‘‘Pedro da Rocha Franco foi casado com d. Vitória Rodrigues Câmara, que em 1787 ainda existia. Dizem que esta moça fora produto dos amores da filha de um principal da Ibiapaba (Dom Filipe), e fora criada no hospício dos padres jesuítas como enjeitada. Seu protetor, um dos padres, não querendo casá-la com os da terra (índios ou mestiços), foi a Portugal, donde trouxe-lhe Pedro da Rocha para esposo. O casamento de d. Vitória deve ter sido feito de 1715 a 1716. (....) Acreditável se torna o fato de Rocha Franco ter vindo de encomenda para casar com d. Vitória, pela crítica que inda hoje se faz aos antigos portugueses dali, dizendo-se que eles, no rol das mercadorias que pediam para Portugal, pediam igualmente noivos para casarem com as filhas.’’ ¹
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A história nos reserva surpresas. O silêncio dos séculos com seus véus nos encobre verdades, que estavam ali, bem ali, em baixo do nossos narizes, mas longe da nossa vista. É assim que surge Dona Victória Rodrigues da Câmara. que seria filha do padre Ascenço Gago, SJ (1665 - 1716) com uma filha de Dom Felipe de Sousa Castro. A matriarca de várias famílias que povoam a região norte do Ceará. Vários de nós deveríamos tomar a benção a essa mulher nascida no final do Século XVII, ela foi a nossa avó comum.
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Ascenço Gago. nasceu em São Paulo no ano de 1665. Ingressou na Companhia de Jesus, na Bahia, a 3 de julho de 1680, com 15 anos de idade, tendo morrido em 17 de maio de 1717, aos 51 anos, na Bahia, quando voltava da capitania do Ceará, já adoentado.
.Para cumprir a ordem régia expedida no sentido de por em prática a resolução de 1691, que relativa a administração dos “gentios”. Tal ordem retirava parte dos índios brasileiros reduzidos dos padres seculares e os punha sobre a autoridade de várias ordens e congregações, tais como Franciscanos, Capuchinhos, Carmelitas, Oratorianos e Jesuítas, dentre outros. Assim seguiram os missionários em direção às terras do Siará Grande, sendo designados para o Aldeamento da Ibiapaba, nas fronteiras da Província do Maranhão. Os jesuítas Ascenso Gago e Manoel Pedroso reiniciaram a Missão da Ibiapaba, abandonada em 1662. Além das questões “espirituais” Ascenço Gago viria a ser o implantador dos primeiros currais de gado no Piauí e norte do Ceará, na região do vale do lambedouro e quatiquaba. E recebera em Sesmaria as terras da Buhyra, próximo à ladeira do Rio Obary (Ubari), que mais tarde os seus descendentes habitariam.
Á época os principais líderes na região eram os índios Dom José de Sousa Castro, Cavaleiro da Ordem de São Tiago, com título recebido pelo Rei D. João V (1689/1750). Nomeado que foi em face “ao ardor militar excede o pio e católico, que lhe inflama o coração, sendo ao mesmo tempo capitão e catequista, igualmente vigilante e aumentar o Estado para o seu príncipe, como para estender o Império para Cristo” e seu filho dom Felipe de Sousa Castro, igualmente agraciado com o título de “Dom”. Esses homens lideravam mais de dez mil guerreiros, diz-se.
Assim, pois os padres Jesuítas achegaram-se à Ibiapaba e foram acolhidos pelos dois nobres índios, que em parte já eram cristianizados. À seu modo, mas eram.
“ No curso dos anos, entre 1605 e início de 1700, permaneceu na Ibiapaba o padre Manuel Pedroso Júnior. Ascenço Gago, transferido da sede da Capitania para o reduto ibiapabano (1705), resolveu deixar o seu colega onde já se encontrava e desceu em busca das terras agropastoris do sertão, onde deveria prover os meios de sustentação próprios dos nativos e da Companhia. Seria desenvolver, através do trabalho remunerado indígena (diária de um tostão), a pecuária e a agricultura, contando para tanto com as doações territoriais e as liberalidades beneméritas dos fazendeiros já estabelecidos”.
