças matrimoniais estratégicas.[1]

Nos registros genealógicos mais antigos — como os de Pereira da Costa, Frei Jaboatão, Anselmo Braamcamp Freire e a Nobiliarquia Pernambucana —, D. Antonia de Albuquerque aparece entre as filhas mais velhas do casal, geralmente em terceiro ou quarto lugar na ordem tradicionalmente aceita dos filhos legítimos de Jerônimo. Quanto ao número de filhos, sugeridos pelos genealogistas, o número é variado, de forma que no site FamilySearch são listados 16 filhos, [2] e em listagem clássica apenas 8, desta forma, neste artigo, optei pelo listado em maior número, conforme segue:
1. Catharina de Albuquerque (1540–1614);
2. Anna de Albuquerque (1541);
3.Cosme de Albuquerque (1543);
4.Beatriz de Albuquerque, (1547);
5. Maria de Albuquerque (1549);
6. Simoa de Albuquerque (1550);
7. Brites de Albuquerque (1554);
8. Pedro de Albuquerque (1555);
9. Manoel de Albuquerque (1543);
10.André de Albuquerque (1545);
11. José de Albuquerque (1545);
12. Jeronymo de Albuquerque Maranhão (1548);
13. Antonia de Albuquerque (1550, depois de 1593);
14. Mathias de Albuquerque (1551);
15. Joanna de Albuquerque (1552) e;
16. Adriana de Albuquerque (1552).

DONA ANTONIA

No capítulo V, da Nobiliarquia Pernambucana, que trata de  D. Antonia de Albuquerque e da sua successão, assim diz:

"Antonia de Albuquerque, filha de Jeronymo de Albuquerque e de D. Maria do Espírito Santo Arcoverde, inda vivia no anno de 1593, como consta de uma escriptura feita a 24 de Abril do dito anno, da qual consta que já era viúva.
Casou com Gonçalo Mendes Leitão, irmão de Pedro Leitão, segundo Bispo do Brasil, que tomou posse em 24 de Dezembro de 1559.
Este Gonçalo Mendes Leitão foi o que fez a primeira Capella de Santo Antonio de Paratibe, e diz a tradição que seu irmão a sagrara.
Se assim foi, com a entrada dos Hollandezes se arruinaria, e também pode ser que por irião a benzer quando se findou, levantasse o povo essa tradição.
Deste matrimonio nasceram os filhos seguintes:
— Gonçalo Mendes Leitão.
— Jeronymo Leitão, de que não há successão.
— Jorge Leitão de Albuquerque, que segue.
— D. Joanna de Albuquerque.
— D. Catharina de Albuquerque.
— D. Maria de Albuquerque." 

Ela se destaca por ter sido a que manteve, através de seu casamento com Gonçalo Mendes Leitão, uma das linhagens mais documentadas e duradouras dos descendentes de Jerônimo — sendo, portanto, um dos ramos centrais da descendência nobre e troncal dos Albuquerque no Brasil.

Ainda viva em 1592-1593, D. Antonia já era viúva quando os registros oficiais a mencionam, evidenciando sua presença ativa na administração de sesmarias e na preservação do patrimônio familiar.

De sua descendência com Gonçalo Mendes Leitão, cavaleiro fidalgo da Casa Real que se origina uma linhagem  que se espalhou pelo sertão pernambucano e pelo sul do atual Ceará, consolidando a presença da família Albuquerque entre as principais linhagens do Nordeste colonial.

A influência de D. Antonia de Albuquerque transcendeu sua própria geração, pois sua descendência se entrelaçou com famílias como Barbosa, Leitão, Correia, Melo Falcão, Marreiros e Teixeira Mendes — esta última através de seu bisneto, o Capitão Antônio de Melo Falcão, pai de Maria Catarina Sebastiana de Arendes, que casou com Manoel Alexandre Teixeira Mendes. Por esse enlace, o sangue dos Albuquerques permaneceu no centro das elites rurais e urbanas da região.

Por meio de sua sucessão, D. Antonia tornou-se uma ancestral-chave, cujos descendentes desempenharam papéis relevantes na administração, na milícia e na sociedade colonial, perpetuando o legado de uma das mais antigas e prestigiadas famílias do Nordeste brasileiro.

A DESCENDÊNCIA NO SERTÃO DO CEARÁ

Para compreender os vínculos de sua linhagem com o sertão cearense, especialmente com a vila de Icó, destaca-se a figura de:

Antônio de Melo Falcão, nascido em 1697, no Cabo de Santo Agostinho (PE), e falecido em 20 de setembro de 1780, na mesma localidade. Era filho do Capitão Luiz Marreiros de Sá e de Dona Juliana de Oliveira, senhores do Engenho Megaípe de Baixo, sob a invocação de São Felipe e São Tiago, em Jaboatão dos Guararapes (PE).