A tradição nos fez chegar até os dias atuais que uma das filhas 2 de dom Felipe de Sousa Castro ² teve uma relação com o padre Ascenço Gago, Muito provavelmente essa relação surgiu da grande hospitalidade indígena de oferecer aos hóspedes e visitantes as suas próprias mulheres e filhas. Recusar à oferta era ofensa grave aos indígenas! Se assim o foi, e somente as brumas do tempo são capazes de testemunhar, nascera a menina Victória. Que a história conhecerá como Victória Rodrigues da Câmara.
Conta-nos ainda a tradição, todavia com pistas já confirmadas pelos genealogistas atuais que Victória Rodrigues da Câmara, foi criada pelo padre Ascenço, alegando ser a mesma sua “sobrinha”. As estórias mais pias narram que “Vitória foi deixada na residência dos missionários jesuítas, como enjeitada. Criada sob os cuidados do padre Ascenso Gago, a menina adquiriu esmerada educação, fazendo-se moça fina e prendada. Quando chegou à idade de casar, o padre Ascenso Gago arranjou-lhe um noivo português. O rapaz chamava-se Pedro da Rocha Franco, que se tornaria Capitão-Mor da Comarca de Granja.
.Para cumprir a ordem régia expedida no sentido de por em prática a resolução de 1691, que relativa a administração dos “gentios”. Tal ordem retirava parte dos índios brasileiros reduzidos dos padres seculares e os punha sobre a autoridade de várias ordens e congregações, tais como Franciscanos, Capuchinhos, Carmelitas, Oratorianos e Jesuítas, dentre outros. Assim seguiram os missionários em direção às terras do Siará Grande, sendo designados para o Aldeamento da Ibiapaba, nas fronteiras da Província do Maranhão. Os jesuítas Ascenso Gago e Manoel Pedroso reiniciaram a Missão da Ibiapaba, abandonada em 1662. Além das questões “espirituais” Ascenço Gago viria a ser o implantador dos primeiros currais de gado no Piauí e norte do Ceará, na região do vale do lambedouro e quatiquaba. E recebera em Sesmaria as terras da Buhyra, próximo à ladeira do Rio Obary (Ubari), que mais tarde os seus descendentes habitariam.
Á época os principais líderes na região eram os índios Dom José de Sousa Castro, Cavaleiro da Ordem de São Tiago, com título recebido pelo Rei D. João V (1689/1750). Nomeado que foi em face “ao ardor militar excede o pio e católico, que lhe inflama o coração, sendo ao mesmo tempo capitão e catequista, igualmente vigilante e aumentar o Estado para o seu príncipe, como para estender o Império para Cristo” e seu filho dom Felipe de Sousa Castro, igualmente agraciado com o título de “Dom”. Esses homens lideravam mais de dez mil guerreiros, diz-se.
Assim, pois os padres Jesuítas achegaram-se à Ibiapaba e foram acolhidos pelos dois nobres índios, que em parte já eram cristianizados. À seu modo, mas eram.
“ No curso dos anos, entre 1605 e início de 1700, permaneceu na Ibiapaba o padre Manuel Pedroso Júnior. Ascenço Gago, transferido da sede da Capitania para o reduto ibiapabano (1705), resolveu deixar o seu colega onde já se encontrava e desceu em busca das terras agropastoris do sertão, onde deveria prover os meios de sustentação próprios dos nativos e da Companhia. Seria desenvolver, através do trabalho remunerado indígena (diária de um tostão), a pecuária e a agricultura, contando para tanto com as doações territoriais e as liberalidades beneméritas dos fazendeiros já estabelecidos”.
A tradição nos fez chegar até os dias atuais que uma das filhas 2 de dom Felipe de Sousa Castro ² teve uma relação com o padre Ascenço Gago, Muito provavelmente essa relação surgiu da grande hospitalidade indígena de oferecer aos hóspedes e visitantes as suas próprias mulheres e filhas. Recusar à oferta era ofensa grave aos indígenas! Se assim o foi, e somente as brumas do tempo são capazes de testemunhar, nascera a menina Victória. Que a história conhecerá como Victória Rodrigues da Câmara.
Conta-nos ainda a tradição, todavia com pistas já confirmadas pelos genealogistas atuais que Victória Rodrigues da Câmara, foi criada pelo padre Ascenço, alegando ser a mesma sua “sobrinha”. As estórias mais pias narram que “Vitória foi deixada na residência dos missionários jesuítas, como enjeitada. Criada sob os cuidados do padre Ascenso Gago, a menina adquiriu esmerada educação, fazendo-se moça fina e prendada. Quando chegou à idade de casar, o padre Ascenso Gago arranjou-lhe um noivo português. O rapaz chamava-se Pedro da Rocha Franco, que se tornaria Capitão-Mor da Comarca de Granja.
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Sobre essa história noticia-nos Serafim Leite, in História da Companhia de Jesus que houveram acusações contra o Padre Ascenço Gago: " Que o padre Ascenso Gago chegou adotar com doze ou quinze mil cruzados uma filha que casou, cujo dinheiro se ajuntou por meio dos índios que em seu serviço o ganharam, carregando sal para o Piauí a troco de vacas com que povoou vários sítios. Sabendo como a Companhia afasta inexoravelmente do seu seio quem por infelicidade prevarica nesta matéria, procuramos seriamente se a acusação teria algum fundamento. Achamos que o padre tinha na capitania do Ceará quatro sobrinhas. Di-lo uma carta do próprio padre, pedindo isenção para elas dos dízimos em terras que possuíam de sesmaria (Carta do padre Ascenso Gago, de 5 de março de 1702. Concederam-na em Lisboa, em 1704, por uma vida"
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Em Notícia Histórico-Corográfica da Comarca de Granja, pelo padre Vicente Martins, (Rev. do Inst. do Ceará, XXVI, 1912, 174): "O capitão-mor Pedro da Rocha Franco casou-se com uma moça educada pelo padre Ascenso Gago, de cujo casamento teve muitos filhos, os quais se estabeleceram em diversos pontos, a saber: Pedras de Fogo, Ibuaçu, Viçosa e outros. Mais uma vez a calúnia transformava em filhas as sobrinhas ou educandas. Nesta data já não existia o padre Ascenso Gago para pessoalmente desmentir ou castigar a calúnia. Tinha falecido a 17 de maio de 1717, no caminho, indo da Ibiapaba para a Bahia.’’ (3) Padre SERAFIM LEITE, obra citada, tomo III, págs. 68/69. A defesa do padre Vicente é um tanto falaciosa, pois esquecera-se dos inúmeros eclesiásticos, tais como os padres José Beviláqua (1844-1905), Felipe Benício Mariz (1780-1850), que deixaram numerosa prole em Viçosa e descendentes em Granja, devidamente reconhecidos e registrados como filhos e filhas, naturais ou legítimos, cujas relações amorosas eram conhecidas e aceitas pela sociedade de então.
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Fato é que dª Victória existiu e da qual nasceram vários filhos e filhas, dentre esses Ana Maria Rodrigues da Câmara, que viria a se casar com o português Antônio Ferreira Alvarenga, de cujo casal nasceu Genoveva Rodrigues da Câmara e ainda Clara Maria Rodrigues, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Dª Genoveva Rodrigues da Câmara, que foi a primeira esposa de João Álvares Passos, 5ª avó do autor desse texto e da qual o seu avô ainda guardava referências, e a matriarca de todos os Vieira e Passos de ascendência em Viçosa do Ceará.