Detinha a patente de Capitão de Ordenanças, posto que designava o oficial responsável pelo comando das tropas locais nas vilas e freguesias do Brasil colonial entre os séculos XVI e XIX. Essa função o levou à Capitania do Ceará, onde se estabeleceu em Icó, vivendo com Dona Maria José de Brito Fiúza, com quem teve três filhos conhecidos:

Maria Catarina Sebastiana de Arendes (casada com Manoel Alexandre Teixeira Mendes)

Domingos Coelho Meireles Júnior (que conservou o nome paterno como aditivo)

Capitão Luís Marreiros de Melo, assassinado em Quixeramobim, em data não determinada.

O quinto avô de Antônio de Melo Falcão foi Luiz de Marreiros (1675–1744), casado com Brites de Albuquerque de Merlis, filha de Marcos de Barros Correia e D. Margarida de Melo — tataraneta (5ª geração) de Jerônimo de Albuquerque e D. Maria do Espírito Santo Arcoverde.

Por este matrimônio, essas famílias — parentes desde os tempos de Duarte Coelho Pereira — criaram uma nova árvore genealógica, unindo os ramos Marreiros, Melo Falcão e Teixeira Mendes, cujos descendentes foram fundamentais na ocupação e formação social do sertão do Ceará.

NOTAS:

[1]
Casamentos de Jerônimo de Albuquerque:
Jerônimo de Albuquerque, teve duas uniões principais: a primeira, com a índia Maria do Espírito Santo Arcoverde, filha do cacique Arcoverde, da qual nasceram oito filhos legitimados por D. Sebastião em 1561; e a segunda, em 1562, com Felipa de Melo e Sampaio, nobre portuguesa, filha de D. Cristóvão de Melo, casamento imposto pela rainha D. Catarina para regularizar sua situação conjugal. Teve ainda outros filhos naturais reconhecidos, somando cerca de 24 descendentes. Essas uniões uniram linhagens europeias e indígenas, originando a elite mestiça do Nordeste colonial.

[2] 

REFERÊNCIAS:

1. Fontes primárias:

JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. *Novo Orbe Seráfico Brasílico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil.* Lisboa: Oficina de Francisco Luís Ameno, 1761.

LIVRO das Sesmarias da Capitania de Pernambuco (1550–1650). Recife: Arquivo Público Estadual de Pernambuco (APEJE).

TESTAMENTO de Jerônimo de Albuquerque. In: JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. *Novo Orbe Seráfico Brasílico.* Lisboa: Oficina de Francisco Luís Ameno, 1761.

CARTAS e documentos de Duarte Coelho Pereira. Lisboa: Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), séc. XVI.

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2..Genealogias e nobiliárquicas clássicas

COSTA, Francisco Augusto Pereira da. *Anais Pernambucanos.* 10 vols. Recife: Tipografia do Jornal do Recife, 1882–1895.

FREIRE, Anselmo Braamcamp. *Brasões da Sala de Sintra.* Lisboa: Imprensa Nacional, 1921.

OLIVEIRA, Bento José de. *Nobiliarquia Pernambucana.* Recife: Typographia Mercantil, 1856.

MELLO, José Antônio Gonsalves de. *Gente da Nobreza de Pernambuco.* Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1981.

SILVA, Rodolfo Garcia da. *Genealogia Pernambucana: Famílias Coloniais.* Rio de Janeiro: Gráfica Lux, 1935.

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3..Estudos históricos e regionais

CASCUDO, Luís da Câmara. *Dicionário do Folclore Brasileiro.* Rio de Janeiro: Edições Itatiaia, 1983.

MELO, Evaldo Cabral de. *O Norte Agrário e o Império (1871–1889).* Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.

GIRÃO, Raimundo. *O Ceará e os Cearenses.* Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959.

VIANA, Hélio. *História do Brasil Colonial.* São Paulo: Melhoramentos, 1970.

BARRETO, Gustavo. *Famílias Troncais do Sertão Nordestino.* Fortaleza: Edições UFC, 2004.

MEDEIROS, Clóvis de. *Famílias Tradicionais do Sertão.* Natal: EDUFRN, 1995.

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4..Fontes arquivísticas

ARQUIVO PÚBLICO ESTADUAL DE PERNAMBUCO (APEJE). *Coleção de Documentos Coloniais: Pernambuco (1550–1700).* Recife: APEJE, s.d.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU). *Catálogo das Capitanias do Brasil – Pernambuco, 1530–1620.* Lisboa: AHU, s.d.

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6..Pesquisa contemporânea

VIEIRA, Washington Luiz Peixoto. *D. Antonia de Albuquerque e sua descendência no Sertão do Ceará.* Pesquisa inédita, 2025.



* Washington Luiz Peixoto Vieira é pesquisador e escritor. dedica-se ao estudo da memória urbana e das transformações sociais e culturais do Nordeste. É descendente da biografada através de Maria Cataria Sebastiana de Arendes (Melo Falcão) Esse é um texto inédito do livro Gente do Ceará - IBSN: 978-65-01-28119-3.

 

Texto atualizado em 16.10.2025.

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