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Dª Clara Maria Rodrigues, neta de Dª Victória, que casou com Antonio Vaz dos Santos. Deste último casal foram: Ana Joaquina do Rosário, que casou-se com Guilherme Fontenele e Maria Antonia dos Santos, que casou com Plácido Fontenele.
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O primogênito de dª Victória, Antonio da Rocha Franco, que casou com Caetana Josefa Maria de Jesus, de onde procede dª Felicidade da Rocha Franco que casou-se com o coronel Antonio de Caldas Ferreira, com grande descendência em Viçosa.
Outros filhos e filhas de Victória e Pedro foram casadas e se estabeleceram nos sertões do Piauí, da Granja e distribuíram-se em várias sesmarias, particularmente no vale do Lambedouro, onde se desenvolveu a agropecuária bovina, naqueles vales férteis.
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Dê-me a tua benção, Vovó Victória!
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FONTES:
Revista do Instituto do Ceará,Por Instituto do Ceará,Publicado 1955, Observações do item: vol. 69
SIQUEIRA, José Otávio
SIQUEIRA, José Otávio
Miranda, Vicente, Três Séculos de Caminhada. Teresina, 2001 534
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus.
Antônio Batista Fontenele, A Marcha do Tempo (os Fontenele
ANTÔNIO BATISTA FONTENELE, A Marcha do Tempo (os Fontenele), Imprensa
Oficial do Ceará, 1981, pág. 66.
J. HENRIQUE, O Capitão-mor Pedro da Rocha Franco, in ‘‘Revista do Instituto do
Ceará’’, vol. 36, 1922, págs. 392/393.
Oficial do Ceará, 1981, pág. 66.
J. HENRIQUE, O Capitão-mor Pedro da Rocha Franco, in ‘‘Revista do Instituto do
Ceará’’, vol. 36, 1922, págs. 392/393.
ARAÚJO, F. Sadoc de, Cronologia sobralense , Fortaleza : Gráfica Editorial Cearense. 1974.
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1. João Otávio de Siqueira. in Viçosa do Ceará - Notícias Esparsas;
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2. A filha pode significar uma familiar do Cacique, que certamente eram muitas e inclusive uma de suas próprias mulheres, uma vez que a bigamia não era proibida entre os indígenas, e inclusive esse foi um dos principais problemas encontrados pelos padres, que pregavam a castidade e da monogamia, o que nunca conseguiram.
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3. Pela idade cronológica suponho que o índio de quem descendia a mãe de Victória fosse dom José de Sousa Castro, uma vez que o filho Felippe de Sousa Castro ainda estará vivo e ativo e relativamente jovem (?), inclusive participando do governo da Villa Viçosa Real, em 1759. Em 1706, quando possivelmente Victória estaria com uns 15 ou 20 anos de idade (idade casadoura na ótica lusitana) e dom Felipe teria também a mesma idade de Victória. Daí presupor que Victória era irmã de d. Felipe e filha de d. José, esse contemporâneo do padre Ascenço Gago (1668), que no seu "ardor juvenil" a teria concebido. Porém se o casamento oconteceu em 1715/16 há toda a possibilidade da mesma ser filha de Felipe, hipótese que pode ser a mais real haja visto que em 1787 a mesma ainda existia, como afirma".
4. Constam como doações em Sesmaria lotes em nome de Ascenço Gago -Ibuaçu, Victória Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706 e Úrsula Rodrigues Câmara - Riacho do Una - 1706.
O padre Ascenço, como bom pai não deixou suas "afilhadas" desamparadas .http://www.secrel.com.br/usuarios/aragao/granja.htm.
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Imagem meramente ilustrativa: Mulher Mameluca. Albert Eckhout, 1653.
TEXTO E PESQUISA DE WASHINGTON LUIZ PEIXOTO VIEIRA, COM DIREITOS AUTORAIS NA FORMA DA LEI Nº 9.610/98- SE COPIAR CITE A FONTE
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